Não se resolve a crise climática sem enfrentar as desigualdades sociais e justiça climática deve entrar na mira dos investimentos
Na corrida contra a crise climática, especialistas alertam: desenvolvimento econômico só será viável se incluir justiça social e financiamento para quem mais precisa
TATIANA FERRADOR
01/07/2025 14h07 - Atualizado há 2 dias
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O avanço da crise climática exige mais do quTe compromissos com redução de emissões. Exige que os fluxos financeiros globais sejam urgentemente redirecionados para apoiar soluções que promovam inclusão social e justiça climática, especialmente em países em desenvolvimento como o Brasil. O fato é que a crise climática agrava desigualdades e atinge mais duramente quem já vive em situação de vulnerabilidade. Ou seja, enquanto não for priorizada a justiça social no centro das decisões, a transição verde não se concretiza. A conta chegou. E não pode ser paga pelos mais pobres. “Não existe desenvolvimento sustentável se metade da população brasileira vive abaixo da linha da pobreza”, afirma Linda Murasawa, especialista em desenvolvimento sustentável. Ela alerta que é preciso superar a lógica da filantropia e tornar inclusão social e justiça climática pilares da economia. A análise faz parte do estudo Top Trends COP 30, da consultoria Ideia Sustentável, que reúne as principais tendências e desafios para o enfrentamento da crise climática no Brasil e no mundo. Apesar da abundância de capital no mercado global, os investimentos em ações climáticas que priorizam inclusão e bem-estar social ainda estão muito aquém do necessário. Para os especialistas ouvidos no estudo, é preciso sair de uma lógica assistencialista e colocar a justiça climática no centro das estratégias de desenvolvimento e dos modelos de negócios — não como filantropia, mas como pilar estrutural. “As ações que vemos hoje são muito pontuais, muitas vezes baseadas em filantropia. Mas isso não resolve. Metade da população brasileira está abaixo da linha da pobreza”, alerta Linda, que destaca que o desafio de conciliar desenvolvimento econômico com redução de emissões passa, necessariamente, pela melhoria das condições de vida das pessoas. “Quando falamos de refugiados climáticos, não estamos falando só de migração entre países, mas também de deslocamentos internos forçados pela crise ambiental e econômica”, ressalta. O Brasil tem uma oportunidade única de se tornar um modelo global de desenvolvimento com inclusão. “Se conseguirmos mostrar que é possível crescer economicamente promovendo inclusão social e justiça climática, seremos um mega case mundial — não baseado em filantropia, mas em um novo modelo de negócios e desenvolvimento sustentável.” Esse movimento, aliás, já começa a ganhar espaço nas discussões internacionais e deve estar no centro dos debates da COP 30, que será realizada no Brasil. A especialista destaca que há uma crescente pressão para que os mecanismos financeiros globais sejam reconfigurados de modo a atender, de forma justa, as necessidades dos países mais vulneráveis às mudanças climáticas. Da filantropia ao protagonismo O estudo também destaca que o avanço desse modelo de financiamento inclusivo depende diretamente do fortalecimento da governança pública e privada. Para a advogada e especialista em justiça climática Flávia Bellaguarda, é preciso deixar de tratar justiça climática como tema acessório. “Não se resolve a crise climática sem enfrentar as desigualdades sociais. Esse precisa ser o eixo central de qualquer política climática séria.” Na mesma linha, a advogada Gabriela Blanchet, embaixadora da iniciativa de governança climática do Fórum Econômico Mundial no Brasil, reforça que as respostas ainda são reativas e que falta ambição política para enfrentar o problema. “O país está sob os holofotes com a realização da COP 30, mas se não resolvermos as questões de governança e financiamento, perderemos uma oportunidade histórica.” Ela também observa que os impasses internacionais sobre quem deve financiar a adaptação continuam travando avanços. “Os países ricos, historicamente responsáveis pela maior parte das emissões, deveriam assumir mais essa conta. Mas, na prática, isso ainda é muito lento.” A especialista Chantal Pillet, diretora da Kroll e especialista em combate à fraude e corrupção, observa que não faltam recursos no mundo. “O que falta é alocação eficiente dos recursos, com foco em soluções sustentáveis e inclusivas. Precisamos de modelos que integrem resiliência, justiça social e viabilidade econômica”. Caminhos para avançar O relatório aponta que o financiamento inclusivo não deve ser encarado como um custo, mas como investimento estratégico na construção de sociedades mais resilientes, justas e preparadas para os desafios climáticos. Entre as recomendações das especialistas, estão: - Fortalecer estruturas locais de financiamento climático, com foco em soluções que promovam bem-estar social e inclusão;
- Incorporar justiça climática como pilar das políticas públicas e dos modelos de negócios;
- Redirecionar parte dos fluxos financeiros globais para projetos de adaptação, mitigação e desenvolvimento sustentável nos países mais vulneráveis;
- Aproveitar a COP 30 para posicionar o Brasil como referência global em desenvolvimento sustentável com justiça social.
A Ideia Sustentável, empresa especializada em soluções humanizadas de ESG para todos os segmentos do mercado, desenvolveu um o estudo, o Top Trends COP 30 - que analisa as 22 tendências e desafios relacionados com os seus grandes temas que serão debatidos durante a COP 30. Entre os temas em destaque estão: - Redução das emissões de GEE;
- Adaptação às mudanças climáticas;
- Financiamento climático;
- Tecnologias de energia renovável e soluções de baixo carbono;
- Preservação de florestas e biodiversidade;
- Justiça climática.
Para ter acesso ao estudo completo, acesse: www.ideiasustentavel.com.br. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
Tatiana Ferrador Neix de Brito
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FONTE: Ideia Sustentável