Há uma revolução em curso nas academias brasileiras, que não acontece apenas nos halteres ou nas esteiras. Em silêncio, plataformas de e-commerce, sistemas de gestão e modelos híbridos estão redefinindo o próprio significado de “ir à academia”. O que antes era um espaço físico com equipamentos, professores e rotinas semanais, agora se estende a aplicativos, carrinhos digitais e pacotes personalizados vendidos com um clique. O e-commerce, que já transformou moda, alimentação, turismo, passou também a moldar o universo do fitness.
Os números impressionam. Só em 2024, pequenas e médias empresas do setor movimentaram cerca de R$ 160 milhões em vendas online de creatina, roupas esportivas e acessórios de treino, segundo o portal E-Commerce Brasil. No mesmo ano, o país superou 56 mil academias ativas, um salto de 200% desde 2014, conforme o Sebrae. Esse crescimento acirra a necessidade de diferenciação e digitalização.
Plataformas como o GymPass integram venda de planos, controle de acesso, cobrança automática e até reconhecimento facial. O aluno passa a ser, também, consumidor de experiências digitais contínuas. O que se vê é uma mudança estrutural, impulsionada por três motores: conveniência, personalização e diversificação de receita.
Embora a pandemia tenha acelerado esse processo, a digitalização não foi só efeito dela. Academias deixaram de depender exclusivamente da mensalidade para apostar em uma esteira paralela de produtos, serviços remotos e conteúdo sob demanda. Aulas online, treinos via app e e-books com programas personalizados passaram a fazer parte da prática contemporânea. Dados da Fitness Brasil (2024) mostram que o modelo híbrido — combinando o presencial com o digital — já é adotado por boa parte das academias, em resposta à busca por flexibilidade.
Mais do que vender, as academias se comunicam como marcas omnichannel. Engajam nas redes, criam comunidades virtuais, usam CRM e oferecem soluções para públicos específicos: idosos, iniciantes, pessoas com deficiência. A ideia de que o aluno “vai” até a academia cede espaço a uma presença constante da academia na rotina digital do aluno: treino ao vivo pela manhã, suplemento comprado pelo app à tarde, feedback via WhatsApp à noite.
Mas nem tudo são endorfinas. A digitalização levanta dilemas sobre padronização de serviços, limites da automação no cuidado com o corpo e exclusão digital em regiões menos conectadas. Vender online não é só ter um site bonito. Exige repensar toda a jornada do cliente.
O fato é que, se antes o e-commerce era um “extra”, hoje faz parte do core business das academias. Quem resistir a essa integração pode ver seus alunos sendo seduzidos por modelos mais ágeis e centrados no consumidor, porque a academia digital não se resume a um login. Começa na escuta ativa, passa pela personalização da jornada e culmina em uma nova fidelidade. Uma fidelidade que nasce tanto no treino quanto na experiência de compra.
No novo cenário das academias, quem não acompanhar a tecnologia vai suar para permanecer no mercado.
*Luciano Furtado C. Francisco é analista de sistemas, administrador e especialista em plataformas de e-commerce. É professor do Centro Universitário Internacional – Uninter, onde é tutor no curso de Gestão do E-Commerce e Sistemas Logísticos e no curso de Logística.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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