Charlie Kirk: a internet alimenta a violência e ignora a lógica evolutiva de Darwin

*Sheron Mendes

JULIA ESTEVAM
06/10/2025 12h05 - Atualizado há 2 horas

Charlie Kirk: a internet alimenta a violência e ignora a lógica evolutiva de Darwin
Banco Uninter

A execução de Charlie Kirk não é apenas um debate sobre violência política, ela expõe, ao mesmo tempo, a incerteza sobre o papel da internet e um equívoco persistente antigo: a crença de que evolução significa a sobrevivência do mais forte. A teoria de Darwin nunca foi uma ode à força bruta e sim descrição da adaptação à capacidade de ajustar-se ao ambiente e, assim, maximizar o êxito ao longo do tempo.

Robert A. Wallace, no livro “Sociobiologia: o fator genético”, propõe que o triunfo evolutivo se dá por vias altruístas; divisões de tarefas grupais para comportamentos altamente cooperativos. Em suma, a evolução premiou sistemas que reduzem conflitos e ampliam o apoio sob certas condições.

Por que isso importa quando olhamos para a educação e para o tecido social após a morte de um ativista? Porque, do ponto de vista neurocomportamental, nosso cérebro continua em desenvolvimento, contemplando instintos primitivos ligados à sobrevivência. O que difere o ser humano é trazer o impulso irracional para a racionalização, ter consciência dos seus atos, pois somente um animal “irracional” age sem pensar na consequência.

O psiquiatra e pesquisador de Harvard, pioneiro no estudo do desenvolvimento adulto e do envelhecimento bem-sucedido, doutor George E. Vaillant afirma que o propósito neurobiológico associado ao êxito está ligado a atos de compaixão, também uma habilidade de sobrevivência de primeira ordem, em que o amor domestica o cérebro réptil (instintos básicos e automáticos de sobrevivência), diminuindo a ativação da amígdala e elevando o exercício do núcleo accumbens ( e prazer) bem como o aumento da ocitocina, aumentando o sentimento de pertencimento e vínculo.

Logo, o que nos faz florescer é o progresso das relações de confiança, a aposta evolucionária vencedora não é a força do punho, é a engenharia social da cooperação. Divergências de ideias são benéficas, inclusive estimulam a neuroplasticidade, mas, na internet, existe o risco de estarmos sem perceber, contrariando a lógica adaptativa que nos trouxe até aqui.

Atualmente, ações algorítmicas restringem a diversidade de opiniões e nos servem mais do mesmo, reforçando crenças e afetos, limitando a exposição ao dissenso. O design de engajamento captura nossa atenção, aciona vieses e monetiza a indignação. Dessa forma, reforça o extremismo e a intolerância, exatamente o oposto do que a evolução selecionou quando premiou a reciprocidade e o respeito.

Este texto não é sobre política, bem como não proponho tecnofobia, mas sim educação. Em sala de aula e em casa, medidas podem ser tomadas como exposição ao dissenso com regras de civilidade e alfabetização digital. Essas práticas reintroduzem os mecanismos cooperativos que a biologia já mostrou serem adaptativos em longo prazo.

Nesse cenário, a morte de Charlie Kirk escancara uma reflexão incômoda: se a evolução favoreceu sistemas baseados no altruísmo, o modo como usamos a internet, aprisionados em ideias pouco diversas, apenas para reforçar as próprias convicções, parece caminhar contra a própria lógica evolutiva que nos trouxe até aqui.

(*) Sheron Mendes é Bióloga, especialista em Neurociência do Comportamento e professora dos cursos de pós-graduação em Educação na UNINTER

 

 


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