Quando o boleto tira o sono: como a saúde financeira afeta o descanso noturno
Pneumologista e especialista em sono Gleison Guimarães explica os impactos do estresse financeiro sobre o corpo e a mente
SARAH MONTEIRO
01/08/2025 14h22 - Atualizado há 16 horas
Divulgação
Acordar no meio da madrugada pensando em dívidas ou passar horas rolando na cama sem conseguir relaxar pode parecer apenas um reflexo de dias difíceis. Mas, segundo o médico especialista em sono Gleison Guimarães, a saúde financeira e o descanso noturno estão muito mais conectados do que se imagina. “A privação de sono, causada pelo estresse crônico, tem sido uma consequência cada vez mais comum das pressões econômicas”, afirma. Dados recentes reforçam essa relação. Segundo pesquisa do Instituto Conhecimento Liberta, divulgada em abril de 2024, 62% dos brasileiros afirmam que a falta de dinheiro é sua principal fonte de preocupação diária. Já um levantamento realizado pela plataforma Onze e publicado pela Veja mostrou que dois a cada três brasileiros tiveram sua saúde mental abalada por problemas financeiros. O impacto direto desse cenário é sentido à noite, quando o corpo deveria descansar, mas a mente permanece em estado de alerta. Gleison Guimarães, que é autor do livro Supersono e professor da UFRJ, explica que o sono depende de um ambiente biológico e emocional propício. “Quando a pessoa vive sob tensão constante, o cérebro ativa áreas ligadas ao medo e à antecipação de ameaças. Isso faz com que o organismo produza mais cortisol e adrenalina, dificultando o início e a manutenção do sono profundo.” O especialista também alerta para os efeitos em cascata desse padrão. Dormir mal interfere no raciocínio, na memória e no controle emocional, prejudicando ainda mais a tomada de decisões financeiras. “A pessoa entra num ciclo em que o estresse por causa do dinheiro gera insônia, e a falta de sono aumenta a ansiedade, reduz o autocontrole e piora o rendimento no trabalho. É um colapso silencioso que precisa ser tratado com seriedade.” Outro ponto destacado por Guimarães é que a insônia por questões econômicas pode evoluir para quadros mais graves, como distúrbios de ansiedade, depressão e até uso abusivo de substâncias para tentar induzir o sono. “Não é incomum ver pacientes que recorrem ao álcool ou automedicação como válvula de escape. O problema é que essas estratégias comprometem ainda mais a qualidade do sono e da saúde como um todo.” Para ele, o caminho está na busca por um cuidado integrado. “Não basta tratar só a insônia com medicamentos. É preciso olhar para a origem do problema, que muitas vezes está ligada à vida financeira, ao excesso de responsabilidades e à ausência de suporte psicológico. Sono não é um botão que se desliga. É um estado fisiológico que precisa de segurança, rotina e equilíbrio emocional.” Gleison defende que políticas públicas de educação financeira, acesso a suporte psicológico e campanhas sobre saúde mental deveriam caminhar juntas. “Enquanto tratarmos o sono como algo separado da vida cotidiana, vamos continuar vendo milhões de pessoas deitarem com o corpo, mas não com a mente. E sem uma mente em paz, não há descanso de verdade.” Para quem enfrenta dificuldades para dormir, o médico orienta buscar ajuda especializada o quanto antes. “O sono é um dos pilares da saúde. Ignorar sua qualidade é como dirigir um carro sem freios em meio ao caos.” O silêncio da madrugada, para muitos brasileiros, tem sido preenchido pela angústia das contas acumuladas. Compreender e tratar essa relação entre saúde financeira e sono é o primeiro passo para devolver à noite seu papel mais importante: restaurar o corpo e a mente. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
SARAH MONTEIRO DE CARVALHO
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