As transformações climáticas e os avanços tecnológicos estão moldando um cenário em que novas profissões surgem enquanto outras desaparecem. Essa transição demanda políticas públicas, inovação e integração entre diferentes setores, com atenção especial à gestão dos recursos hídricos. Esse foi um dos desafios tratados no painel “Água, Saneamento e Clima”, promovido pela Fundação Energia e Saneamento (FES), em co-curadoria com a Quintessa, em 5 de agosto, no Sesc Bom Retiro, em São Paulo, durante a São Paulo Climate Week (SPCW) 2025.
Para aprofundar esse debate, o encontro reuniu especialistas, gestores públicos, empresas, universidades e organizações sociais. Duas mesas temáticas discutiram tanto a evolução do marco regulatório quanto experiências que já estão transformando a maneira como comunidades, cidades e negócios lidam com a água. “O painel foi importante para ampliar a conexão entre instituições do terceiro setor, iniciativa privada, órgãos de governo e organizações comunitárias”, afirmou Claudinéli Moreira Ramos, presidente do Conselho de Administração da FES e mediadora da primeira mesa do evento.
A partir dessa perspectiva, Claudinéli destacou que a transição sustentável também influencia o mercado de trabalho. “As novas profissões do futuro são um desafio que precisamos encarar com atenção. Temos funções sumindo com os avanços tecnológicos e, por outro lado, oportunidades de desenvolver trabalhos relevantes, atrelados a soluções baseadas na natureza”, disse. Ela citou atividades como reaproveitamento e reciclagem de resíduos, restauração ecológica, paisagismo e jardinagem com espécies nativas, quintais produtivos e desenvolvimento de novas técnicas e materiais construtivos sustentáveis como exemplos de áreas que devem crescer, lembrando que “tudo isso tem muito a ver com quantidade e qualidade da água.”
No campo regulatório, a primeira mesa analisou os impactos do Marco Legal do Saneamento Básico, reforçando a necessidade de colaboração entre municípios e estados para que as metas sejam alcançadas. “São desafios gigantescos. Tivemos que repensar o arcabouço regulatório e a forma de oferecer serviço para a população com o objetivo de ampliar a cobertura. A mobilização é para soluções conjuntas”, observou André Machado, coordenador de Relações Institucionais e Comunicação do Instituto Trata Brasil.
Ainda nessa linha, Thaís Mallmann, superintendente Regulatória e de Governança Corporativa da Abcon Sindcon, alertou para a ausência de protagonismo do saneamento nos programas de governo. “Vemos propostas para educação, saúde e meio ambiente, mas falta uma preocupação equivalente com saneamento. É preciso cobrar que os programas de governo incluam essa pauta, porque sem saneamento não há saúde nem preservação ambiental”, destacou.
Complementando a discussão, Samanta Souza, diretora executiva de Relações Institucionais e Sustentabilidade da Sabesp, lembrou que a sociedade tem um papel ativo nesse processo. “Todos os planos municipais ou regionais passam por audiências e consultas públicas. É importante conscientizar as pessoas para que contribuam com sugestões que enriqueçam os projetos.”
Inovação e parcerias
Na segunda mesa, a atenção se voltou para inovação, parcerias e governança como caminhos para acelerar soluções. Lígia Camargo, diretora de Sustentabilidade do Grupo Heineken, defendeu mais transparência e acesso à informação. “Um dos meus desejos é a democratização dos dados, dar mais informação de forma palatável para todos os stakeholders. Também é importante que, do outro lado, os consumidores perguntem. Nada melhor que a curiosidade, a demanda e o questionamento do consumidor para que a organização se mova”, enfatizou.
Essa visão foi reforçada por Juan Rios, gerente de soluções climáticas da Kilimo, que defendeu a necessidade de ampliar o alcance das iniciativas. “Com a escalabilidade, será possível integrar empresas, produtores rurais e organizações públicas preocupadas com os recursos hídricos, gerando maior impacto e oportunidade”, destacou.
Por sua vez, Anderson Esteves, diretor de Recursos Hídricos do SP Águas - Agência de Águas do Estado de SP, lembrou que a saúde das bacias hidrográficas está diretamente ligada ao desenvolvimento econômico. “É preciso trazer para as instituições o conceito de ‘hidrosolidariedade’. A intervenção a montante impacta toda a sociedade a jusante. Sem bacia saudável não há segurança hídrica e sem isso não existe cidade nem negócio”, pontuou.
O painel foi encerrado com um alerta de Samuel Barreto, gerente de Água da The Nature Conservancy (TNC Brasil) sobre a importância de manter os avanços já conquistados. “Um dos meus desejos seria que pudéssemos continuar progredindo em torno desse entendimento, sem fragilizar tudo o que veio na esteira da Constituição. Isso é essencial para dar clareza aos tomadores de decisão diante das mudanças climáticas”, concluiu.
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BARTIRA BETINI NUNES
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