Seminário de História da Arte conecta Sul Global aos desafios contemporâneos

Trajetórias de Abdias Nascimento, Anastácia, Ana Lira, Ana Mendieta e Valda Nogueira mobilizam estudos científicos, geram debates e incidência de vanguarda além dos muros da universidade

RAFAELA BARBOSA
08/08/2025 12h18 - Atualizado há 8 horas

Seminário de História da Arte conecta Sul Global aos desafios contemporâneos
Divulgação

Um dos desafios fundamentais do fazer científico é a difusão do conhecimento e sua consequente  tentativa de “popularização” das pesquisas para além do cânone universitário. Nesse sentido, o LAPA - Laboratório de Artes e Políticas da Alteridade, grupo de pesquisa certificado pelo CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e vinculado ao Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), pioneira nas políticas afirmativas, realiza seminário gratuito, aberto ao público, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO), dia 13 de agosto de 2025, quarta-feira, das 14h às 17h. Para incentivar a presença do público, além da emissão de certificado de participação, serão contempladas três pessoas, por meio de sorteio, com o catálogo da exposição "Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra". A mostra foi fruto de uma parceria curatorial e institucional inédita entre o Ipeafro e o Instituto Inhotim (2021-24) e será tema de uma das mesas do seminário (programação completa abaixo). 

Um dos destaques do evento será a participação presencial de Thais Rocha, pesquisadora do LAPA que cursa doutorado pelo Departamento de Espanhol e Português da Universidade do Texas, Austin. Rocha desenvolve pesquisas sobre sítios arqueológicos que se tornaram lugares de memória da escravatura. No seminário, a pesquisadora vai apresentar seu trabalho de mestrado defendido no Programa de Pós-Graduação em Artes (PPGARTES) da UERJ sobre fotografia e representação negra feminina a partir da produção das artistas Ana Lira e Valda Nogueira. “Artistas visuais negras brasileiras alcançaram novos espaços para expor seus trabalhos no circuito da arte, porém, narrativas hegemônicas evidenciam relações assimétricas de poder. Neste sentido, a dissertação dialoga sobre a experiência, presença e representatividade destas mulheres na fotografia contemporânea”, afirma a pesquisadora.

Bernardo Marques-Baptista é outra das presenças destacadas e confirmada. Produtor cultural e doutor em História da Arte, sua tese de doutorado foi indicada pelo Programa de Pós-graduação em História da Arte (PPGHA) da UERJ em 2025 ao Prêmio da Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior). A premiação reconhece as melhores produções científicas no Brasil. Marques-Baptista abordará em sua palestra a relação de Anastácia, personagem central na história brasileira, cuja a imagem da escravizada amordaçada que povoou o imaginário brasileiro ganhou novas leituras libertadoras, sem o dispositivo de silenciamento e tortura simbolizados na máscara, nas produções de artistas contemporâneos como Yuri Cruz. “A pesquisa buscou entender como surgiu a imagem de Anastácia, sua disseminação e ressignificação com o tempo. O foco foi observar como essas imagens circulam e se transformam, principalmente nas devoções populares e na memória da escravidão”, afirmou o pesquisador.

O 1° Seminário de Pesquisas do LAPA - Laboratório de Artes e Políticas da Alteridade tem apoio do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros, Ipeafro, organização fundada por Abdias Nascimento na década de 1980. Entre 1985 e 1995, o Ipeafro realizou na UERJ o curso pioneiro Sankofa - Conscientização da Cultura Afro-Brasileira, com aulas ministradas por Abdias Nascimento, Nei Lopes - este ano de 2025 um dos autores mais celebrados da Festa Literária de Paraty (FLIP) - Helena Theodoro, Lélia Gonzalez, Joel Rufino, Muniz Sodré entre tantos, cujo conteúdo das aulas resultaram na coleção Sankofa: Matrizes Africanas da Cultura Brasileira. Composta por quatro volumes, organizado pela autora e co-fundadora Ipeafro, Elisa Larkin Nascimento, o curso teve grande importância na formação “decolonial” de gerações. 

A sigla do grupo de pesquisa, “Lapa”, faz referência ao famoso bairro carioca, internacionalmente conhecido pela boemia, malandragem, samba, arte, cultura de rua e, sobretudo, encruzilhadas. Organiza-se como um laboratório científico onde encontros, afetos e trocas de conhecimento são estruturados em dois eixos centrais: arte, políticas da alteridade e cultura popular, que estuda as intersecções entre o sistema de arte e cultura e manifestações populares; e arte e relações étnico-raciais, que investiga as dimensões étnico-raciais na produção artística e cultural através de abordagens transnacionais e diaspóricas. Para Maurício Barros de Castro, coordenador do LAPA,  “esse é um seminário que traz a possibilidade de devolver para um público amplo, inclusive de fora da universidade, as pesquisas realizadas pelo LAPA no âmbito do mestrado e doutorado desenvolvidas nos programas de pós-graduação em Artes (PPGARTES) e História da Arte (PPGHA) da UERJ”.

 DESTAQUES

  1. Participação Internacional:
    A pesquisadora doutoranda Thais Rocha, da Universidade do Texas em Austin, que ministrará a palestra "Mulheres negras na fotografia contemporânea: Ana Lira e Valda Nogueira" no dia 13/08/2025, na Mesa 2, às 15h30, apresentando análises sobre como essas artistas desafiam padrões hegemônicos através de suas produções visuais.
     
  2. Tese indicada ao Prêmio CAPES (2025):
    Bernardo Marques-Baptista, cuja tese de doutorado foi indicada pelo Programa de Pós-graduação em História da Arte (UERJ) ao Prêmio Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) em 2025 em 2025, abordará "Anastácia e suas agências: devoção e circulação de memórias e imagens" no dia 13/08/2025, na Mesa 1, às 14h, compartilhando suas investigações sobre iconografia religiosa e memória cultural.

SERVIÇO 

1° Seminário de Pesquisas do Laboratório de Artes e Políticas da Alteridade (Lapa-Uerj)
Data: 13 de agosto de 2025 (quarta-feira)
Horário: 13h30 às 17h (seminário público)
Local: Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica | Rua Luís de Camões, Praça Tiradentes, 68, Rio de Janeiro
Entrada: Gratuita e aberta ao público (sem necessidade de inscrição prévia)
Organização: Julio Menezes Silva, Maurício Barros de Castro e Raquel Fernandes.

Apoio: Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro), Centro Cultural Hélio Oiticica e Target Comunicação
Sorteio: três (3) do catálogo "Abdias Nascimento e o Museu de Arte Negra" (Ipeafro-Inhotim) 

 

PROGRAMAÇÃO COMPLETA

MESA 1 | 13h30 – 15h00

Palestrante 1: Bernardo Marques-Baptista
Tema: Anastácia e suas agências: devoção e circulação de imagens e memórias 

Resumo: O desenvolvimento da pesquisa objetivou investigar a circulação de imagens de Anastácia, personagem que agencia devoções e memórias em contextos culturais diversos, observando como a imagem foi moldada, difundida e reinterpretada ao longo do tempo. 


Palestrante 2: Julio Menezes Silva
Tema: Museu de Arte Negra 75 a: passado, presente, ancestral
Resumo: 

Intervalo | 15h00 – 15h15 

Haverá uma mesa com café, bolo, água e frutas para os participantes.

Mesa 2 | 15h15 – 16h45

Palestrante 1: Amanda Resende
Tema: Dialética do isolamento: curadoria e alteridade na poética de Ana Mendieta
Resumo: O estudo aborda os desdobramentos poéticos e políticos da obra de Mendieta, explorando temas como deslocamento, construção de identidade e corpo no campo da arte.

Palestrante 2: Thaís Rocha
Tema: Mulheres negras na fotografia contemporânea: Ana Lira e Valda Nogueira
Resumo: O Estudo investiga a fotografia e a representação negra feminina a partir da produção das artistas Ana Lira e Valda Nogueira.

Encerramento | 16h45 – 17h00 

Sorteio dos três (3) catálogos exclusivos para os presentes, seguido de foto de confraternização e encerramento das atividades. 

PALESTRANTES (por ordem alfabética)

Amanda Resende | Amanda Rezende é mestre em História da Arte pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), na linha de pesquisa Arte e Alteridade. Atua como curadora assistente no Museu de Arte do Rio, com foco em práticas curatoriais que articulam arte, política e sociedade. Em sua pesquisa de mestrado, investigou a atuação da artista Ana Mendieta na cena artística nova-iorquina dos anos 1970, com ênfase em sua participação na A.I.R. Gallery e na curadoria da exposição Dialectics of Isolation: An Exhibition of Third World Women Artists of the United States [Dialética do Isolamento: Uma Exposição de Mulheres Artistas do Terceiro Mundo dos Estados Unidos] (1980). O estudo aborda os desdobramentos poéticos e políticos da obra de Mendieta, explorando temas como deslocamento, construção de identidade e corpo no campo da arte

Bernardo Marques-Baptista | Doutor em História da Arte (UERJ), mestre em Arte e Cultura Contemporânea (PPGARTES-UERJ), bacharel em Produção Cultural (UFF) e licenciado em Artes Visuais (UniCV). Integra o Laboratório de Artes e Políticas da Alteridade (UERJ) e o Museu AfroDigital Rio (UERJ) desenvolvendo investigações sobre os percursos e circulações de imagens e monumentos na contemporaneidade. Atua como curador independente de projetos que abarcam expressões artísticas, celebrações e festas, fé e religiosidades, saberes e fazeres tradicionais.

Julio Menezes Silva | Jornalista, mestre em história da arte (UERJ), diretor-executivo do Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Co-curador da exposição inaugural do SESC Franca (2024–25) sobre o legado de Abdias Nascimento, da mostra "Borboletas de Franca" (2021-24) no Museu de Arte Negra-Ipeafro no ambiente virtual, e dos quatro atos expositivos em torno do acervo de Abdias Nascimento e do Museu de Arte Negra no Instituto Inhotim (2021–24). Integrou a equipe de pesquisa da exposição Teatro Experimental do Negro nas fotografias de José Medeiros (2025), uma realização em parceria do Ipeafro com o Instituto Tomie Ohtake (SP). Antes, foi repórter na TV Brasil (2011–12) e produtor no Sportv/TV Globo (2012–15), com coberturas jornalísticas nos Jogos Olímpicos de Londres, Taça Libertadores da América e Copa do Mundo de 2014.

Thaís Barbosa Rocha | Desenvolve pesquisa de doutorado no Departamento de Espanhol e Português da Universidade do Texas, Estados Unidos, sobre sítios arqueológicos que tornaram-se lugares de memória da escravatura. É mestre pelo Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) com a pesquisa “Mulheres negras na fotografia contemporânea” [Ana Lira e Valda Nogueira] . É formada pela Escola de Fotografia Popular | Imagens do Povo | Observatório de Favelas. Atuou como assistente de pesquisa e de produção do FotoRio – Encontro Internacional de Fotografia do Rio de Janeiro. Participa de exposições fotográficas coletivas como autora e curadora.

COMISSÃO ORGANIZADORA DO SEMINÁRIO ( EM ORDEM ALFABÉTICA)

Me. Julio Menezes Silva
Dr. Maurício Barros de Castro
Me. Raquel Fernandes

COORDENAÇÃO DO LABORATÓRIO DE POLÍTICAS DE ARTES E POLÍTICA DA ALTERIDADE - LAPA

Maurício Barros de Castro é doutor em História pela Universidade de São Paulo (USP). Professor Associado do Departamento de Teoria e História da Arte (DTHA) do Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Professor permanente do Programa de Pós-graduação em História da Arte (PPGHA) da UERJ. Foi Professor Visitante Sênior na Universidade da Califórnia, Berkeley, durante o período de 01/08/2019 a 31/01/2020, com bolsa da CAPES, no âmbito do Programa CAPES PRINT da UERJ. Coordena o LAPA - Laboratório de Artes e Políticas da Alteridade, grupo de pesquisa registrado pelo CNPQ-UERJ. Entre as suas publicações mais recentes está o livro Carnaval-Ritual: Carlos Vergara e Cacique de Ramos (Editora Cobogó, 2021), indicado entre os dez finalistas do Prêmio Jabuti de 2022, categoria Não-ficção/Artes. Também possui artigos publicados em periódicos internacionais, como Studies in Visual Arts and Comunication (2019), AM Journal of Art and Media Studies (2018) e African and Black Diaspora (2016).

SOBRE O LAPA

Grupo de pesquisa certificado pelo CNPq, criado em 2018, vinculado ao Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). O LAPA possui duas linhas de pesquisa. São elas: Arte, políticas da alteridade e cultura popular e Arte e relações étnico-raciais. A linha Arte, políticas da alteridade e cultura popular investiga os intercâmbios, conexões, conflitos e negociações entre os campos das artes visuais e da cultura popular no âmbito das políticas da alteridade. A linha de pesquisa Arte e relações étnico-raciais aborda as conexões entre os campos da arte, da cultura e das relações étnico-raciais, por meio de uma perspectiva interdisciplinar e transnacional. O Lapa tem a coordenação do professor Dr. Maurício Barros de Castro

SOBRE O IPEAFRO

Fundado por Abdias Nascimento e Elisa Larkin Nascimento em 1981, o Ipeafro é uma associação sem fins lucrativos com sede no Rio de Janeiro. Sua missão é preservar, gerir, articular e difundir o acervo de Abdias Nascimento para a permanência de memória e resistência. O acervo contém uma coleção museológica da própria produção artística de Nascimento e de obras doadas para da coleção do projeto Museu de Arte Negra, que nasceu da atuação do Teatro Experimental do Negro, fundado e dirigido por Nascimento a partir de 1944. O acervo documental do Ipeafro reúne a iconografia e os documentos de texto (recortes de jornais e revistas, programas teatrais, manuscritos, correspondências, registros de sua atuação parlamentar, e assim por diante) de Abdias Nascimento e das organizações que ele criou. O conteúdo do acervo possibilita ações com múltiplas expressões nos mais variados contextos. Com base no conteúdo do acervo, o Ipeafro desenvolve ações culturais e educativas através de exposições, fóruns, cursos, oficinas e publicações. O Ipeafro disponibiliza e difunde o conteúdo do acervo também por meio de seu site e outros canais na internet.

SOBRE O CENTRO MUNICIPAL CULTURAL HÉLIO OITICICA

Localizado no entorno da Praça Tiradentes, o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica (CMAHO) está situado em um belíssimo edifício histórico no estilo neoclássico construído para sediar o Conservatório de Música.  Inaugurado em 1872, o edifício foi ampliado dezoito anos mais tarde, com a anexação de dois prédios, sob orientação do arquiteto italiano Sante Bucciarelli, quando recebeu o desenho atual. Inaugurado em 1996 para abrigar parte do acervo de obras do artista Hélio Oiticica, manteve ao longo de sua existência uma forte característica de centro cultural, sediando exposições de grandes artistas brasileiros e estrangeiros e apoiando suas produções mais recentes.  No final dos anos 2000 o acervo de Oiticica foi transferido para outro local. Distribuído em três andares, possui seis espaços para exposições, dois mezaninos e duas salas multiuso. Além disso, também dispõe de um auditório para cem pessoas, ideal para palestras, apresentações teatrais e musicais e um simpático café.

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Rafaela dos Santos Barbosa
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