Brasil envelhece, e a catarata desafia a saúde pública

Agenor Santana
30/07/2025 18h40 - Atualizado há 17 horas

Brasil envelhece, e a catarata desafia a saúde pública
Divulgação

Por Henock Altoé, médico oftalmologista**

 

O Brasil de 2025 observa atentamente os efeitos do envelhecimento acelerado de sua população. A longevidade, celebrada como conquista social, traz consigo um novo desafio: o aumento expressivo de doenças oculares, em especial a catarata. Hoje, mais de 600 mil brasileiros aguardam por uma cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS), segundo dados do Ministério da Saúde, tornando esse o procedimento oftalmológico mais requisitado da rede pública.

 

A fila, que cresce rapidamente, não é consequência apenas do envelhecimento populacional. A catarata, condição quase inevitável com o avanço da idade, demanda um tratamento relativamente simples, de baixo risco e realizado por meio de cirurgia. A tecnologia, grande aliada da oftalmologia, tem revolucionado esse cenário globalmente, reduzindo o tempo do procedimento e acelerando significativamente a recuperação pós-operatória, com índices de complicações quase inexistentes.

 

Contudo, apesar do cenário promissor no campo tecnológico, a catarata continua comprometendo a qualidade de vida de milhares de pessoas no país. A fila para cirurgias, principalmente no sistema público, cresce de forma exponencial — reflexo não apenas do envelhecimento, mas também de desafios estruturais e logísticos persistentes na saúde pública. Uma gestão focada na identificação precoce da doença pode evitar o acúmulo de pacientes em busca de tratamento tardio. Dessa forma, o sistema poderá se organizar melhor para oferecer um atendimento eficaz e oportuno, acolhendo e cuidando da população brasileira no tempo certo.

 

Inovação

Enquanto isso, o mercado global de cirurgia de catarata vive um momento de efervescência. A tecnologia, como aliada, é poderosa. Exemplo disso é a facoemulsificação com laser de femtosegundo que reduziu o tempo da cirurgia para menos de 15 minutos, com riscos mínimos e recuperação mais rápida. Lentes intraoculares premium — como as multifocais e trifocais — não apenas restauram a visão, mas também corrigem problemas como astigmatismo e presbiopia, devolvendo ao paciente uma autonomia visual que parecia perdida.

 

Entretanto, o acesso a essas inovações ainda é desigual. No setor público, a maioria das cirurgias utiliza lentes monofocais básicas, enquanto as opções mais avançadas permanecem restritas ao setor privado ou exigem coparticipação dos pacientes. A lacuna entre o que é tecnicamente possível e o que é efetivamente acessível se amplia — e, com ela, cresce o risco de que milhares de idosos percam não apenas a visão, mas também sua independência.

 

O futuro da cirurgia de catarata no Brasil dependerá da capacidade de integrar tecnologia, gestão eficiente e políticas públicas inclusivas. Enxergar esse desafio com clareza é o primeiro passo para garantir que o envelhecimento da população não seja um fardo, mas uma etapa da vida vivida com dignidade e visão plena.


**Henock Altoé, médico oftalmologista, formado em Medicina pela Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória, se especializou em Oftalmologia pela Faculdade de Ciências Médicas da Santa Casa de São Paulo. Em 2012, teve seu título de especialista em Oftalmologia reconhecido pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia. Atualmente, como sócio da clínica AmpliVision, que conta com duas unidades, em Moema e Mooca, na capital paulista, realiza mais de 300 atendimentos mensais.


 

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