Desafios mortais nas redes: a urgência de proteger nossas crianças
Morte de Sarah Raíssa, de 8 anos, após participar do chamado “desafio do desodorante”, expõe vulnerabilidade de crianças nas redes sociais
QU4TRO COMUNICAÇÃO
15/04/2025 01h11 - Atualizado há 3 dias
Divulgação
A morte de Sarah Raíssa, de apenas 8 anos, neste domingo (15), após participar do chamado “desafio do desodorante”, expõe de forma brutal a vulnerabilidade de nossas crianças diante da ausência de controle efetivo sobre os conteúdos que circulam nas redes sociais. Sarah não é a primeira. Outras crianças já perderam a vida de forma semelhante, e muitas mais seguem expostas a riscos diários; muitas vezes, dentro do próprio quarto, diante de uma tela.
Vivemos em uma era onde a tecnologia avança mais rápido do que a nossa capacidade institucional de regulá-la. Enquanto isso, crianças e adolescentes, em fase de desenvolvimento físico, emocional e cognitivo, são alvos fáceis de conteúdos perigosos, criados para gerar engajamento a qualquer custo.
As chamadas “brincadeiras” que envolvem risco à vida, como inalar aerossóis, prender a respiração até desmaiar ou se autoferir, são disseminadas com facilidade pelas redes sociais. Apelam para a curiosidade infantil e a busca por aceitação. E o fazem com algoritmos que priorizam o que viraliza, não o que educa.
Não podemos continuar tratando tragédias como exceções. Precisamos encarar a realidade com urgência. Nossas crianças estão expostas a conteúdos nocivos sem qualquer proteção real, enquanto as grandes plataformas digitais continuam lucrando e lavando as mãos.
É preciso agir em diversas frentes. As redes sociais devem ser legalmente obrigadas a identificar e remover rapidamente conteúdos perigosos, com mecanismos de denúncia eficazes e responsabilização civil e penal em caso de omissão. É urgente promover ferramentas tecnológicas que permitam aos pais controlar e monitorar o acesso digital dos filhos. Mas também é necessário capacitá-los para esse papel, por meio de campanhas públicas de conscientização.
Nossas crianças precisam ser alfabetizadas para o mundo virtual, entendendo seus riscos e aprendendo a identificar conteúdos inadequados. O acesso descontrolado à internet tem gerado impactos emocionais profundos, como ansiedade, baixa autoestima e até comportamentos autodestrutivos. A saúde mental infantil precisa entrar no centro desse debate.
Como fundador do Projeto Justiça Para Todos e do Instituto Mulheres em Ação, acompanho diariamente os reflexos do abandono digital a que nossas crianças estão submetidas. São vítimas da negligência pública, da omissão das plataformas e, muitas vezes, da desinformação dos próprios adultos que deveriam protegê-las.
A dor da família de Sarah precisa nos mobilizar. Não podemos naturalizar a perda de uma vida infantil como consequência de um “desafio”. Precisamos transformar essa tragédia em um divisor de águas na luta por uma internet mais ética, regulada e segura para quem ainda está aprendendo a viver.
A infância deve ser lugar de proteção, e não de algoritmos mortais. Que essa tragédia nos acorde. Que desperte, no poder público, nas empresas e em cada um de nós, o dever de proteger o que temos de mais precioso: nossas crianças.
Renato Rocha
Advogado e fundador do projeto Justiça Para Todos
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ANA KAROLLINE ANSELMO RODRIGUES
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