Agosto Lilás: um grito pela vida das mulheres

Agenor Santana
18/08/2025 12h30 - Atualizado há 2 horas

Agosto Lilás: um grito pela vida das mulheres
Divulgação
Por Silvia Rezende**

“Foi só um empurrão.” “Foi só um ciúme.” “Foi só uma ofensa.” Essas frases, repetidas com indiferença, são os primeiros ecos de uma violência que se camufla em gestos cotidianos. O Agosto Lilás, mais que uma campanha, é um clamor coletivo — um grito que rasga o silêncio imposto às vítimas de violência de gênero.

Criada em alusão à Lei Maria da Penha, sancionada em agosto de 2006, a iniciativa busca despertar consciências e romper com a banalização dos abusos. Os números não deixam margem para dúvidas: em 2024, o Brasil registrou o maior número de feminicídios dos últimos anos — foram 1.459 vidas ceifadas.  Quatro mulheres por dia morreram, muitas em ambientes que deveriam ser de proteção e afeto.
Esses dados revelam que, apesar dos avanços legislativos, o ciclo da violência ainda encontra terreno fértil na omissão, no medo e na falta de políticas públicas eficazes.
Em São Paulo, a realidade também choca: só no primeiro semestre de 2025, 129 feminicídios foram consumados, o que equivale a uma morte a cada 34 horas. Neste cenário pouco favorável, as tentativas de feminicídios saltaram para 655. Especialistas alertam que os sinais estão ali — desde insultos sutis até o isolamento emocional. A escalada da violência segue um ciclo cruel, que aprisiona emocionalmente a vítima e pode culminar em tragédia.
Medidas protetivas falham — e mulheres continuam morrendo
Outro dado que escancara a fragilidade da rede de proteção é o número de vítimas que morreram mesmo sob medidas protetivas: 121 mulheres foram assassinadas entre 2023 e 2024, apesar de estarem formalmente amparadas pelo Estado. Isso mostra que a violência não se interrompe com uma ordem judicial — ela exige vigilância constante, acolhimento qualificado e ações integradas. As pesquisas comportamentais apontam que muitos agressores agem por sentimento de posse, atacando mulheres por sorrirem, trabalharem ou simplesmente existirem. O feminicídio, nesse contexto, é o desfecho brutal de uma misoginia que se alimenta do controle e da impunidade.
Filhos do feminicídio: herdeiros da dor
O impacto do feminicídio ultrapassa a estatística. Ele marca gerações. Quando uma mãe é assassinada por ser mulher, seus filhos se tornam órfãos de afeto, de referência, de estabilidade. Um estudo conduzido por pesquisadores entre setembro e outubro de 2023 analisou 16 artigos nacionais e internacionais e revelou danos profundos na infância desses sobreviventes: prejuízos cognitivos, traumas sociais, desafios emocionais que ecoam por toda a vida.
O que eles enfrentam não é apenas a ausência — é o rompimento brutal com a rotina, com a identidade, com a segurança. A dor os acompanha na escola, no futuro profissional, nas relações. Para que esses órfãos tenham chance de reconstrução, é urgente a criação de políticas públicas que articulem saúde, educação, assistência social, justiça e segurança.
Compromisso com o futuro
Agosto Lilás é mais que uma cor. É resistência. É esperança. É a lembrança de que cada sinal de abuso deve ser levado a sério. E de que, enquanto uma mulher sofrer, toda a sociedade sangra junto.
Este é o momento de unir vozes, somar esforços e exigir que o Estado proteja, previna e reconstrua. Porque lutar contra o feminicídio é lutar pela vida — de todas as mulheres e dos filhos que elas não puderam criar

Como Buscar Ajuda
Existem diferentes formas de proteção para mulheres em situação de risco:
  • Registrar boletim de ocorrência na DDM e solicitar medidas protetivas — caso sejam desrespeitadas, o agressor pode ser preso.
  • Utilizar recursos tecnológicos como o app Mulher Segura, que permite: 
  • Registrar ocorrências
  • Solicitar medida protetiva
  • Localizar delegacias próximas
  • Acionar a Polícia Militar com o botão do pânico, em casos de emergência
  • Denúncias anônimas podem ser feitas pelos telefones 100 ou 180.

**Silvia Rezende é graduada em Pedagogia e Psicologia pela Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, Silvia possui especialização em Terapia Comportamental Cognitiva em saúde mental pelo Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). Ela é a coordenadora técnica da Clínica de Psicologia LARES e professora do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP. Silvia atua também como psicóloga colaboradora no IPQ HC FMUSP e no Programa de Psiquiatria Social e Cultural (PROSOL), um grupo do Instituto de Psiquiatria da FMUSP.


 

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