Psicanalista Carlos Almeida alerta: A falta de autoridade dos pais gera adoecimento e compromete o futuro das novas gerações

A Dicotomia entre "Amar" e "Educar" e o Impacto na Saúde Mental

TAMYRIS TORRES
25/08/2025 15h41 - Atualizado há 5 horas

Psicanalista Carlos Almeida alerta: A falta de autoridade dos pais gera adoecimento e compromete o futuro das
Arquivo pessoal
 

Em um cenário onde a educação dos filhos parece cada vez mais terceirizada, o psicanalista Carlos Almeida traz uma reflexão contundente sobre o papel da família. Com base em sua vasta experiência em Neurociência, Desenvolvimento Humano e TDAH, além de uma sólida atuação pedagógica desde 2005 e a vivência como pai de quatro filhos, Almeida defende que a transferência da responsabilidade parental para a escola ou para a sociedade é um sintoma alarmante da fragilidade moral e do medo de educar.

Almeida, conhecido por suas palestras e consultorias, ressalta que muitos pais, por receio de "traumatizar" os filhos, acabam por criar uma geração de jovens emocionalmente frágeis e incapazes de lidar com frustrações. "Temem falar duro porque a dureza dos seus pais os ‘feriram’; mas não percebem que essa mesma dureza, interpretada hoje como trauma, foi o que os moldou e os tornou resilientes," afirma o psicanalista.

Para ilustrar seu ponto, Almeida utiliza uma analogia poderosa: a palavra "trauma" vem do grego "traumús", que significa as marcas deixadas no tronco de uma árvore que, em crescimento, precisou de estacas de apoio para não pender para um lado. "Essas marcas das escoras são os 'traumas', inerentes ao processo de crescimento e amadurecimento. O problema não é o trauma em si, mas a forma como a sociedade moderna interpreta e o evita, confundindo a imposição de limites com falta de amor", explica.

A Dicotomia entre "Amar" e "Educar" e o Impacto na Saúde Mental

Essa falha na educação familiar tem sido corroborada por estudos científicos. Pesquisas recentes demonstram uma forte correlação entre a falta de imposição de limites e o aumento de transtornos de comportamento e saúde mental em crianças e adolescentes. Um estudo publicado no Jornal da USP, por exemplo, revelou que traumas de infância estão associados a mais de 30% dos transtornos psiquiátricos em adolescentes, e que mais de 80% dos jovens brasileiros já vivenciaram ao menos um evento traumático, impactando diretamente sua saúde mental na vida adulta.

Ainda, outra pesquisa, publicada no periódico Pediatrics, mostrou que filhos de pais que carregam traumas não resolvidos de sua própria infância são mais propensos a desenvolver problemas de comportamento, reforçando o ciclo de fragilidade emocional. "Muitos pais de hoje, por terem sido 'feridos' em sua criação, adotam uma postura oposta, achando que não impor autoridade é 'amar', e que a falta de limites é uma forma de proteção. Na realidade, isso apenas revela sua própria irresponsabilidade e fragilidade de caráter, que é repassada para a próxima geração", alerta Almeida.

O Contraste com Gerações Anteriores

Almeida traça um paralelo com a geração de pais dos anos 70 e 80, que, segundo ele, tinham "vergonha" de serem chamados à atenção por desvios de caráter dos filhos e agiam de forma mais assertiva. "Eles pediam perdão aos professores e davam uma resposta educativa em casa", lembra o psicanalista, contrastando com a postura atual de muitos pais que, ao impor limites, cedem rapidamente à frustração dos filhos, criando formas de "compensação emocional".

"Vejo pais hoje tentando ser duros, mas cedendo meia hora depois porque não suportam ver seu ‘reizinho/princesinha’ frustrado. Isso é um reflexo da imaturidade parental", enfatiza Carlos Almeida. Ele finaliza com um lembrete crucial: a terapia é uma ferramenta fundamental, não para invalidar a autoridade dos pais, mas para ajudá-los a resolver seus próprios traumas e, assim, serem capazes de educar com amor e firmeza, que são a base de um crescimento saudável.


 

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ALEX YAN DA COSTA MENDES
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