Por muito tempo, o futebol americano parecia um esporte distante para os brasileiros, elitizado, caro de praticar e restrito à TV a cabo. Mas agora a realidade começa a mudar, e um dos rostos dessa transformação é o ex-atleta, educador físico e comentarista Bruno Sapo, conhecido por desenvolver o Treino do Sapo (TDS), metodologia própria de condicionamento físico desenvolvida para pessoas comuns com base nos fundamentos do futebol americano. Ele se juntou ao time de talentos do canal oficial da NFL Brasil no YouTube, para um programa semanal.
O programa se chama Resenha Highlights e vai ao ar ao vivo todas às quartas. Nele, Bruno comenta os melhores momentos de todos os jogos do fim de semana, com aquele jeito que já virou marca: direto, técnico e acessível.
A relação de Bruno com o futebol americano foi construída ao longo de 12 anos como atleta profissional. Passou por times como Flamengo, Vasco, Fluminense, Seleção Carioca e Seleção Brasileira, até decidir encerrar a carreira dentro de campo em 2016, e se tornar preparador físico da seleção.
“Acho que não seria o profissional que sou hoje sem ter sido atleta, ter feito treino físico, vivenciado o que estudo. Sendo atleta aprendi três coisas que levarei sempre para a minha vida: disciplina, rotina e estudo. Desde pequeno vivo/sou esporte e quando tive que decidir de verdade o que queria seguir, nunca me vi fazendo nada diferente disso.”
E foram justamente essas raízes que fizeram Sapo se destacar como comentarista. Atualmente, Bruno exerce a função no NFL Gamepass, do DAZN, streaming de esportes. “Acredito que o fato de ser profissional de Educação Física, ter sido atleta e preparador físico da seleção me coloca numa posição muito privilegiada para comentar. Algumas situações do jogo só quem esteve lá dentro sabe como é.”
Com a temporada 25/26 prestes a começar e um jogo programado para acontecer no Brasil em setembro, a NFL vive um momento de expansão por aqui. Nos EUA já é um símbolo de cultura pop, mas por aqui, o esporte ainda enfrenta barreiras.
“Já tivemos momentos de muito hype, como o do Mundial de 2015 que tive o prazer de jogar, e momentos que esse hype não foi aproveitado para o crescimento do esporte. Agora estamos num momento muito bom: a NFL está cada vez mais presente no país, o Flag Football vai entrar nas Olimpíadas, e o campeonato nacional volta a ser unificado.”
Desafios raciais ainda marcam o futebol americano
Apesar do crescimento, ele não ignora o recorte racial e social que ainda estrutura o futebol americano no Brasil. “Ainda é um esporte muito caro de ser praticado. Quando o material tem alto custo, a tendência é a elitização. Isso se reflete no público. Os preços para o jogo da NFL não são acessíveis para muita gente, e durante anos os jogos eram só na TV paga.”
A crítica também atravessa a própria estrutura da liga americana. “Na NFL, a maioria dos jogadores são negros, mas temos pouquíssimos técnicos principais negros, menos ainda gerentes e quase nenhum dono. Isso precisa ser discutido com seriedade, tanto aqui quanto lá.”
Nos Estados Unidos, nomes como Colin Kaepernick (NFL) e Jaylen Brown (NBA) marcaram a história ao se posicionarem contra o racismo. No Brasil, Bruno vê movimento, mas ainda tímido. “Não acho que exista receio. Muitos jogadores se posicionam, principalmente em casos recentes de racismo. Mas talvez falte letramento racial para falar com propriedade. Num país preconceituoso e colonizado como o nosso, é fácil reproduzir falas preconceituosas. O futebol americano também sofre com isso.”
Preto, nerd, gamer e educador, Bruno Sapo também tem consciência do que representa ao ocupar um lugar central em uma liga global. “Pessoas negras precisam visualizar a personificação dos seus sonhos. Há um tempo, não existia estar na frente das câmeras. A gente ligava a TV e só via um tipo de pessoa ali. Hoje, ainda em minoria, já dá pra ver mais diversidade. Isso mostra pros adolescentes que é possível.”
TDS além das câmeras
Além da NFL, o TDS também segue a todo vapor, com alunos presenciais e online, e um novo braço: a mentoria para profissionais de educação física. “Essa ideia surgiu de outros profissionais me pedindo dicas de como eu fazia. Tanto para me posicionar, para estudar, como tinha alcançado tudo que alcancei. Muita gente sai da faculdade sabendo sim, sobre fisiologia e treinamento, mas quase nada sobre posicionamento, finanças e o principal: pessoas.”
O programa tem cinco encontros, com temas que vão de identidade profissional a escuta ativa, organização e ética. “Não é uma palestra. É uma troca real, baseada em tudo que vivi, estudei e aprendi. Eu quero que a pessoa saia com clareza sobre o caminho que quer trilhar.” O projeto já está em andamento e para se inscrever, basta entrar em contato pelas redes.
Mais informações sobre Bruno Sapo
www.instagram.com/brunorosa.sapo
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NATALIE IGGNACIO VASCONCELOS
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