A febre dos brechós sustentáveis
Comportamentos estão mudando e os brechós se tornam peça-chave na moda circular; a Loja Humana é um exemplo de como roupas podem transformar o mundo
JADEMILSON SILVA
17/08/2025 16h50 - Atualizado há 7 horas
Divulgação
O consumo consciente deixou de ser um nicho para se tornar uma prática cada vez mais presente no cotidiano de milhares de brasileiros. No centro dessa transformação, estão os brechós sustentáveis — espaços que unem moda, propósito social e cuidado com o meio ambiente. Muito além da estética vintage ou dos preços baixos, os brechós se consolidam como uma resposta concreta à indústria da moda, uma das mais poluentes do mundo, só perdendo apenas para o petróleo.
Segundo dados do Sebrae, o mercado de segunda mão cresceu 48% nos últimos três anos no Brasil. Entre brechós físicos, bazares comunitários e plataformas digitais, essa economia circular movimenta valores significativos — e gera impacto ambiental positivo. Comprar uma peça usada, por exemplo, evita o consumo de milhares de litros de água, economiza energia e reduz emissões de carbono.
Descarte irregular de resíduos têxteis no Brasil representa desperdício ambiental e econômico No Brasil, estima-se que cerca de 4 milhões de toneladas de resíduos têxteis sejam descartados de forma inadequada todos os anos. Parte significativa desse material acaba em aterros sanitários, esgotos, terrenos baldios, rios e até nos oceanos, agravando a poluição ambiental e comprometendo os ecossistemas. Grande parte desses resíduos — como roupas descartadas — poderia ser reaproveitada por meio de práticas de economia circular e da moda sustentável. Em vez de serem descartados, esses materiais têm potencial para gerar renda, estimular o empreendedorismo e reduzir os impactos da indústria da moda no meio ambiente.
Especialistas defendem que é urgente repensar os modelos de produção e consumo no setor têxtil, incentivando ações que promovam o reaproveitamento, a reciclagem e a reinserção de tecidos em novos ciclos produtivos. Iniciativas que apostam na costura criativa e no reaproveitamento têxtil, por exemplo, têm mostrado que é possível transformar o que seria lixo em oportunidade — social, econômica e ambientalmente sustentável.
A jornada de uma roupa: do descarte ao reuso Um levantamento da
Fundação Ellen MacArthur aponta que, no modelo tradicional da moda linear, apenas
1% dos materiais usados na produção de roupas são reciclados. O restante vai parar em lixões, aterros sanitários ou polui rios e oceanos. Nesse cenário, os brechós aparecem como agentes ativos na lógica da moda circular, onde cada peça ganha novas vidas antes de ser descartada definitivamente.
Ciclo de vida de uma peça de roupa na moda circular: - Produção
- Compra inicial
- Doação
- Triagem
- Reutilização (brechó)
- Customização/Upcycling
- Doação novamente ou reutilização
O papel das Lojas Humana
No coração dessa transformação estão as Lojas Humana, um projeto que vai além da revenda de roupas usadas. Localizadas na Bahia, as lojas funcionam como um polo de triagem, reutilização e revenda de roupas com impacto social direto nas comunidades atendidas.
“Aqui, cada peça carrega uma história, mas também abre caminhos para novas vidas — não só para quem veste, mas para quem trabalha e é beneficiado pelo nosso sistema de triagem e distribuição”, afirma.
Com um processo rigoroso de seleção e reaproveitamento, as Lojas Humana transformam roupas em recursos. “O que muita gente chama de descarte, a gente chama de oportunidade. Nossas roupas movimentam uma cadeia que gera renda, autonomia e consciência ambiental”, completa Ivanir.
Além de gerar emprego e renda para homens e mulheres, o centro de triagem das Lojas Humana também atua como educador ambiental, promovendo oficinas e ações de sensibilização sobre consumo e reaproveitamento têxtil.
Roupa nova ou reutilizada: qual o impacto ambiental?
Reutilizar uma peça significa economia real de recursos naturais e energia — uma contribuição direta à luta contra a crise climática.
Consumo consciente: um novo comportamento?
O crescimento dos brechós também reflete uma mudança no perfil do consumidor. O que antes era visto como "consumo de necessidade" passa agora a ser "consumo de escolha". Jovens buscam originalidade, impacto ambiental reduzido e engajamento com causas sociais. Redes sociais como Instagram e TikTok têm potencializado essa transformação, com influenciadores mostrando looks de brechó e “garimpos conscientes”.
“Temos clientes que entram aqui não só para comprar, mas para conversar, para aprender, para se inspirar. É uma rede de transformação que vai além da moda”, destaca Ivanir.
Mais que tendência, um movimento
O avanço dos brechós sustentáveis aponta para uma transformação profunda no modo como produzimos, consumimos e descartamos roupas. Projetos como as Lojas Humana mostram que é possível construir um novo modelo de negócio: economicamente viável, socialmente justo e ambientalmente responsável.
No final das contas, cada peça usada representa mais do que uma economia no bolso — ela carrega a possibilidade de um mundo mais equilibrado.
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JADEMILSON MANOEL DA SILVA
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