Cursos rápidos de psicoterapia levantam preocupação sobre riscos à saúde mental
INêS DELLERBA
09/09/2025 14h37 - Atualizado há 18 horas
Crescimento de cursos rápidos de psicoterapia desperta preocupação sobre impactos na saúde mental / Foto: Freepik
Nos últimos anos, multiplicaram-se na internet anúncios de cursos rápidos que prometem formar psicoterapeutas em poucos meses. Essa tendência tem despertado preocupação para os riscos que tais formações aceleradas podem trazer aos pacientes. A prática da psicoterapia exige, no mínimo, a graduação completa em psicologia e medicina, com duração de pelo menos cinco anos. No entanto, essa formação inicial, por si só, não é suficiente. Para atuar de forma adequada, o profissional deve buscar uma especialização em uma linha específica da psicoterapia, além de cumprir requisitos fundamentais para o exercício ético da profissão: supervisão clínica e análise pessoal. Esse “tripé”, formação acadêmica, supervisão e psicoterapia pessoal, é indispensável para que o terapeuta consiga diferenciar suas próprias questões das do paciente, conduzindo o tratamento com responsabilidade e segurança. Entretanto, o que se observa atualmente é a proliferação de cursos de curta duração que, em seis meses ou menos, chegam a oferecer certificados de “psicoterapeuta” ou “psicanalista”. Em alguns casos, profissionais recém-formados divulgam seus serviços após apenas algumas semanas de capacitação. Isso é uma irresponsabilidade. A supervisão clínica é um processo contínuo e essencial, pois permite avaliar e corrigir intervenções realizadas em atendimentos, garantindo que o psicoterapeuta esteja alinhado às práticas adequadas. Já a análise pessoal possibilita ao profissional trabalhar suas próprias questões emocionais, de forma a não confundir problemas pessoais com os de seus pacientes. Além disso, é importante que o paciente esteja atento à formação do profissional escolhido. A análise crítica do histórico acadêmico e clínico do terapeuta é uma forma de se proteger contra práticas não respaldadas cientificamente. Embora existam escolas tradicionais de psicanálise que mantêm exigências rigorosas de estudo, análise pessoal e supervisão, também proliferam instituições que oferecem cursos rápidos sem a devida seriedade acadêmica. A situação torna-se ainda mais preocupante quando se observa a chancela de cursos de curta duração pelo Ministério da Educação (MEC), o que confere a essas formações uma aparência de legitimidade. Isso abre margem para que intervenções inadequadas ocorram, trazendo sérios riscos aos pacientes. Um dos exemplos apontados é o risco da indução de decisões pessoais pelo terapeuta, o profissional está ali para fazer com que o próprio paciente aprenda a lidar com seus sentimentos e saiba elaborar seus conflitos emocionais, achando caminhos assertivos. O atendimento de pessoa com maior fragilidade estrutural de personalidade, se realizado através de técnicas não embasadas cientificamente e sem o diagnóstico adequado podem desencadear problemas graves de saúde mental. É importante que o profissional saiba diagnosticar para fazer a adequada intervenção. Seria o mesmo que um profissional de saúde atender um paciente com uma dor aguda sem pedir os exames complementares para fechar seu laudo e realizar o tratamento correto. Diante desse cenário, é importante reforçar que a psicoterapia não é uma prática simples e não pode ser tratada como um serviço rápido de capacitação. Não se trata de brincadeira. É uma profissão que lida com vidas, e por isso requer preparo profundo, ética e responsabilidade. Andreia Calçada é psicóloga clínica e jurídica. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
MARIA INÊS DIAS DELL'ERBA
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