Planejamento financeiro: o belo versus o que funciona

Artigo por Daniel Coelho*

Victoria Santos
07/05/2025 11h29 - Atualizado há 18 horas

Planejamento financeiro: o belo versus o que funciona
Divulgação

Li um texto de Morgan Housel sobre os arquitetos de revista — aqueles que priorizam a beleza em detrimento da funcionalidade. No livro How Buildings Learn, ele relata como muitos arquitetos projetam "edifícios admirados por todos, exceto por seus ocupantes". Frank Lloyd Wright chegou a afirmar: “Se o telhado não vaza, o arquiteto não foi criativo o suficiente”.

Esse raciocínio cabe perfeitamente no mercado financeiro. Investidores costumam buscar a "ação mágica", o fundo perfeito, estratégias sofisticadas e promessas mirabolantes. Acabam atraídos por planos financeiros esteticamente impressionantes, mas que falham na prática. É como comprar uma casa deslumbrante com telhado que vaza, quando o que realmente precisam é de um prédio retangular funcional — simples, eficiente e robusto.

Segundo a ANBIMA, apenas 23% dos investidores brasileiros têm um planejamento financeiro estruturado. E mais de 60% desconhecem os custos reais dos produtos financeiros que adquirem, de acordo com relatório da CVM. A consequência é previsível: escolhas mal informadas, expectativas frustradas e objetivos adiados.

Felizmente, o mercado de assessoria financeira no Brasil está se transformando. Profissionais mais qualificados vêm adotando uma abordagem centrada nos objetivos do cliente, guiada por critérios técnicos, e não por aparência ou comissões. Um bom planejador começa com um mapeamento profundo da vida do investidor: quais são seus objetivos? Como estão seus ativos, passivos, renda e despesas?

A partir disso, monta-se um portfólio alinhado com risco, retorno e liquidez adequados. Define-se um fluxo de aportes factível e projeta-se a evolução patrimonial ao longo do tempo. Nada é mais gratificante do que ver um cliente resgatar recursos para realizar um objetivo que foi cuidadosamente planejado.

Um planejamento sério também avalia os benefícios oferecidos pela empresa — previdência privada, seguros, remuneração em ações — que, se bem aproveitados, podem trazer ganhos expressivos. Mas são frequentemente negligenciados. Menos de 15% das famílias brasileiras possuem testamentos ou holdings patrimoniais estruturadas, segundo o IBGE, o que pode levar a processos sucessórios longos e caros. Cabe ao planejador revisar regularmente documentos como testamentos, participações societárias e estruturas offshore, sempre atentos às mudanças na legislação e na composição familiar.

Outro ponto crucial é o modelo de remuneração. Quando o assessor é pago por comissões dos produtos indicados, há um conflito de interesse latente. Por isso, modelos fiduciários — nos quais o profissional é remunerado diretamente pelo cliente com base em um percentual do patrimônio — estão ganhando espaço. Eles favorecem alinhamento de interesses e maior transparência.

Reflita: seu planejamento financeiro é sólido ou está nas mãos de um artista mais preocupado com a estética do que com o resultado? No mercado financeiro, assim como na arquitetura, existe um abismo entre o que é bonito e o que realmente funciona.

* Daniel Coelho, é sócio da Invés, assessoria financeira de modelo fiduciário. Com ampla experiência em controladoria e assessoria de investimentos com foco em clientes de alta renda, graduou-se em economia pela University of Portland (UP), possui segunda graduação em contabilidade pelo IBMEC - Belo Horizonte, é planejador financeiro aprovado no exame de certificação CFP. Iniciou sua trajetória profissional atuando com planejamento tributário, foi sócio fundador da Seteloc (aluguel de veículos)  e possui 7 anos de experiência como assessor de investimentos. Possui conhecimento profundo em produtos financeiros, análise e monitoramento de mercado, planejamento financeiro, e planejamento sucessório.*


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VICTORIA APARECIDA DOS SANTOS BERNARDES DA SILVA
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FONTE: https://inves.finance/
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