03/01/2025 às 21h11min - Atualizada em 06/01/2025 às 12h05min

A ‘europetização’ do futebol brasileiro: o preço da modernização tática

Os títulos conquistados pelos técnicos europeus no Brasil, como Abel Ferreira e Jorge Jesus, muitas vezes são atribuídos não apenas às suas estratégias, mas também aos grandes investimentos e aos superelencos que comandavam

RENATO LISBOA
Renato Lisboa
Renato Lisboa
                                                                                                                                              *Renato Lisboa
Nos últimos anos, o futebol brasileiro tem testemunhado uma tendência crescente de contratação de técnicos estrangeiros, especialmente europeus. Essa mudança no comando técnico das equipes nacionais gerou debates intensos sobre os verdadeiros impactos dessa estratégia no desempenho e na essência do futebol do país.
A busca por métodos táticos avançados e disciplina tática, características frequentemente associadas ao futebol europeu, parece ter ofuscado os elementos que historicamente definiram o estilo brasileiro: a criatividade, a ginga e a molecagem. A tentativa de europeizar o futebol nacional, embora bem intencional, pode estar limitando a expressividade e a espontaneidade que fazem do Brasil uma referência mundial no esporte.
Os títulos conquistados pelos técnicos europeus no Brasil, como Abel Ferreira e Jorge Jesus, muitas vezes são atribuídos não apenas às suas estratégias, mas também aos grandes investimentos e aos superelencos que comandavam. Nesses cenários, vencer torna-se quase uma obrigação, dada a superioridade dos recursos disponíveis. No entanto, surge uma pergunta: como esses treinadores se comportariam em contextos com elencos limitados, menor investimento e atrasos salariais? É plausível acreditar que os superresultados desapareciam rapidamente sob tais condições, evidenciando que o sucesso está mais atrelado aos recursos do que à expertise técnica estrangeira.
É fundamental considerar que, apesar dos resultados positivos, há uma idolatria excessiva em torno desses técnicos. A valorização desmedida e a expectativa de resultados constantes, independentemente das situações, desconsideram o verdadeiro valor agregado que eles trazem aos clubes. A imposição de uma máquina tática, sem considerar a cultura e os focos do futebol brasileiro, pode estar minando a identidade esportiva do país.
O futebol brasileiro necessita, urgentemente, de uma reflexão profunda sobre sua trajetória e suas escolhas. É imperativo resgatar e cultivar elementos tradicionais como o drible, o partir para cima, a ginga e a criatividade. Esses atributos não apenas definem o estilo de jogo, mas também fortalecem a ligação emocional entre o esporte e a cultura nacional. Reduzir o futebol a meros toques de lado e estratégias onde o sistema defensivo é priorizado em detrimento do ataque torna distante o Brasil de sua essência como "país do futebol".
A verdadeira revitalização do futebol brasileiro passa por valorizar seus talentos locais e permitir que eles expressem sua criatividade sem amarras excessivas. Investir em estruturas que apoiem o desenvolvimento natural do jogo, promovendo a liberdade técnica e a inovação, é o caminho para reconquistar a magia que sempre caracterizou o futebol do país.
Em suma, a decadência observada em alguns aspectos do futebol brasileiro pode ser atribuída, em parte, à tentativa de europeizar um esporte que sempre foi sinônimo de alegria e liberdade. É hora de reavaliar essa abordagem e retornar às raízes que fizeram do Brasil uma potência mundial, valorizando a essência que torna nosso futebol único e amado por milhões.
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*Neuropsicanalista, Socorrista em Saúde Mental, Advogado e Jornalista com foco em desenvolvimento pessoal, mercado editorial, literatura e saúde mental. Especialista em pessoas, coordenador do Curso de Formação de Socorristas Mentais e palestrante internacional. Como advogado, conduziu a maior negociação trabalhista administrativa do Brasil. É CEO da Editora Lisboa e autor best-seller.

 

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RENATO DOS SANTOS LISBOA
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