“O futuro da saúde passa pela tecnologia”. Mas isso vale para o Brasil?

WESLEY SOUZA
31/07/2025 10h28 - Atualizado há 15 horas

“O futuro da saúde passa pela tecnologia”. Mas isso vale para o Brasil?
Marcos Chiodi, Country Manager da Marlabs. Foto: Divulgação
Por Marcos Chiodi**

A jornada de inovação digital na saúde já é uma realidade presente em diversos países, incluindo o Brasil. Segundo a pesquisa TIC Saúde 2024, desenvolvida pelo Comitê Gestor da Internet no Brasil, as instituições adotaram inúmeras ferramentas digitalizadas para as tarefas do dia a dia, como o registro dos dados dos pacientes. Em percentuais, 92% dos estabelecimentos possuem sistemas eletrônicos para essa finalidade. Nas Unidades Básicas de Saúde, esse índice saltou de 89% [na última pesquisa] para impressionantes 97%.


Por outro lado, apenas 23% dos médicos e enfermeiros realizaram algum tipo de capacitação em informática médica nos últimos 12 meses. Estes números revelam uma lacuna crítica: temos a infraestrutura, mas falta preparação profissional para aproveitá-la plenamente. O Brasil está atrás de países que iniciaram a jornada de transformação há muitos anos, inclusive com modelos avançados de inteligência artificial, como Canadá, Alemanha e Inglaterra.

Mesmo em fase de testes, a IA generativa é usada por 17% dos médicos e 16% dos enfermeiros brasileiros, de acordo com a TIC Saúde. A maior adesão é registrada por profissionais do setor privado (20% e 26%, respectivamente) comparado ao público (14% e 11%). 

Sabemos que essa tecnologia é capaz de criar resumos clínicos, notas médicas automatizadas e sugerir prescrições mais seguras ao cruzar dados clínicos dos pacientes. Então nesse sentido, a inteligência artificial ajuda os profissionais de saúde, se usada com responsabilidade.

Os dados da pesquisa também indicam que um terço dos estabelecimentos brasileiros oferece serviços online aos pacientes, como agendamento de consultas e resultados de exames. A adoção de sistemas eletrônicos é promissora, mas o verdadeiro potencial só será alcançado quando as informações conversarem entre si. A interoperabilidade de dados permitirá a continuidade do cuidado, redução de exames duplicados e visão integrada do histórico do paciente.

O que ainda precisa ser feito?

A tecnologia é aliada fundamental dos profissionais de saúde, sobretudo para automatizar processos burocráticos. Gestão de agendas, controle de estoques e preenchimento de prontuários são exemplos clássicos. O objetivo é liberar os atendentes para atividades que realmente exigem o cuidado humano.

É urgente expandir programas de formação em saúde digital, sobretudo no SUS. Por isso, um dos primeiros passos pode ser a aproximação dos postos de saúde com empresas de tecnologia, aproveitando expertise e recursos de ambos os setores. A criação de hubs especializados em saúde digital, conectando universidades e hospitais também é bem-vinda.

Para além dessas transformações, que dependem da atribuição de recursos públicos e privados, é fundamental reconhecer que o acesso à saúde no Brasil é referência para o mundo. Temos profissionais qualificados, instituições sólidas e um sistema público que atende toda a população.

O que precisamos agora é acelerar a adoção responsável dessas tecnologias, investir na capacitação dos profissionais e criar um ambiente regulatório que estimule a inovação. Com uso ético, é possível avançar para um modelo de saúde inteligente e centrado no paciente. 

*Marcos Chiodi é Country Manager da Marlabs, consultoria global especializada em serviços de inteligência artificial, TI e inovação personalizadas para empresas, mestre em Engenharia de Softwares, pela UFSCar, e autor de livros sobre gestão e tecnologia da informação.
 

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MARIA MARILEUDA DE AGUIAR SOUZA
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