ABA na prática: ciência, desenvolvimento e fortalecimento familiar

JúLIA BOZZETTO
03/08/2025 17h55 - Atualizado há 2 horas

ABA na prática: ciência, desenvolvimento e fortalecimento familiar
Raphael Barros
 

*Silvia Kelly Bosi

Falar sobre desenvolvimento infantil, especialmente no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA), exige que olhemos para a ciência e para a realidade das famílias com responsabilidade e profundidade. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA), uma ciência rigorosamente validada e respaldada internacionalmente, tem se consolidado como uma das intervenções mais eficazes para promover desenvolvimento, autonomia e qualidade de vida para pessoas no espectro.

Entretanto, há um equívoco ainda muito presente na sociedade: acreditar que o desenvolvimento ocorre, majoritariamente, dentro da clínica. A ciência comportamental contemporânea tem mostrado que isso não é verdade. O desenvolvimento mais potente e sustentável acontece quando as intervenções ultrapassam as barreiras dos consultórios e se estendem aos ambientes naturais da criança: casa, escola e convívio social.

Estudos robustos vêm reforçando essa premissa. Uma revisão publicada na Behavior Analysis in Practice (Leaf et al., 2021) destaca que as intervenções baseadas em ABA apresentam resultados significativamente mais efetivos quando incluem treinamento parental e participação ativa da família. Da mesma forma, uma meta-análise divulgada na Autism Research (Zhou et al., 2020) aponta que crianças cujos cuidadores são treinados para aplicar as estratégias no dia a dia demonstram avanços mais rápidos e duradouros, além de melhora no bem-estar emocional das próprias famílias.

Outro dado relevante é que crianças neurodivergentes, incluindo aquelas com TEA, apresentam uma frequência de aprendizagem distinta, com necessidade de maior número de repetições para consolidação de habilidades na memória de longo prazo (Mottron, 2021). Isso significa que limitar a intervenção ao ambiente terapêutico não é suficiente. O processo de aprendizagem precisa ser constante, contextualizado e significativo.

Dentro da perspectiva da ciência ABA, não basta ensinar uma habilidade; é fundamental garantir sua generalização. Ou seja, a criança precisa ser capaz de utilizar o que aprendeu em diferentes contextos e situações da vida real. Para que isso aconteça, é imprescindível que os cuidadores façam parte ativa do processo,  não como espectadores, mas como agentes de desenvolvimento.

Quando a família se envolve, os ganhos extrapolam o campo do desenvolvimento infantil. Estamos falando de impactos sociais e econômicos. Crianças que desenvolvem maior autonomia tendem a demandar menos suporte especializado no futuro, o que reduz custos assistenciais e contribui para uma sociedade mais inclusiva, produtiva e equitativa.

A neurociência, a psicologia do desenvolvimento e a análise do comportamento não deixam dúvidas: qualquer intervenção eficaz precisa considerar a criança em sua totalidade, o que inclui seu ambiente, seus vínculos afetivos e sua realidade sociocultural. Portanto, o caminho mais responsável e efetivo é aquele que alia rigor científico, aplicação prática e fortalecimento familiar.

Como neuropsicopedagoga e pesquisadora, defendo que o desenvolvimento infantil deve ser entendido como uma construção conjunta, onde ciência, família e sociedade caminham lado a lado. E esse entendimento não é apenas uma convicção pessoal, é uma exigência da própria ciência.

*Silvia Kelly Bosi, neuropsicopedagoga e cientista especialista em desenvolvimento infantil e autismo.

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JÚLIA KLAUS BOZZETTO
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