Agosto é conhecido como o mês dourado porque simboliza o valor do leite materno o alimento ideal para o bebê, rico em nutrientes, fatores imunológicos e elementos essenciais ao desenvolvimento. Ele fortalece a imunidade, protege contra doenças e cria um vínculo afetivo fundamental para a saúde e o bem-estar do bebê.
Apesar de seus inúmeros benefícios comprovados, para muitas mulheres amamentar está longe de ser algo simples ou instintivo. O que tantas vezes é retratado como natural pode, na prática, ser marcado por dor, exaustão, insegurança e cobranças. Como mulher e profissional da saúde, acompanhei mães que se sentiram frustradas por não conseguirem amamentar como esperavam ou por não viverem a experiência de forma prazerosa. Por isso, o agosto Dourado precisa ir além dos símbolos e campanhas bonitas: deve ser um convite urgente à transformação real no modo como apoiamos quem amamenta.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o aleitamento exclusivo até os seis meses e a complementação com outros alimentos até pelo menos os dois anos. Ainda assim, no Brasil, menos da metade dos bebês menores de seis meses são alimentados exclusivamente com leite materno. Dados recentes do Ministério da Saúde indicam cerca de 45,8%, enquanto a meta da OMS é atingir 70% até 2030. Essa distância entre o ideal e o real revela o quanto ainda há a ser feito.
E por que tantas mulheres não conseguem seguir essa recomendação? Porque amamentar não depende só de instinto. Depende de apoio, tempo, informação e estrutura. No início, pode doer, e muito. A pega nem sempre é correta, o peito pode empedrar, a mulher se sente cansada, exausta e, muitas vezes, sozinha. O aleitamento exige paciência, persistência e, sobretudo, acolhimento.
Nem todas têm acesso a uma bomba extratora, nem todas conseguem parar para amamentar a cada três horas, nem todas têm um parceiro ou uma rede de apoio que entenda a importância do que estão fazendo. E nem todas conseguem amamentar e isso também precisa ser dito com empatia e respeito. A romantização da amamentação muitas vezes silencia a dor e a dificuldade. Promover o aleitamento materno não pode ser apenas repetir que “é o melhor para o bebê”. Isso, as mães já sabem. O que elas precisam é de políticas públicas que funcionem: licença-maternidade ampliada, salas de amamentação nos locais de trabalho, apoio profissional na atenção básica, bancos de leite bem equipados e campanhas que falem com verdade e acolhimento.
O mês dourado deve ser o mês em que dizemos, com todas as letras, que amamentar é um direito e não um dever solitário. Respeitar a mulher que amamenta, a que tentou, a que não conseguiu e a que precisou parar é parte fundamental dessa construção. Em vez de pressionar, é hora de apoiar. Porque mais do que instinto, amamentar é um ato de resistência. E nenhuma mulher deveria ter que resistir sozinha.
*Vaniele Silva Pinto Pailczuk, enfermeira, especialista em UTI/ Urgência e Emergência, professora e tutora de cursos de pós-graduação na área da saúde no Centro Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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