Saúde mental em foco: NR-01 impulsiona nova cultura corporativa

Novas normas incluem fatores psicossociais em Programa de Gerenciamento de Riscos; especialistas citam papel da psicoterapia e treinamentos de lideranças como medidas preventivas

Comunicação Conectada
28/02/2025 14h18 - Atualizado há 11 horas
Saúde mental em foco: NR-01 impulsiona nova cultura corporativa
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A partir de maio de 2025, as empresas brasileiras precisarão se adequar às exigências da Norma Regulamentadora NR-01 e da Lei 14.831/2024, atualizadas em abril de 2024, que estabelecem diretrizes para garantir um ambiente de trabalho mais seguro e humanizado, com foco especial na saúde mental dos colaboradores. A legislação reflete uma mudança essencial diante do crescente número de afastamentos relacionados a transtornos psicológicos adquiridos no ambiente de trabalho.

De acordo com um relatório do Ministério da Previdência Social, entre 2022 e 2023, mais de 288 mil trabalhadores foram afastados devido a transtornos mentais, representando um aumento de 38% em relação ao ano anterior. Entre os principais transtornos que levam ao afastamento, burnout, depressão e ansiedade são os mais citados pelas pesquisas. 

Com a NR-01 em vigor, o Programa de Gerenciamento de Riscos (PGR) passa a incluir oficialmente os riscos psicossociais em suas diretrizes. Anteriormente voltado à prevenção de acidentes e à proteção dos trabalhadores, o PGR agora abrange também aspectos como assédio moral e sexual, violência psicológica e esgotamento profissional, ampliando seu escopo para promover um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.

Setores de risco

Em janeiro de 2024, a Classificação Internacional de Doenças (CID) oficializou a síndrome de Burnout como doença ocupacional no Brasil. A oficialização se deu após o crescente número de afastamentos pela doença no país, chegando a aumentar 1.000% em uma década, segundo relatório do INSS publicado em 2024.

Embora qualquer profissional possa enfrentar transtornos relacionados ao trabalho, algumas áreas apresentam um risco maior de esgotamento. Setores como Tecnologia, Finanças e Economia, por exemplo, são caracterizados por um ritmo acelerado, alta demanda por respostas imediatas e constantes mudanças de planejamento.

Fabiana Dias, gerente de Recursos Humanos da Bravo, empresa especializada em soluções tecnológicas para as áreas fiscal e contábil, destaca que o mercado financeiro e contábil já enxerga a necessidade de medidas para proteger seus profissionais. “São ambientes naturalmente exigentes, que lidam com a pressão de mudanças frequentes e demandam reavaliações constantes de estratégia. E com a chegada da Reforma Tributária, o mercado tributário irá enfrentar desafios para se adequar aos novos padrões. O que irá exigir ainda mais cuidado com a saúde mental desses profissionais. 

Iniciativas fundamentais

De acordo com um estudo da Harvard Business Review, empresas que investem em programas de saúde mental registram um aumento de até 31% na produtividade dos funcionários e uma redução de 63% nos casos de esgotamento profissional. Para se antecipar às exigências da nova regulamentação e promover um ambiente de trabalho mais acolhedor, a Bravo adotou uma série de medidas direcionadas à saúde mental de seus colaboradores. 

Como exemplo de medidas práticas, a gerente cita a Pesquisa de Clima Organizacional, ferramenta utilizada para entender a percepção dos colaboradores nas empresas que trabalham. O método consiste na aplicação de um questionário para os funcionários responderem sobre temas diversidade e inclusão, gestão de performance e desenvolvimento de talentos. ”É uma ferramenta utilizada pelas maiores corporações para desenvolver estratégias de satisfação dos times e aumento de produtividade, além de ser essencial para a criação ou reformulação de políticas internas voltadas ao bem-estar”, relata Dias.

Outra medida foi a manutenção do formato híbrido, com os colaboradores trabalhando presencialmente duas vezes na semana. Em meio às recentes discussões sobre o retorno do trabalho presencial em 2025, Regina Calil, vice-presidente da Bravo, defende que o sistema híbrido oferece a flexibilidade desejada pelas equipes. “Lidamos com colaboradores que fazem jornadas duplas de trabalho e estudo, e dar a opção de trabalhar em casa com total controle sobre sua rotina também é uma maneira de estimular a qualidade de vida e diminuir o estresse diário”, ressalta. 

A VP também destaca a presença de uma psicoterapeuta, disponível para todos os colaboradores da empresa de forma gratuita, uma vez por semana. Em uma sala reservada somente para os atendimentos, os funcionários podem agendar um horário com a profissional para lidar com desafios que estejam enfrentando no âmbito profissional e pessoal. 

“Mesmo com campanhas como o Setembro Amarelo e o Janeiro Branco, muitos colaboradores não procuram ajuda especializada por vergonha ou por falta de informações de como começar a buscar. Por isso, decidimos disponibilizar a ajuda dentro da própria empresa, e têm dado muito certo”, comenta Calil. Segundo a VP, o objetivo é fomentar o cuidado contínuo com a saúde mental. “Nossa intenção é que todos os funcionários tenham a segurança de saber que podem ser acolhidos de forma qualificada em qualquer questão que estejam enfrentando”, declara.

Saúde mental na prática

Danielle Guerra, gerente de Marketing da Bravo, acredita que o diálogo aberto é a principal ferramenta para trabalhar questões de saúde mental em ambientes corporativos. A gerente, que também é líder de Diversidade e Inclusão na empresa, cita como exemplo os treinamentos oferecidos às lideranças, com o objetivo de desenvolver a escuta ativa entre líderes e liderados, para estarem aptos a entenderem os futuros profissionais do mercado corporativo. “Os treinamentos acontecem periodicamente na empresa, e oferecem dinâmicas que incentivam a resolução de conflitos através de comunicação não-violenta e a empatia”, relata Guerra.

Embora a empresa possua colaboradores de diferentes faixas etárias, é a geração Z quem mais demanda atenção quando se trata de saúde mental no ambiente de trabalho: atualmente, 40% dos profissionais da geração Z alegam possuir ao menos um transtorno mental, segundo estudo da Prince’s Trust.

 “Diferente da nossa geração, a geração Z é feita de nativos digitais, que já cresceram hiper expostos a um nível inconcebível de informações, o que pode acarretar problemas psicológicos logo no início da adolescência”, comenta a gerente. Para Danielle, os treinamentos também servem como uma ferramenta de “aproximar gerações” e auxiliar profissionais mais velhos a entenderem as “demandas da nova geração do mercado corporativo”. 

Implementar medidas voltadas à saúde mental é um caminho sem volta para empresas que desejam estar em conformidade com as novas legislações e garantir um ambiente de trabalho mais sustentável. “A saúde mental precisa ser tratada com a mesma seriedade que a saúde física, e as empresas que se adaptarem a essa nova realidade estarão um passo à frente na construção de equipes mais engajadas e produtivas”, conclui Regina Calil.


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GIOVANA PIGNATI
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