Plano de Parto: o que considerar na hora de elaborar o seu?
Número de cesarianas dispara no Brasil e fica acima do recomendado pela OMS. Ter um plano de parto torna mais possível a escolha do tipo de parto e deixa a mãe mais bem informada
NáDIA FISCHER
20/05/2025 08h06 - Atualizado há 7 horas
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No Brasil, mais da metade (57,6%) dos partos realizados são cesáreas, de acordo com dados do Ministério da Saúde. Em hospitais privados, esse índice salta para alarmantes 86%. Os números estão muito acima do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que estipula como ideal uma taxa de 10% a 15%. Segundo o órgão, quando cesáreas ultrapassam 20% dos nascimentos, é sinal de que muitas estão sendo feitas sem necessidade clínica, expondo mães e bebês a riscos evitáveis. Nesse contexto, cresce a relevância de um instrumento muitas vezes ignorado pelas gestantes: o plano de parto. Mais do que um documento, ele representa a possibilidade de protagonismo, autonomia e respeito durante o nascimento. E pode ser decisivo para garantir um parto mais humanizado. “O plano de parto é uma ferramenta fundamental para que a mulher tenha voz ativa em um momento tão íntimo e transformador”, explica Larissa Cristina Ferreira, profissional da área de ginecologia e obstetrícia do AmorSaúde. “Ele permite que a gestante registre, com clareza, suas preferências e expectativas, ajudando a equipe médica a respeitar suas decisões, desde que, claro, não haja contraindicações clínicas”. Um guia para o nascimento O plano de parto é, essencialmente, um documento elaborado pela gestante com ou sem o apoio do parceiro, da equipe médica e da doula. Nele, constam informações como a via de parto preferida, o desejo de analgesia (e qual tipo), quem será o acompanhante durante o trabalho de parto, o uso de medidas farmacológicas e não farmacológicas para alívio da dor, a presença ou não de música, o contato pele a pele com o bebê ou o tempo para o primeiro banho do recém-nascido. Além do acompanhante, cuja presença ao lado da gestante é garantida por lei, o plano pode incluir o desejo da mulher de ter o apoio de uma doula. Nesse caso, é possível que os dois estejam presentes simultaneamente durante o trabalho de parto e o nascimento. A declaração pode ainda trazer decisões sobre o uso de ocitocina para indução ou aceleração do parto, assim como a realização da amniotomia (ruptura artificial da bolsa amniótica), desde que a gestante tenha sido previamente orientada sobre os riscos, benefícios e indicações desses procedimentos. A alimentação da parturiente é igualmente importante, por isso recomenda-se incluí-la nas especificações do documento, desde que respeitadas as condições médicas. Ele pode indicar, por exemplo, o desejo de alimentação da mulher durante o trabalho de parto, caso não haja contraindicações. “É possível detalhar até mesmo o que se espera em caso de intercorrências, como uma cesariana de emergência”, afirma Larissa. “Mesmo quando a situação exige decisões rápidas para preservar a vida da mãe e do bebê, o parto deve ser acolhedor. E mais, a mulher precisa ser informada de forma clara sobre qualquer mudança em relação ao plano”. Legal, aceito e recomendado Apesar de muitas gestantes não saberem, o plano de parto tem valor legal tanto em hospitais públicos quanto privados. É apresentado no momento da internação e anexado ao prontuário médico. Seu uso é incentivado por instituições como o Ministério da Saúde, a OMS e a ANS. “O plano é um direito. Não se trata de capricho”, ressalta a médica. “Ele promove um diálogo transparente entre a equipe assistente e a gestante, permitindo decisões compartilhadas, baseadas em evidências científicas e não em conveniências institucionais ou imposições”, explica Larissa. Erros comuns e como evitá-los Embora seja um instrumento poderoso, recomenda-se a elaboração do plano de parto com consciência e informação. Um dos erros mais comuns, segundo Larissa, é copiar modelos prontos ou basear-se apenas em relatos de outras mães, sem considerar o próprio histórico clínico ou a realidade da maternidade onde o parto será realizado. “Cada gestação é única. O plano de parto precisa refletir as necessidades, os valores e os limites de cada mulher”, reforça. Outro equívoco é enxergar o plano como um roteiro rígido e inquestionável. “O parto é um processo dinâmico. É importante estar aberta a ajustes se surgirem imprevistos. O essencial é que toda mudança seja comunicada com respeito e clareza”, diz a profissional. Por onde começar A recomendação médica é que a elaboração do plano de parto comece no início do pré-natal, sendo ajustado ao longo das consultas, conforme o desenvolvimento da gestação e o conhecimento adquirido pela gestante. Obstetra, enfermeira obstetra, doula e o parceiro têm papel essencial nesse processo, oferecendo apoio, informações técnicas e acolhimento emocional. “Conhecer os recursos da maternidade escolhida, entender a fisiologia do parto, saber seus direitos e confiar no próprio corpo são pilares para elaborar um plano consciente e funcional”, orienta a obstetra Larissa. Embora não exista um modelo exato para a criação do plano de parto, é possível elaborá-lo a partir de informações consideradas necessárias. “No mais, é imprescindível adequar as expectativas às reais necessidades. Isto é, aquilo que parece ser seguro e prático para uma mulher pode não ser boa opção para outra”, alerta a médica. Vale lembrar que, para além do simples papel assinado, o plano de parto é um manifesto de cuidado, dignidade e respeito ao processo do nascimento. Em um cenário onde o excesso de intervenções ainda predomina, ele representa a ponte entre o desejo da mulher e uma experiência mais segura, humana e transformadora. “Apesar do planejamento, imprevistos podem acontecer; o importante é sempre preservar a saúde da mãe e do bebê”, conclui Larissa. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
NADIA FISCHER MARINHO
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