Adultização infantil: um alerta à perda da infância

Agenor Santana
18/08/2025 12h55 - Atualizado há 4 horas

Adultização infantil: um alerta à perda da infância
Divulgação
Por Silvia Rezende**

A adultização infantil — processo em que crianças são expostas precocemente a comportamentos, responsabilidades e padrões estéticos do universo adulto — é um fenômeno preocupante que compromete o desenvolvimento integral na fase mais decisiva da vida: a primeira infância.

Segundo a pesquisa Panorama da Primeira Infância, 84% da população brasileira desconhece os benefícios de investir nos primeiros seis anos de vida, período em que 90% das conexões cerebrais são formadas. Essa falta de consciência coletiva contribui para práticas que aceleram indevidamente o amadurecimento infantil, como o uso de roupas e maquiagens adultas, participação em atividades com conotação erótica e consumo de conteúdos digitais inadequados.
A exposição precoce ao universo adulto compromete o desenvolvimento físico, emocional e cognitivo das crianças. A pesquisa revela que apenas 15% dos brasileiros reconhecem a primeira infância como o período de maior desenvolvimento humano. Essa percepção equivocada reforça a delegação de responsabilidades e cobranças que não condizem com a idade, como exigência de desempenho escolar e autonomia excessiva.
Especialistas apontam que crianças adultizadas apresentam maior propensão à ansiedade, depressão e baixa autoestima. A erotização precoce, um dos riscos mais graves, aumenta a vulnerabilidade a abusos e distorções na imagem corporal. Além disso, o uso excessivo de telas e redes sociais — tema também abordado na pesquisa — preocupa cuidadores, que reconhecem os prejuízos,
Consequências no Cotidiano
No ambiente escolar e nas relações sociais, os efeitos da adultização se manifestam em dificuldades de socialização, queda no desempenho e comportamentos inadequados. A pesquisa mostra que apenas 2% da população sabe identificar corretamente que a primeira infância vai de 0 a 6 anos, o que evidencia a urgência de ampliar o conhecimento sobre essa fase.
Combater a adultização infantil exige uma mobilização coletiva. Famílias, educadores e gestores públicos devem criar ambientes seguros e afetivos, onde o brincar, o aprender lúdico e o convívio com outras crianças sejam valorizados. A Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal reforça que amor e carinho são os cuidados mais importantes na primeira infância, segundo 76% dos cuidadores entrevistados.
Preservar a infância é investir no futuro
Respeitar o tempo de cada criança é garantir que ela se desenvolva com saúde, autonomia e felicidade. A adultização infantil não é apenas uma distorção cultural — é uma ameaça ao direito de ser criança.
À medida que cresce o reconhecimento nacional sobre os impactos da adultização infantil, intensifica-se a mobilização da sociedade civil e dos órgãos públicos para proteger crianças desse fenômeno. A exposição precoce a comportamentos, conteúdos e responsabilidades típicas da vida adulta preocupa famílias e educadores, especialmente diante do acesso indiscriminado à internet, da imposição de padrões de beleza adultos, da sexualização nas redes sociais e da pressão por consumo. O alerta sobre esses riscos reais mobiliza as famílias a promoverem uma infância segura e saudável, incentivando o engajamento ativo na proteção dos pequenos.
Especialistas ressaltam a importância de capacitar escolas, famílias e profissionais para identificar sinais de adultização e adotar medidas de prevenção. A distribuição de materiais informativos e a realização de treinamentos são ações fundamentais para fortalecer a rede de proteção.
A sociedade como um todo é chamada a participar deste enfrentamento. O recado é claro: crianças não são miniadultos, mas sujeitos de direitos, que merecem crescer em ambientes seguros e adequados à sua fase de vida. No centro do debate permanece o compromisso de priorizar o bem-estar das crianças acima de interesses comerciais ou da comodidade digital, evidenciando que combater a adultização envolve responsabilidade coletiva e ações concretas em todos os setores sociais.

**Silvia Rezende é graduada em Pedagogia e Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Silvia possui especialização em Terapia Comportamental Cognitiva em saúde mental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela é a coordenadora técnica da Clínica de Psicologia LARES e professora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Silvia atua também como psicóloga colaboradora no IPQ HC FMUSP e no Programa de Psiquiatria Social e Cultural (PROSOL), um grupo do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.
 

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