O que os nomes dos papas revelam sobre o futuro da Igreja

A tradição da escolha dos nomes papais revela intenções, inspirações e estratégias dos pontífices ao assumirem o comando da Igreja Católica

MARCOS VIESI
09/05/2025 15h57 - Atualizado há 19 horas

O que os nomes dos papas revelam sobre o futuro da Igreja
Foto de Davide Cacciatori

A escolha de um nome papal é um dos gestos mais emblemáticos do início de um pontificado. Mais do que uma formalidade, esse ato carrega significados profundos sobre as intenções do novo líder da Igreja Católica e sinaliza a direção espiritual e pastoral que ele deseja seguir. Segundo a Britannica School, essa tradição teve início em 533, quando o papa João II, nascido Mercúrio, decidiu trocar seu nome para evitar a associação com o deus pagão romano. Desde então, nenhum pontífice manteve o nome de batismo ao assumir o trono de Pedro.

O papado — do latim papa, derivado do grego pappas, que significa “pai” — é o ofício e a jurisdição do papa, que preside a Santa Sé, o governo central da Igreja Católica Romana, a maior das três principais ramificações do cristianismo. Inicialmente, o título de "papa" era aplicado a todos os bispos do Ocidente, mas em 1073 o Papa Gregório VII restringiu seu uso ao bispo de Roma, uma prática que já se consolidava desde o século IX. Curiosamente, o título ainda é usado pelo patriarca de Alexandria, hoje líder da Igreja Ortodoxa Copta.

Os nomes adotados muitas vezes homenageiam santos, figuras históricas da Igreja ou antecessores cujas trajetórias o novo papa deseja evocar. O exemplo mais recente e marcante é o do Papa Francisco, escolhido em 2013 por Jorge Mario Bergoglio. Ao optar por homenagear São Francisco de Assis, o papa argentino indicou sua preferência por um modelo de Igreja voltado à simplicidade, à humildade e à defesa dos pobres. Essa escolha trouxe à tona, já no primeiro momento de seu pontificado, um desejo de mudança e de atenção às questões sociais, características centrais da vida do santo medieval.

Outro exemplo revelador é o de Leão XIII, papa entre 1878 e 1903. Seu nome remete ao Papa Leão I, também conhecido como “o Grande”, e foi interpretado como uma reafirmação da autoridade doutrinária e da tradição da Igreja. Durante seu pontificado, Leão XIII buscou estabelecer a influência do papado em tempos modernos, defendendo os direitos dos trabalhadores e abordando questões sociais na encíclica Rerum Novarum. A escolha do nome, portanto, reforçou sua intenção de posicionar a Igreja como uma voz moral relevante em um mundo em transformação.

Até mesmo os numerais utilizados após o nome têm implicações simbólicas. Um papa que adote o número “XIV”, por exemplo, ainda que hipotético, poderia sugerir continuidade com figuras anteriores e uma ênfase na preservação da tradição. A numeração transmite, de forma sutil, a ideia de herança e de fidelidade a uma linhagem espiritual que molda a história da Igreja.

Assim, ao escolher um nome, o papa não apenas inicia seu ministério com um gesto carregado de simbolismo, mas também estabelece um diálogo imediato com o passado, o presente e o futuro da Igreja. A tradição, analisada historicamente, mostra-se não apenas como um rito, mas como uma declaração de identidade e propósito.


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