O Brasil saiu novamente do Mapa da Fome e o assunto ganhou destaque na mídia, com o anúncio feito em julho de 2025, pela Organização das Nações Unidas (ONU). Após três anos do infame retorno ao mapa da fome, a saída deste indesejável mapa é um marco simbólico e político. No entanto, mais do que celebrar, é hora de refletir sobre o significado real desse avanço e quais desafios ainda permanecem para garantir que a comida na mesa não seja apenas um dado estatístico, mas uma realidade cotidiana para todos.
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), para que um país saia do Mapa da Fome é preciso que menos de 2,5% da população esteja em situação de subalimentação crônica. Cabe destacar que a recente conquista no Brasil não ocorreu por acaso: políticas públicas de transferência de renda, programas de fortalecimento da agricultura familiar, ampliação do acesso a alimentos por meio de compras governamentais e o reajuste do salário mínimo foram apontados como fatores decisivos.
Entretanto, a Pesquisa de Orçamentos Familiares realizada IBGE revela que, embora a fome extrema tenha recuado, cerca de 21 milhões de brasileiros ainda vivem em algum nível de insegurança alimentar moderada, o que significa pular refeições ou comer menos do que precisam. Outro aspecto que cabe destaque é que a desigualdade regional continua gritante: Norte e Nordeste apresentam índices mais altos de insegurança alimentar; enquanto Sul e Sudeste vivenciam um processo mais acentuado de recuperação econômica. Nesse sentido, os dados evidenciam que sair do Mapa da Fome não significa erradicar a fome em todo o Brasil. É, na verdade, ultrapassar uma linha estatística que, se não for sustentada por políticas permanentes, pode ser rapidamente revertida, como a história recente nos mostrou.
Sendo assim, a saída do Brasil do Mapa da Fome é motivo de celebração e reconhecimento aos esforços de diferentes frentes, mas não pode ser vista como ponto final. Precisamos consolidar políticas de segurança alimentar e nutricional que resistam a mudanças de governo, garantir a valorização da agricultura familiar e combater as desigualdades estruturais que ainda afastam milhões do direito humano à alimentação adequada. A pergunta que fica é: teremos maturidade política e compromisso social suficientes para que, desta vez, o Brasil permaneça fora do Mapa da Fome para sempre?
*Andressa Ignácio da Silva, Sóciologa, Professora da área de Território e Sociabilidade do Centro Universitário Internacional UNINTER
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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