Essa relação entre o consumo de vinho e o fortalecimento da identidade feminina não é exclusiva da Região dos Lagos. Pesquisas internacionais e brasileiras têm apontado que, ao se apropriarem desse espaço, as mulheres também se apropriam de discursos, escolhas e pertencimento.
Um estudo publicado pela PUCRS em 2017, por exemplo, analisou grupos femininos formados exclusivamente para a apreciação de vinhos, mostrando que essas confrarias funcionam como espaços de afirmação social e fortalecimento da presença feminina em um cenário tradicionalmente dominado por homens.
Outro levantamento, realizado na Itália e publicado com o título “Wine and Women”, observou que mulheres tendem a consumir vinho com mais atenção à qualidade, ao contexto e à estética e que, quando se sentem confiantes, tornam-se protagonistas da experiência, quebrando o padrão de dependência das recomendações masculinas.
A Confraria Vinho Delas também estará presente no Wine Jazz Festival de Iguaba Grande, que ocorre entre os dias 8 e 10 de agosto. Para elas, o vinho é apenas um ponto de partida: o verdadeiro valor está na construção de vínculos entre mulheres que, muitas vezes, vivem rotinas solitárias ou atravessadas por sobrecarga. O ambiente dos festivais, por sua vez, abre espaço para que essas relações se fortaleçam.
Para Gabriela Monteiro e Daniele Rodrigues, enófilas da Confraria, a experiência vai além do paladar: “As mulheres aprendem sobre a cultura do vinho, como escolher o rótulo certo, como harmonizar com comidas e com ocasiões específicas.”
Quezia Tebet, uma das idealizadoras, destaca que o impacto real está na troca: “É um ambiente excelente para fazer networking, divulgar negócios e trocar experiências. As mulheres se fortalecem umas às outras ali”, explica.
Embora pareçam encontros casuais, esses movimentos revelam uma dimensão social importante: a ocupação de espaços culturais por mulheres que buscam não apenas lazer, mas pertencimento. Como mostrou um estudo publicado no Reino Unido, mulheres entre 40 e 65 anos associam o ato de beber vinho com rituais de transição do “dever” ao “prazer”, reforçando vínculos e criando espaços simbólicos de liberdade.
Em tempos de pressa e isolamento, os momentos compartilhados em eventos como esses podem ser, ainda que silenciosamente, profundamente transformadores.
No fim das contas, talvez a pergunta mais importante não seja o que beber, mas com quem brindar, e por quê.
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