*Silvia Kelly Bosi
No universo da maternidade atípica, o amor vem acompanhado de uma carga emocional intensa e, muitas vezes, silenciosa. Quando uma mãe recebe o diagnóstico de que seu filho precisa de cuidados especiais, uma nova realidade se impõe: agendas lotadas de terapias, consultas, estímulos constantes e adaptações que mudam completamente o dia a dia. Em meio a tudo isso, uma questão essencial costuma ser deixada de lado — a saúde mental da mãe.
Falo não apenas como especialista, mas como alguém que vive essa experiência de forma muito pessoal. Sou mãe atípica, e foi justamente essa vivência que me motivou a me especializar em desenvolvimento infantil e autismo. Quis entender mais profundamente o universo da minha criança e, ao mesmo tempo, poder apoiar outras famílias que, assim como a minha, enfrentam desafios diários que nem sempre são visíveis aos olhos.
É muito comum que mulheres, ao se tornarem mães de crianças com necessidades atípicas, passem a viver em função dos filhos, colocando-se em segundo plano. No entanto, essa dedicação total e sem pausas cobra um preço. Quando a mãe está emocionalmente esgotada, isso afeta diretamente a qualidade do vínculo com o filho e, por consequência, o próprio desenvolvimento da criança.
O cansaço extremo, a culpa constante, a dificuldade de viver o presente com o filho e o funcionamento no "modo automático" são sinais claros de uma sobrecarga emocional. Esse desnivelamento afasta a mãe de si mesma, a impede de reconhecer suas próprias necessidades e, com o tempo, mina sua capacidade de sustentar uma rotina saudável.
Cuidar da saúde mental, portanto, não é um luxo nem um ato de egoísmo. É uma forma profunda e concreta de garantir uma presença afetiva verdadeira, uma conexão real com a criança. Não se trata apenas de estar ao lado do filho, mas de estar inteira para ele.
Algumas atitudes práticas podem fazer grande diferença na rotina dessas mães:
Neste contexto, minha reflexão é sobre a importância de estar presente de forma plena, com corpo e mente. Ao cuidar de si, a mãe atípica promove um ambiente mais saudável e seguro para o desenvolvimento do filho. Isso, sim, é um gesto potente de amor.
*Silvia Kelly Bosi é neuropsicopedagoga e especialista em desenvolvimento infantil e autismo. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
JÚLIA KLAUS BOZZETTO
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