Alimentos ultraprocessados: estamos diante de uma epidemia nutricional silenciosa?

Especialista alerta sobre o consumo excessivo de industrializados e o impacto na saúde física e mental de adolescentes

MARIANNE FLOINDO
20/05/2025 12h11 - Atualizado há 15 horas

Alimentos ultraprocessados: estamos diante de uma epidemia nutricional silenciosa?
https://www.feliciorocho.org.br/noticia/alimentos-processados-e-ultraprocessados
 

Salgadinhos, refrigerantes, bolachas recheadas, refeições congeladas. O que antes era exceção, hoje é parte da rotina alimentar de milhões de brasileiros, especialmente entre os mais jovens. Práticos, baratos e saborosos, os alimentos ultraprocessados tomaram conta das prateleiras e, consequentemente, dos hábitos alimentares, mas não sem consequências para a saúde.

Um levantamento brasileiro publicado em dezembro de 2024 na revista Nutrients, com mais de 15 mil participantes acompanhados por dez anos, revelou que o consumo frequente de ultraprocessados está diretamente ligado ao aumento de gordura abdominal, hipertensão, diabetes tipo 2 e doenças hepáticas. Também há evidências, dentro do próprio estudo, sobre o  impacto na saúde mental: pessoas que ingerem mais esses produtos têm maior risco de desenvolver ansiedade e depressão.

De acordo com a nutricionista Martha Amodio da Health Tech G7med, a explicação está na composição desses produtos: pobres em nutrientes essenciais e ricos em açúcares, gorduras, aditivos químicos e sódio. Essa combinação desequilibra o metabolismo, afeta a microbiota intestinal e interfere na produção de hormônios como leptina, grelina e cortisol, todos importantes para regular o apetite, o sono e o bem-estar.

Além disso, os dados do Atlas Mundial de Diabetes de 2025 reforçam a preocupação da nutricionista. Entre 2011 e 2024, o número de pessoas com diabetes no Brasil passou de 12,4 milhões para 16,6 milhões. São mais de 4 milhões de novos casos em apenas 13 anos, muitos deles ligados ao estilo de vida e à alimentação.

A especialista comenta que, nos consultórios, os reflexos já são analisados há muito tempo. Adolescentes apresentando queixas recorrentes de fadiga, baixa imunidade, dores de cabeça, alterações intestinais, oscilações de humor, coceiras, ansiedade e dificuldade de concentração. São sinais de alerta que os pais precisam observar, assim como o aumento de gordura abdominal e a recorrência de doenças ao longo do ano. “A alimentação afeta diretamente o sistema endócrino e o sistema nervoso. O corpo sente, e a mente também”, pontua a nutricionista.

O consumo regular de ultraprocessados na infância e adolescência também pode comprometer o crescimento e o desenvolvimento. Deficiências de vitaminas e minerais essenciais são capazes de antecipar ou retardar a puberdade, além de causar desequilíbrios hormonais que afetam o desempenho físico e cognitivo.

O que fazer?
Frear essa possível epidemia nutricional exige mudanças individuais e políticas públicas. No dia a dia, é possível fazer escolhas melhores: dar preferência a alimentos in natura e minimamente processados — como frutas, legumes, arroz, feijão, ovos e carnes frescas —, evitar refrigerantes, sucos artificiais e embutidos, cozinhar mais em casa e prestar atenção aos rótulos. A regra prática é simples: quanto mais ingredientes estranhos à sua cozinha, maior a chance de ser um ultraprocessado.

A classificação dos alimentos segundo o grau de processamento é dividida em quatro categorias. Os alimentos in natura são aqueles consumidos em seu estado natural, como frutas, verduras, ovos e carnes. Os minimamente processados incluem itens que passaram por alterações simples, como arroz, feijão e vegetais congelados. Já os processados envolvem alimentos que receberam sal, açúcar ou outros ingredientes culinários, como milho em conserva e pão caseiro. Por fim, os ultraprocessados são formulações industriais com muitos ingredientes e aditivos, como refrigerantes, sucos em pó, salsichas, nuggets e bolachas recheadas.

“É importante promover ambientes alimentares mais saudáveis, seja em casa, nas escolas, nos espaços públicos. É o primeiro passo para proteger a saúde das próximas gerações. Alimentação é investimento em saúde, e, quando falamos da saúde dos jovens, estamos falando do futuro do país”, conclui Martha.
 

Sobre Martha Amodio

Nutricionista com 27 anos de experiência, especializada em Nutrição Clínica e Funcional. É educadora em diabetes pela IDF/SBD/ADJ, coordenadora de nutrição da revista Momento Diabetes e membro do Departamento de Educação da Sociedade Brasileira de Diabetes. Atua em consultório com foco em diabetes, doenças autoimunes, intestino e microbiota, e já palestrou em mais de 20 congressos nacionais e internacionais.


 

Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
MARIANNE BEZERRA DA SILVA FLORINDO
[email protected]


Notícias Relacionadas »