O silêncio dos berços e a opção de não ter filhos

(*) Aline Mara Gumz Eberspacher

JULIA ESTEVAM
15/04/2025 16h43 - Atualizado há 6 horas

O silêncio dos berços e a opção de não ter filhos
Rodrigo Leal

Nos últimos anos, observou-se um aumento significativo no número de casais que optam por não ter filhos. No Brasil, embora a cultura familiar ainda seja forte, pesquisas recentes indicam um aumento na proporção de casais que declaram não ter o desejo de ter filhos, seja por convicção pessoal ou por circunstâncias da vida. De acordo com dados do Censo 2022, divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a proporção de casais sem filhos subiu de 16,1% em 2010 para 20,2% em 2022.   

Essa tendência reflete mudanças estruturais na sociedade brasileira, influenciada por diversos fatores. A ascensão da mulher no mercado de trabalho é um dos principais motivos. Essa escolha também é reflexo de uma profunda análise das dinâmicas sociais, econômicas e ambientais que moldam o século XXI. Um dos pilares que sustentam essa escolha reside no custo financeiro inerente à criação de um filho. A educação é um investimento considerável com escolas particulares, cursos de idiomas, atividades esportivas e entre outras que se tornaram quase obrigatórias, Atividades essas que demandam recursos financeiros, bem como disponibilidade de tempo dos pais, comprometendo a agenda familiar. Para muitos casais, a perspectiva de arcar com esses custos, sacrificando outros projetos e sonhos pessoais, torna-se um fator determinante na decisão de não ter filhos.  

A complexidade da decisão se intensifica ao considerarmos o cenário social contemporâneo. A violência urbana gera um sentimento de insegurança e apreensão em relação ao futuro dos filhos. Além do mais, as tensões geopolíticas e os conflitos armados em diversas partes do mundo, amplificados pela mídia, suscitam questionamentos sobre o futuro da humanidade e o mundo que deixaremos para as próximas gerações. A incerteza em relação a um futuro pacífico e seguro contribui para a hesitação em trazer novas vidas a um planeta marcado por instabilidades. 

Não menos relevante é a crescente preocupação com os impactos climáticos. As mudanças ambientais, com seus eventos extremos cada vez mais frequentes e intensos, geram apreensão sobre a qualidade de vida e o futuro do planeta para as futuras gerações. A consciência dos desafios ambientais e a responsabilidade em relação à sustentabilidade também influenciam na decisão de alguns casais em não ter filhos, considerando o impacto ambiental do crescimento populacional e o consumo de recursos naturais. 

É importante destacar que essa escolha não é isenta de críticas. O Papa Francisco, por exemplo, já classificou como egoísta a decisão de não ter filhos. No entanto, para muitos casais, essa é uma decisão consciente e alinhada com seus valores e objetivos de vida.   

Contudo, apesar de todas as considerações e justificativas que levam à opção de não ter filhos, é inegável a profunda importância que os filhos representam na vida de muitos indivíduos. A experiência da parentalidade é frequentemente descrita como transformadora, capaz de proporcionar um senso de propósito, amor incondicional e aprendizado constante. Os filhos podem trazer uma nova perspectiva sobre a vida, impulsionar o crescimento pessoal e fortalecer os laços familiares.  

Entretanto, é crucial que a decisão de ter filhos seja acompanhada de uma profunda consciência da responsabilidade inerente à parentalidade. Criar e educar um filho exige tempo, dedicação, paciência, recursos financeiros e, acima de tudo, um compromisso genuíno com o seu bem-estar físico e emocional. Trazer uma criança ao mundo sem a devida preparação e disposição para assumir essa responsabilidade pode ter consequências negativas tanto para os pais quanto para o filho. A decisão de ter filhos deve ser ponderada, consciente e responsável, levando em consideração não apenas os desejos individuais, mas também as condições e a capacidade de oferecer um ambiente seguro, amoroso e estimulante para o desenvolvimento pleno da criança. Em última análise, seja qual for a escolha do casal, o respeito mútuo e a compreensão das diferentes perspectivas são fundamentais em uma sociedade plural e em constante evolução. 

 

* Aline Mara Gumz Eberspacher é doutora em Sociologia pela Université Paul Valéry, na França, e coordenadora de pós-graduação do Centro Universitário Internacional Uninter. 

 


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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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