Mães atípicas: por que cuidar da saúde mental é um ato de amor

JúLIA BOZZETTO
19/08/2025 21h45 - Atualizado há 2 dias

Mães atípicas: por que cuidar da saúde mental é um ato de amor
Raphael Barros
 

*Silvia Kelly Bosi

No universo da maternidade atípica, o amor vem acompanhado de uma carga emocional intensa e, muitas vezes, silenciosa. Quando uma mãe recebe o diagnóstico de que seu filho precisa de cuidados especiais, uma nova realidade se impõe: agendas lotadas de terapias, consultas, estímulos constantes e adaptações que mudam completamente o dia a dia. Em meio a tudo isso, uma questão essencial costuma ser deixada de lado — a saúde mental da mãe.

Falo não apenas como especialista, mas como alguém que vive essa experiência de forma muito pessoal. Sou mãe atípica, e foi justamente essa vivência que me motivou a me especializar em desenvolvimento infantil e autismo. Quis entender mais profundamente o universo da minha criança e, ao mesmo tempo, poder apoiar outras famílias que, assim como a minha, enfrentam desafios diários que nem sempre são visíveis aos olhos.

É muito comum que mulheres, ao se tornarem mães de crianças com necessidades atípicas, passem a viver em função dos filhos, colocando-se em segundo plano. No entanto, essa dedicação total e sem pausas cobra um preço. Quando a mãe está emocionalmente esgotada, isso afeta diretamente a qualidade do vínculo com o filho e, por consequência, o próprio desenvolvimento da criança.

O cansaço extremo, a culpa constante, a dificuldade de viver o presente com o filho e o funcionamento no "modo automático" são sinais claros de uma sobrecarga emocional. Esse desnivelamento afasta a mãe de si mesma, a impede de reconhecer suas próprias necessidades e, com o tempo, mina sua capacidade de sustentar uma rotina saudável.

Cuidar da saúde mental, portanto, não é um luxo nem um ato de egoísmo. É uma forma profunda e concreta de garantir uma presença afetiva verdadeira, uma conexão real com a criança. Não se trata apenas de estar ao lado do filho, mas de estar inteira para ele.

Algumas atitudes práticas podem fazer grande diferença na rotina dessas mães:

  • Construa uma rede de apoio: conte com profissionais da equipe multidisciplinar, familiares e amigos que acolham sem julgamento.
     
  • Participe de grupos online ou presenciais: trocar experiências com outras mães reduz a solidão e cria um espaço de identificação e suporte.
     
  • Busque terapia: o acompanhamento psicológico ajuda a reorganizar as emoções, elaborar expectativas e criar novas estratégias de enfrentamento.
     
  • Não se cobre tanto: respeite seu ritmo e celebre pequenos avanços.
     
  • Tenha com quem contar: escolha bem quem estará ao seu lado — uma escuta ativa pode transformar dias difíceis.
     
  • Evite o isolamento: pedir ajuda é um gesto de coragem, não de fraqueza.
     

Neste contexto, minha reflexão é sobre a importância de estar presente de forma plena, com corpo e mente. Ao cuidar de si, a mãe atípica promove um ambiente mais saudável e seguro para o desenvolvimento do filho. Isso, sim, é um gesto potente de amor.

*Silvia Kelly Bosi é neuropsicopedagoga e especialista em desenvolvimento infantil e autismo.

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JÚLIA KLAUS BOZZETTO
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