HC reúne profissionais que defendem integração das ciências para cuidar de saúde mental
Mais de 200 profissionais debateram o papel da psiquiatria e suas interfaces com outros campos das ciências para o diagnóstico e tratamento da saúde mental
MARCUS VINíCIUS DE ARAUJO
20/05/2025 09h54 - Atualizado há 12 horas
Divulgação-MVA Comunic
São Paulo, maio de 2025 - O Instituto de Psiquiatria e o HCX da Faculdade de Medicina da USP promoveram neste sábado, dia 17 de maio, no Centro de Convenções Rebouças, em São Paulo, evento inédito sobre saúde mental envolvendo diversas áreas das ciências humanas para debater as “Interfaces da Psiquiatria”, com o intuito de fomentar o debate interdisciplinar entre psiquiatras e especialistas e incentivar o pensamento crítico sobre os modelos de diagnóstico e tratamento psiquiátricos. Para o médico psiquiatra Daniel Barros, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), e um dos coordenadores do encontro, o evento surpreendeu e engrandeceu o diálogo da psiquiatria com a sociologia, a antropologia, a filosofia e a psicologia. “O saldo foi extremamente positivo ao tratarmos de forma transversal as diferentes abordagens do cuidado da saúde mental e quem ganha com isso é o paciente e a sociedade”. Barros explica que hoje “há pessoas que estão sofrendo sem estar doentes e há muita gente que está doente sem saber que está doente e que necessita de tratamento”, diz o especialista. Barros acrescenta que “o sofrimento não é o sintoma de alguma coisa, mas ele é essencial para identificarmos a dor”, afirma. Também coordenador do evento, o médico psiquiatra Gustavo Castellana, do Instituto de Psiquiatria (IPq) da FMUSP, explicou que o cuidado dos transtornos mentais mereceu um debate aprofundado e transdisciplinar, abrangendo quatro grandes temas da psiquiatria: Sofrimento e doença mental; Autismo nas diferentes perspectivas; Vícios tecnológicos e Psiquiatria e antipsiquiatria, e foi conduzido por profissionais de diversas áreas. Ao abordar o papel da religião para aliviar o sofrimento, o teólogo e mestre em Ciências da Religião, Ed René Kivitz, pastor da Igreja Batista da Água Branca, em São Paulo, explicou a importância da prática pastoral “ao ajudar a pessoa que sofre a lidar com seus temores, frustrações, culpas e sofrimento. A força do intangível não deve ser desprezada”, diz. O psicanalista Christian Dunker, professor titular em Psicanálise e Psicopatologia do Instituto de Psicologia da USP, falou sobre o conceito do autismo e a categorização dos modelos de diagnósticos que em alguns casos hoje já estão superados como na tese sobre psicose na infância que hoje não existe mais. E questionou outras definições do espectro do autismo que estariam no limiar entre o normal e o patológico. Já o médico psiquiatra Hermano Tavares, professor do Departamento de Psiquiatria da FMUSP, que participou da mesa sobre Vícios Tecnológicos, explicou que o avanço da tecnologia da informação passou a ocupar todos os passos da vida humana de forma extraordinária e benéfica em muitas situações, mas o mau uso da tecnologia tem efeitos colaterais danosos. “A tecnologia é uma ferramenta, o problema é o uso que se faz dela”, diz. “Se a pessoa adulta ou adolescente usa a ferramenta de forma recorrente e inadequada até se tornar adicto daquele uso, evidentemente, haverá algum comprometimento no seu comportamento”, completa Tavares. Prevenção na psiquiatria A última mesa do evento Interfaces da Psiquiatria destacou o papel da Psiquiatria e a Antipsiquiatria nos quais os debatedores apresentaram um histórico da evolução da psiquiatria no País, abordando a situação calamitosa dos manicômios existentes nas décadas anteriores à implantação da Lei n. 10.216 que estabeleceu a reforma psiquiátrica. Para o professor Valentim Gentil Filho, médico psiquiatra e professor emérito da FMUSP, ex chefe do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, um dos debatedores da mesa sobre o assunto, o movimento da luta antimanicomial “era originalmente uma boa ideia, mas tornou-se anacrônico”. Para ele, a implantação dos CAPs (Centros de Atenção Psicossocial) não foi suficiente para atender a demanda e o fim dos leitos psiquiátricos resultou no abandono desses pacientes, especialmente os mais pobres, que sem os hospitais perambulam pelas ruas, sem nenhuma assistência na maioria dos casos. Havia a expectativa de que os CAPS fizessem o papel dos ambulatórios e das internações, mas isso não foi possível, porque os CAPS são instrumentos caros e dependem de equipes com formação para dar conta de emergências e de cronificações, explica o médico. Ele argumenta que os modelos assistenciais em psiquiatria e saúde mental devem priorizar a prevenção secundária efetiva (aquela em que, ao ser detectado um sintoma relevante, o paciente recebe diagnóstico precoce e intervenção eficaz) e a prevenção primária (dos elementos que precipitam as doenças e transtornos mentais). Ambas podem interromper processos mórbidos e degenerativos e reduzir a demanda por leitos hospitalares. “Infelizmente, quase nada se faz de prevenção primária em saúde mental e a prevenção secundária é ineficiente no Brasil e no mundo”, conclui o especialista. HCX – HCFMUSP Assessoria de Imprensa Beth Alves / F: (11) 99614-1890 /[email protected] Marcus Vinícius Araujo/ F: (11) 97054-6133/ [email protected] Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
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FONTE: Marcos Vinicius Araujo