Neste ano, a Semana Mundial do Meio Ambiente lança luz sobre um dos desafios mais críticos da atualidade, a crise do plástico, que ameaça ecossistemas, saúde e a economia. A meta de reduzir drasticamente o consumo e o descarte inadequado desse material enfrenta retrocessos e alguns avanços, sendo a reciclagem considerada como um caminho para redução da poluição plástica.
Em termos de reciclagem, de acordo com o Center for Climate Integrity - CCI (Centro para a Integridade Climática), apenas 9% do plástico global é reciclado. Países como Alemanha, Áustria e Coreia do Sul lideram, reciclando mais de 50% dos resíduos plásticos gerados. Atrás apenas dos Estados Unidos, China e Índia, o Brasil tem um dos menores índices, recicla cerca de 1,3% de seus resíduos plásticos pós-consumo.
No Brasil, plásticos recicláveis incluem PET (garrafas), PEAD (detergentes) e PP (potes de margarina). Já materiais como isopor (poliestireno expandido), EVA e absorventes possuem reciclagem mais complexa ou inviável em larga escala. O isopor pode ser reciclado, mas a coleta e o transporte não compensam economicamente. O EVA, muito usado em artesanato e calçados, ainda não possui cadeia de reciclagem estruturada. Absorventes, por serem resíduos sanitários contaminados, não são recicláveis.
Ainda, o relatório da CCI expôs que reciclar plástico é, em grande parte, inviável. Segundo a investigação, empresas petroquímicas promoveram a reciclagem como solução, enquanto sabiam, há décadas, de suas limitações técnicas e econômicas. O plástico é difícil de reciclar, degrada-se a cada ciclo e, muitas vezes, criar produtos sai mais barato do que reciclar. Assim, a verdadeira solução, segundo o relatório, é reduzir drasticamente a produção e o consumo.
Estima-se que cerca de 12 milhões de toneladas entram nos oceanos a cada ano. Além do plástico visível, existe outra ameaça invisível: recentemente, pesquisadores encontraram na Fossa das Marianas – área mais profunda conhecida na Terra, 13.500 partículas de microplásticos por metro cúbico, a 6.800 metros de profundidade, conforme publicado na revista Nature.
Hoje, aproximadamente 14 milhões de toneladas de microplásticos poluem os fundos oceânicos, afetando desde organismos microscópicos até grandes predadores marinhos. O litoral brasileiro também sofre: segundo o Instituto Oceanográfico da USP, milhares de toneladas de resíduos plásticos são depositadas anualmente nas praias e manguezais, ameaçando ecossistemas frágeis.
Em termos de inovação, diversas empresas e startups apostam em bioplásticos, polímeros biodegradáveis e embalagens compostáveis como alternativas aos derivados de petróleo. Grandes marcas têm investido em sistemas de refil, modelos de economia circular e aderiram ao pacto global para reduzir o uso de plásticos virgens. Algumas iniciativas também ganham destaque, com tecnologias que visam remover resíduos plásticos dos oceanos. Além disso, sistemas de logística reversa e reciclagem química, capazes de quebrar o plástico em seus componentes moleculares, começam a ganhar escala.
A Semana Mundial do Meio Ambiente provoca uma discussão importante, pois o enfrentamento da crise do plástico requer mudança sistêmica. Substituição de materiais, ampliação de legislações que restrinjam plásticos descartáveis e incentivo à inovação em embalagens sustentáveis são algumas das ações necessárias. Para além da reciclagem, é necessário reduzir drasticamente a produção e transformar padrões de consumo.
*Larissa Warnavin é geógrafa, mestre e doutora em Geografia. Docente da Área de Geociências do Centro Universitário Internacional Uninter.
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JULIA CRISTINA ALVES ESTEVAM
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