Crueldade Viral que Choca o Brasil: O Caso do Cavalo Mutilado Após Exaustão e os Direitos dos Animais

Casos recentes de maus-tratos chocam o Brasil: cavalo mutilado após ser forçado a cavalgar 15 km morre por exaustão. Entenda as implicações legais, o princípio da senciência animal, os avanços no Rio de Janeiro e no país, além do histórico caso Tokinho, marco da jurisprudência animal.

PRISCILA GONZALEZ
20/08/2025 12h21 - Atualizado há 1 dia

Crueldade Viral que Choca o Brasil: O Caso do Cavalo Mutilado Após Exaustão e os Direitos dos Animais
Marcelo Müller

O Caso que Chocou Bananal: Mutilação de Cavalo Após Exaustão

Em Bananal, interior de São Paulo, um caso brutal de maus-tratos ganhou repercussão nacional: um cavalo foi forçado a cavalgar por cerca de 15 quilômetros em estrada de terra sob sol intenso, até cair de exaustão, sem qualquer assistência veterinária ou descanso adequado. O animal morreu no local após sofrer colapso físico causado pelo esforço extremo e pela negligência do tutor.

A violência não parou aí. Já sem vida, o cavalo teve duas patas amputadas e recebeu golpes de facão no abdômen, supostamente para facilitar o descarte do corpo em uma área de difícil acesso. O ato gerou ainda mais revolta, pois não apenas a exploração do animal resultou em sofrimento e morte, mas também a forma desumana e cruel com que o corpo foi tratado depois.

O autor, Andrey Guilherme Nogueira de Queiroz, admitiu o ato, alegando ter agido em um momento de “transtorno” após consumo de álcool. A repercussão foi imediata: ativistas como Luisa Mell e artistas como Ana Castela usaram as redes sociais para exigir justiça e penas exemplares, reforçando a mobilização popular contra os maus-tratos e a favor de leis mais severas.


Maus-Tratos e Implicações Legais no Brasil

A legislação brasileira considera os maus-tratos a animais crime previsto na Lei 9.605/1998 (Lei de Crimes Ambientais, art. 32). A pena pode variar de 3 meses a 1 ano de detenção, além de multa. Em caso de morte, a pena aumenta de 1/6 a 1/3.

Com a Lei 14.064/2020, os crimes contra cães e gatos passaram a ter punições mais severas:

  • Pena de 2 a 5 anos de reclusão (não mais detenção)

  • Multa e proibição de guarda de animais

  • O crime deixou de ser considerado de menor potencial ofensivo


O Caso Tokinho: Marco Histórico na Jurisprudência Animal

Em Ponta Grossa (PR), o caso do cão Tokinho marcou a história jurídica brasileira. Em 2023, a juíza Poliana Maria Cremasco Fagundes Cunha Wojciechowski reconheceu o animal como parte autora em processo contra seu ex-tutor por maus-tratos.

       Decisão inédita:

  • Tokinho foi indenizado em R$ 820 por danos materiais e R$ 5.000 por danos morais

  • Primeiro caso no Brasil a reconhecer um animal como sujeito de direitos processuais

  • Abriu precedente para que ONGs possam representar animais em ações judiciais

Esse caso dialoga com outro precedente importante do TJ-PR (2021), em que cães Spyke e Rambo foram reconhecidos como autores em ação judicial em Cascavel.


Reconhecimento da Senciência Animal: Brasil, Rio de Janeiro e Distrito Federal

O conceito de senciência animal — a capacidade de sentir dor, prazer e emoções — já é oficialmente reconhecido em diferentes níveis:

  • No Brasil (federal): o Ministério do Meio Ambiente adota o termo “senciência animal” em normas oficiais e uma comissão de juristas no Senado propôs atualizar o Código Civil para retirar os animais da categoria de “coisa”.

  • No Rio de Janeiro (Lei 8.493/2024): cães foram reconhecidos como seres sencientes, com sanções mais rigorosas para maus-tratos.

  • No Distrito Federal (Lei 7.535/2024): animais não-humanos foram reconhecidos como seres sencientes e sujeitos de direito, não podendo mais ser tratados como objetos.

  • Na bioética: a Declaração de Curitiba (Congresso de 2024) reforçou o entendimento de que animais não são objetos, mas seres com dignidade própria.


Direitos dos Animais em Evolução no Brasil

  • Reconhecimento jurídico da capacidade processual dos animais

  • Indenizações por danos morais e materiais

  • Proibição de guarda em casos de maus-tratos

  • Penas mais severas para crimes contra cães e gatos

  • Propostas legislativas no Congresso Nacional para ampliar a tutela jurídica de animais em todo o país


Implicações para a Medicina Veterinária

Nós, médicos-veterinários, somos peças-chave nessa transformação:

  • Laudos técnicos detalhados fortalecem ações judiciais

  • A medicina veterinária forense cresce como área especializada

  • Parcerias com ONGs de proteção animal tornam-se estratégicas

  • Ética e bioética devem guiar o exercício da profissão, considerando os animais como sujeitos de direito e seres sencientes


Conclusão: Da Crueldade Viral à Consciência Coletiva

O caso brutal do cavalo em Bananal (SP) e o histórico Caso Tokinho (PR) mostram que a luta contra os maus-tratos vai muito além da comoção: ela exige punições severas, mudanças culturais e evolução legislativa.

O reconhecimento da senciência animal no Brasil, Rio de Janeiro e Distrito Federal é um marco histórico e precisa ser fortalecido.

Proteger os animais é proteger a dignidade da vida. E a medicina veterinária está no centro dessa mudança, unindo ciência, ética e compaixão para construir um futuro em que cada ser vivo seja respeitado em sua plenitude.


Sobre o Autor

Dr. Marcelo Müller é médico-veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica, especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, bem-estar animal e atendimento veterinário domiciliar. Atua na promoção de saúde preventiva e integrativa, com foco no diagnóstico precoce, respeito à senciência animal e fortalecimento do vínculo entre pets e tutores. Autor do livro Meu Pet… Meu Mundo….


Instagram: @marcelomullervet
Site: marcelomullervet.com.br
Bio: marcelomullervet.my.canva.site/

 


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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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FONTE: Marcelo Müller
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