Universo dos bebês reborn: um refúgio entre o afeto e a solidão emocional
Cuidado com bonecas hiper-realistas pode representar, para algumas mulheres, uma forma simbólica de superar perdas e buscar acolhimento emocional
BETE FARIA NICASTRO
27/05/2025 09h09 - Atualizado há 1 dia
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Brincar de boneca, tão comum na infância como apoio ao desenvolvimento emocional e cognitivo, tem ganhado novas dimensões na vida adulta. Os bebês reborn, antes vistos como objetos colecionáveis ou brinquedos, agora possuem contornos afetivos e despertam vínculos emocionais profundos. Em alguns casos, essa conexão tem contribuído significativamente para o bem-estar de pessoas em momentos de fragilidade emocional. “Atualmente vivemos em uma sociedade que valoriza a exposição e o compartilhamento de experiências, por isso acho que o recente fascínio coletivo dessas bonecas hiper-realistas está profundamente ligado à intensificação do uso das redes sociais – o que desperta curiosidade e engajamento”, diz a psicopedagoga Paula Furtado. Influenciadores digitais têm, na visão de Paula, um grande papel em legitimar certas condutas ao mostrar suas rotinas com esses bebês, e, de certa forma, criam um mundo paralelo onde algumas atitudes lúdicas são socialmente aceitas e até desejadas. “Além disso, acredito que o principal motivo dessa ‘febre’ seja o contexto de solidão emocional, ansiedade e distanciamento, onde essas bonecas acabam oferecendo uma ilusão, de afeto e vínculo, que conforta muitos indivíduos”, enfatiza. Entre o realismo e a simbologia O jeito como determinadas mulheres cuidam do objeto como filhas de verdade pode estar relacionado ao quão realistas elas parecem e, em alguns casos, pode ser um substituto simbólico de perdas (como luto ou infertilidade); em outros, uma forma de preencher lacunas afetivas. Paula explica: “Ela é incondicional: está ali sempre disponível, dócil e pronta para receber cuidado, o que pode ser extremamente sedutor para quem vivencia relações humanas desafiadoras. Além disso, não chora, não fica doente, não reclama, não oferece os desafios de um verdadeiro relacionamento.” Paula, que também é terapeuta, diz que transformar as reborn em um personagem pode reforçar uma idealização e um estado de negação da realidade. Isso pode dificultar a elaboração de dores emocionais e afetar a autoestima feminina, uma vez que algumas mulheres passam a se definir a partir dessa relação. A validação pública vira alimento emocional, o que pode ser perigoso quando não há limites claros entre o simbólico e o real. “Quando a boneca começa a ocupar o lugar das relações reais, impedindo a elaboração de experiências dolorosas, temos uma fuga, e a pessoa se refugia nessa ilusão para não lidar com a dor, o medo ou a frustração”, explica. Sem preconceito Um ponto que a especialista faz questão de destacar é que muitas mulheres que cuidam de reborn enfrentam olhares de julgamento ou piadas, especialmente quando o cuidado ultrapassa os limites do simbólico. Por isso, diversas se refugiam em comunidades on-line ou presenciais onde encontram acolhimento e identificação. Esses espaços, ainda de acordo com Paula, oferecem pertencimento, ainda que reforcem padrões não saudáveis. É fundamental que se observe este fenômeno com sensibilidade. Por trás de cada bebê reborn existe uma história. Antes de qualquer julgamento, é necessário compreender o que essa boneca representa para a mulher. “Em casos de sofrimento ou prejuízo na vida real, o diálogo familiar e a escuta profissional — por meio de atendimentos psicopedagógicos e arteterapêuticos — podem transformar essa relação simbólica em um caminho de cura, e não de aprisionamento”, finaliza Paula. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
MARIA ELISABETE DE FARIA NICASTRO
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