O Portal Catarinas lança, nesta quarta-feira (4), a quinta temporada do podcast Narrando Utopias, trazendo a agroecologia como caminho possível para o enfrentamento à crise climática. A nova temporada destaca práticas e iniciativas que articulam saberes ancestrais e conhecimentos científicos voltados à adaptação e mitigação dos impactos causados pelos eventos climáticos extremos, que têm se tornado cada vez mais imprevisíveis, a exemplo das enchentes que devastaram o Rio Grande do Sul em 2024.
Foram entrevistadas mulheres do campo, de centros urbanos, indígenas, agricultoras familiares e especialistas, que compartilham suas experiências e perspectivas diante de um cenário que exige repensar a relação com a natureza. Participam também professoras formadas pela Licenciatura em Educação do Campo, que relatam como a formação tem sido fundamental para sistematizar conhecimentos tradicionais e transformar vidas e territórios.
A produção foi selecionada pelo Edital Camp Serrapilheira 2024: Podcasts, do Instituto Serrapilheira, que apoiou produções lideradas por pessoas negras e que colocam a ciência e o método científico no centro das narrativas. As equipes escolhidas participaram de um treinamento híbrido e receberam apoio financeiro para a produção de uma temporada.
O treinamento foi conduzido pelo Laboratório 37, empresa de comunicação especializada em áudio e criadora do podcast 37 Graus. O programa ajudou a refinar as propostas dos podcasts selecionados, fortalecendo suas estratégias editoriais, técnicas e de distribuição. Os participantes desenvolveram habilidades em planejamento, marketing e viabilidade financeira, além de receberem aulas e mentorias com especialistas.
Além disso, a temporada conta com a parceria da editora Expressão Popular, fundada pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em colaboração com outros movimentos populares. O selo publica livros em diversas áreas, como educação, política, história, ecologia, literatura e cultura. Em cada episódio, os ouvintes recebem recomendações de leitura selecionadas especialmente para aprofundar os temas abordados.
Inspirado na perspectiva feminista da esperança e no pensamento do educador Paulo Freire, o Narrando Utopias se propõe a ir além da denúncia e anunciar possibilidades de mudança. Em um cenário de desinformação e ceticismo científico, as histórias buscam ser pontes entre sensibilização e ação, mostrando como as teorias ganham vida no cotidiano. Assim, o podcast encarna o ciclo freireano de ação–reflexão–ação com o propósito de catalisar o engajamento social e ambiental de sua audiência.
O primeiro episódio mergulha na trajetória de Ana Primavesi, engenheira agrônoma austríaca que se tornou uma das maiores referências da agroecologia no Brasil. Sobrevivente da Segunda Guerra Mundial e de um campo de concentração inglês, Primavesi chegou ao país nos anos 1940 e transformou a agricultura ao defender que o solo é um organismo vivo, essencial para a saúde humana e planetária.
Com mais de 100 publicações científicas, enfrentou críticas por desafiar práticas convencionais, mas manteve-se firme em sua luta. Seu trabalho revolucionou o estudo do solo e deu origem a técnicas de manejo ecológico que se tornaram referência mundial, estabelecendo as bases da agroecologia. Para ela, era urgente abandonar métodos produtivistas e predatórios, adotando uma abordagem que respeitasse os ciclos naturais e promovesse a biodiversidade. Sua visão inspirou uma nova geração de agricultores comprometidos com a preservação ambiental e a produção de alimentos saudáveis.
O segundo episódio investiga como a agroecologia pode ajudar a enfrentar as consequências das fortes chuvas, explicando a relação entre a degradação do solo e a ocorrência de enchentes e enxurradas. A agricultora familiar Sirlene Ramos, de Bonfim (MG), compartilha sua experiência com técnicas conhecidas como tecnologias sociais (barraginhas e caixas secas) implementadas para facilitar a infiltração da água da chuva nos lençóis freáticos. Ela também relata como o contato com a Rede de Intercâmbio de Tecnologias Alternativas, organização com a qual aprendeu as técnicas, transformou o modo como sua família planta e cuida da natureza.
No Rio Grande do Sul, a produtora de cogumelos Márcia Riva fala sobre os desafios enfrentados durante uma das maiores enchentes da história do estado, em 2024. Moradora de um assentamento do MST em Eldorado do Sul, um dos mais atingidos pela tragédia, ela destaca como as práticas agroecológicas contribuíram para preservar a estrutura do solo, mesmo diante da devastação. Riva também ressalta a capacidade de organização do assentamento e a solidariedade recebida, elementos que foram essenciais para a reconstrução do território.
No terceiro episódio, o destaque é o papel dos povos indígenas na proteção das florestas e, consequentemente, na manutenção do equilíbrio climático. Nesse contexto, as terras indígenas se mostram aliadas fundamentais tanto na contenção da degradação ambiental quanto na restauração dos ecossistemas, trazendo a história da Rede de Sementes do Xingu. A bióloga, Milene Alves, relembra como a iniciativa surgiu em 2007, em resposta ao avanço do desmatamento e da monocultura, que estavam deixando a “cabeça do Xingu doente” e conta como o trabalho como coletora de sementes transformou sua vida.
Já Raquel Tupinambá, liderança indígena do Baixo Tapajós (PA), aborda como o conceito de agroecologia tem sido ressignificado como uma ferramenta contra-colonial, que reconhece e valoriza os múltiplos modos indígenas de cultivo. Para ela, a agroecologia praticada pelos povos originários é uma alternativa potente diante das mudanças no clima e um meio de fortalecer o intercâmbio entre tradições, experiências e saberes coletivos.
Encerrando a temporada, o podcast aborda a criação da Licenciatura em Educação do Campo, uma formação essencial para o fortalecimento das comunidades rurais e a preservação dos saberes tradicionais. O episódio mostra como a licenciatura valoriza a vivência de sujeitas e sujeitos do campo e contribui para a luta pela terra, impactando territórios e modos de vida.
A narrativa acompanha as trajetórias de Magdielly Lima, professora e coordenadora escolar, cuja vida foi transformada pela educação; Mônica Molina, professora, pesquisadora, militante e uma das principais articuladoras do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera); e Maria Sales, professora egressa do curso que hoje leciona em Lagoa Grande do Maranhão (MA). Ao unir saberes científicos e ancestrais, o episódio final sintetiza a proposta do podcast: produzir conhecimento comprometido com a justiça social.
Créditos:
Inara Fonseca: locução, pesquisa e roteiro
Kelly Ribeiro: locução, pesquisa e roteiro
Ananda Omati: identidade sonora
Thially Lima: identidade visual
Marília Gaia: consultoria
Natália Silva: mentoria
Daniela Valenga: redes sociais
Paula Guimarães: diretora executiva do Portal Catarinas
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MARCIA DANIELA PIANARO VALENGA
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