Por que, mesmo após décadas de campanhas e eventos ambientais, os problemas do planeta continuam a se intensificar? Porque a verdadeira mudança não vem apenas da conscientização — ela exige uma mudança profunda nos comportamentos sociais, econômicos e institucionais. Essa transformação deve ser oriunda de uma mudança de comportamento dos mercados, das escolhas de consumo, de incentivos políticos e dos fluxos financeiros.
Neste 5 de junho de 2025, o mundo volta seus olhos para o meio ambiente, refletindo sobre os avanços conquistados e, principalmente, sobre os desafios urgentes que ainda enfrentamos. Este ano, o tema do Dia Mundial do Meio Ambiente, liderado pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), é “Combater a Poluição por Plásticos” — um símbolo da crise ambiental moderna.
A Crise Tripla Planetária
O PNUMA aponta que estamos vivendo uma “crise planetária tripla”, formada por três frentes interconectadas:
1. Mudanças Climáticas
Ondas de calor recordes, inundações devastadoras e secas extremas não são mais exceções. A mudança climática já afeta a saúde, a produção de alimentos, a economia e a segurança de milhões de pessoas no mundo.
2. Perda de Biodiversidade
Relatórios mostram que 1 milhão de espécies estão ameaçadas de extinção. Até mesmo áreas protegidas estão registrando declínios alarmantes em populações de insetos e animais polinizadores, essenciais para nossa segurança alimentar.
3. Poluição generalizada
Do ar que respiramos aos oceanos que sustentam a vida marinha, a poluição continua a comprometer a saúde pública e os ecossistemas — com destaque especial para os resíduos plásticos, que já foram encontrados no sangue humano e nos pulmões de recém-nascidos.
A Crise do Plástico: símbolo da urgência
Por que escolher o plástico como tema?
O plástico é o símbolo da modernidade, graças a esse material avançamos na medicina com materiais descartáveis e seguros, aumentamos a conservação de alimentos, tornamos os transportes mais leves e eficientes, viabilizamos tecnologias como celulares e computadores, barateamos a construção civil, ampliamos o acesso a bens de consumo e impulsionamos a ciência com equipamentos laboratoriais práticos e acessíveis.
Contudo, o uso excessivo, descartável e mal gerido do plástico se transformou em uma crise global. A produção em massa aliada à falta de sistemas eficazes de coleta e reciclagem resultou em oceanos contaminados, solo poluído, impacto na biodiversidade e riscos à saúde humana.
Mais de 430 milhões de toneladas de plástico são produzidas por ano. Cerca de 19 milhões de toneladas vazam para os rios, oceanos e solos — contaminando tudo ao redor. De acordo com o World Economic Forum, os custos sociais e ambientais da poluição plástica já ultrapassam US$ 300 bilhões por ano.
O que realmente muda o jogo?
Apesar da importância da educação ambiental, ela sozinha não é suficiente para enfrentar crises globais. A transformação real exige ações coordenadas e estruturais. Veja como:
1. Políticas públicas eficazes
Criação de regulações ambientais ambiciosas
Incentivos fiscais para inovação sustentável
Fiscalização ativa e transparente
2. Redirecionamento dos fluxos financeiros
Ampliação de investimentos verdes e socialmente responsáveis
Taxonomias sustentáveis e critérios ESG padronizados
Financiamento de negócios com impacto positivo
3. Transformação dos modelos de negócios
Integração da sustentabilidade na cadeia de valor
Economia circular como padrão
Transparência na governança socioambiental
4. Mudança no consumo
Estímulo à cultura do “menos é mais”
Incentivo ao reuso, reparo e reciclagem
Pressão do consumidor por produtos éticos e duráveis
5. Alianças multissetoriais
Cooperação entre governos, empresas, academia e sociedade civil
Pactos climáticos e acordos internacionais (como o tratado global sobre plásticos)
Indicadores e métricas compartilhadas para medir impacto real
Hoje, o nosso desafio não é eliminar totalmente o plástico, é repensar como o produzimos, usamos e descartamos.
Por Dra. Denise Curi, PhD.
Doutora em Engenharia de Produção, com foco em Orientação para o Mercado em Empresas de Tecnologia pela Escola Politécnica da USP e equivalência em Gestão Industrial pela Universidade de Aveiro. Mestre e Bacharel em Administração de Empresas na área de Cultura Organizacional e Gestão da Qualidade, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Desde 2018, vive na cidade do Porto, onde é investigadora na Universidade de Aveiro.
Atualmente, dedica-se à Denpec Desenvolvimento Profissional e Consultoria. Teve um papel fundamental na implementação da reciclagem de PET em larga escala no Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai. Na área acadêmica, ministrou aulas na FIA-USP (Fundação Instituto de Administração), Centro Paula Souza e Universidade Mackenzie. É autora do livro “Gestão Ambiental” (Editora Pearson), além de diversos artigos e capítulos de livros sobre sustentabilidade e inovação sustentável no Brasil e no exterior.
LinkedIn: Denise Curi PhD
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CINTHIA SOUTO RAMOS
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