O Brasil tem se consolidado como um destino para refugiados que buscam recomeçar suas vidas longe de conflitos e perseguições, isso porque já acolheu mais de 700 mil imigrantes em condição de refúgio. No entanto, a integração plena desses indivíduos ao mercado de trabalho brasileiro enfrenta desafios significativos e ocorre em ritmo muito diferente da acolhida que se inicia com a entrada dessas pessoas no país.
Segundo dados da ACNUR, a Agência da ONU para Refugiados, até novembro de 2024, o Brasil havia empregado formalmente cerca de 200 mil pessoas refugiadas. Já um levantamento divulgado pela recrutadora Vagas.com, no segundo semestre do mesmo ano, indicou que cerca de 55,7% dos refugiados no Brasil estavam desempregados e 55% daqueles que estão empregados não atuam em suas áreas de formação ou experiência. Além disso, 41% enfrentam dificuldades para procurar emprego no país.
Barreiras linguísticas, diferenças culturais e a validação de qualificações profissionais são alguns dos obstáculos que dificultam essa inserção. Para superar esses entraves, organizações públicas e da sociedade civil têm implementado programas de capacitação profissional para buscar um impacto positivo na vida da população refugiada.
A mobilização para a emancipação financeira dos refugiados, por meio da entrada no mercado de trabalho brasileiro, torna-se ainda mais importante diante do cenário atual. No fim de janeiro, Donald Trump, à frente da presidência dos Estados Unidos, decidiu retirar o Brasil da lista de países que terão liberação de verba para ações humanitárias pela OIM — agência da ONU que apoia imigrantes. O governo norte americano representa 60% de toda a verba que o organismo da ONU dispõe e a ação fragiliza o repasse de verba para projetos voltados à inclusão sociolaboral de refugiados no Brasil.
Iniciativa privada pode ajudar
André Naddeo é diretor-executivo da ONG Planeta de TODOS, mantida pelas empresas Cartão de TODOS, AmorSaúde, Refuturiza e MaisTODOS, que fazem parte do Grupo TODOS Internacional. Para o diretor, o setor privado pode ser um agente facilitador para que iniciativas sociais tenham capacidade de operar em prol da inserção de refugiados no Brasil, seja apoiando ativamente e financeiramente uma ONG ou abrindo vagas afirmativas para a contratação de refugiados.
“Empresas que adotam políticas de inclusão e diversidade, para oferecer oportunidades de emprego, contribuem para a construção de um ambiente mais inclusivo e justo e têm muito a ganhar com toda a troca cultural que a presença de um imigrante pode possibilitar na rotina das equipes de trabalho”, afirma Naddeo.
Com a acolhida de sete refugiados afegãos no Brasil, a ONG Planeta de TODOS tem desempenhado um papel importante para a inserção no mercado de trabalho brasileiro. Entre as iniciativas do projeto, aulas de português, orientação profissional para desenvolvimento de currículos e treinamentos específicos para entrevistas de emprego fazem parte do programa de integração sociolaboral iniciado em março de 2024.
"Essas ações são essenciais para que os refugiados possam se comunicar efetivamente, entender as normas culturais e profissionais brasileiras e se apresentar de forma adequada aos empregadores", destaca Naddeo. A ONG, que já tem mais de oito anos de atuação nos maiores conflitos migratórios, abriu sua primeira casa no Brasil há um ano, em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo. Desde então, conseguiu auxiliar a entrada de cinco refugiados no mercado de trabalho.
“Ribeirão registrou aumento de 102,5% no número de contratações de estrangeiros. São 81 imigrantes trabalhando formalmente na cidade e ficamos muito contentes em saber que cinco destas pessoas são os afegãos acolhidos pelo nosso projeto”, destaca Naddeo. “Com um trabalho com carteira assinada, agora os rapazes já têm mais autonomia financeira que lhes permite aproveitar mais o que a cidade tem a oferecer, sair com amigos, estreitar laços e começar a se recompor”.
O diretor avalia que a preparação adequada para entrevistas e a elaboração de currículos são etapas fundamentais para os refugiados se apresentarem da melhor forma possível aos empregadores. "Essas atividades os ajudam a ajustar suas experiências e habilidades às demandas do mercado de trabalho brasileiro, aumentando significativamente suas chances de inserção profissional", afirma.
Empoderando Refugiadas
O projeto Empoderando Refugiadas, da ACNUR, é um outro exemplo de ação voltada para inserção laboral. Em sua 10ª edição, o programa foca na capacitação e geração de emprego para refugiadas no Brasil, oferecendo treinamentos específicos para o mercado de trabalho e facilitando a inserção desses indivíduos em empresas brasileiras. A capacitação em diversas áreas e o apoio contínuo ao longo do processo de integração têm sido fundamentais para muitos refugiados, oferecendo novas perspectivas e a possibilidade de recomeçar suas vidas com dignidade e independência.
Como tornar sua empresa um agente de impacto neste cenário?
Em 2021, a ACNUR e o Pacto Global da ONU – Rede Brasil lançaram o Fórum Empresas com Refugiados, com o objetivo de facilitar e promover a contratação de refugiados no mercado de trabalho brasileiro. Nos últimos quatro anos, mais de 130 empresas e organizações empresariais passaram a integrar essa iniciativa, ampliando seu alcance por meio do compartilhamento de boas práticas, capacitações e trocas de experiências entre os participantes.
No site do Fórum, as empresas podem anunciar suas vagas afirmativas para refugiados e encaminhá-las para ONGs do setor. A sensibilização do setor privado é fundamental para fortalecer a inclusão de refugiados no Brasil. Segundo a ACNUR, os avanços obtidos tornaram o Fórum uma referência na América Latina quando se trata de mobilização empresarial. A implementação de ações como essa pode contribuir para que os países latinos se destaquem na inclusão socioeconômica de refugiados e migrantes, em consonância com a agenda Cartagena+40, um dos principais referenciais estratégicos da região para a proteção e busca de soluções destinadas a essas populações.
Sobre o Planeta de TODOS
A ONG brasileira Planeta de TODOS foi fundada em 2016 e é mantida pelas Unidades de Negócio que compõem o Grupo TODOS Internacional — Cartão de TODOS, AmorSaúde, MaisTODOS e Refuturiza. Nesses oito anos, atuou nas maiores crises migratórias do mundo, na Itália e Grécia, atendendo a jovens imigrantes vindos principalmente do Oriente Médio e África. Esteve presente na Ucrânia durante a invasão russa, e em Roraima, na fronteira com a Venezuela. Em Bogotá, na Colômbia, mantém a Casa Feliz, exclusiva para o atendimento a pessoas da comunidade LGBTQIAPN+. O novo espaço em Ribeirão Preto é o primeiro no Brasil. O modelo de trabalho do Planeta de TODOS é inédito no mundo e está disponível em formato copyleft no site: https://planetadetodos.com.br/ .
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NAYARA CAMPOS DA SILVA
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