20 anos da morte de Cesar Lattes, brasileiro que marcou a história e esteve próximo de receber o Prêmio Nobel de Física

Iara Lima, Dra. em Tecnologia Nuclear e coordenadora dos cursos de Engenharia na São Judas

JULIANA ANTUNES
07/03/2025 16h44 - Atualizado há 13 horas
20 anos da morte de Cesar Lattes, brasileiro que marcou a história e esteve próximo de receber o Prêmio Nobel de Física
Arquivo Nacional
Dia 8 de março marca 20 anos da morte de Cesar Lattes, em 2024 foi o centenário de seu nascimento. Lattes é um ícone na história da ciência brasileira. Suas contribuições para a física, em especial a descoberta do méson pi, o colocaram em destaque no cenário científico mundial. As diversas homenagens e publicações dedicadas a Lattes neste ano evidenciam a importância de sua obra e seu papel na construção de uma cultura científica no Brasil. O centenário também reacende discussões sobre os desafios enfrentados por cientistas brasileiros para ganhar reconhecimento internacional, tanto na época de Lattes quanto nos dias de hoje.

Do Brasil para o Mundo


Cesare Mansueto Giulio Lattes (1924-2005), foi um dos mais brilhantes físicos brasileiros, e seu nome é frequentemente lembrado quando se discute a possibilidade de o Brasil ter um laureado com o Prêmio Nobel de Física. Nascido em 11 de julho de 1924, em Curitiba no Paraná, e graduado em Física e Matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da Universidade de São Paulo (USP), Cesar Lattes desempenhou um papel fundamental em uma das descobertas mais importantes da física de partículas: a detecção do méson pi, uma partícula subatômica que auxiliou na comprovação da teoria da força nuclear forte.

A carreira de físico e, em particular, a formação de tantos pesquisadores brasileiros, é profundamente influenciada pelo legado de Cesar Lattes. Ele é uma das figuras mais marcantes da Física no Brasil e, até hoje, inspira físicos brasileiros. Além da importância de sua descoberta do méson pi, ele inovou e liderou uma transformação radical na Física de Partículas, destacando a Física brasileira e projetando o Brasil no cenário científico internacional.


Além dessa inspiração, durante meu mestrado e doutorado, tive a oportunidade de trabalhar no grupo fundado pelo Prof. Marcelo Damy, outro grande nome da Física no Brasil, que foi professor de Cesar Lattes. Esse fato reforçou minha admiração por Lattes e me conectou com suas contribuições. Em minha carreira, dediquei-me à Física Experimental e à Instrumentação Nuclear, áreas nas quais Lattes foi um verdadeiro pioneiro.

A contribuição de Lattes para a ciência

Um dos maiores feitos de Cesar Lattes foi realizado em 1947, quando aos 23 anos, enviado por seu professor Gleb Wataghin (1899-1986), trabalhou ao lado do cientista britânico Cecil Powell (1903-1969) e do cientista italiano Giuseppe Occhialini (1907-1993) no laboratório de física da Universidade de Bristol, na Inglaterra. Juntos, eles utilizaram emulsões nucleares para detectar o méson pi, chamado de píon. Essas emulsões quando expostas a raios cósmicos exibiam a trajetória de partículas de alta energia, carregadas eletricamente, o que confirmava a teoria proposta pelo físico teórico japonês Hideki Yukawa (1907-1981) e que, por sua vez, ganhou o Prêmio Nobel em 1949 por suas previsões teóricas dessa partícula.

Cesar Lattes foi um dos responsáveis por aprimorar as emulsões nucleares, o que abriu um campo inteiramente novo para a física de partículas. Sua abordagem experimental representou uma combinação de rigor técnico e criatividade.


A contribuição de Cesar Lattes foi fundamental para a descoberta do méson pi, pois ele não apenas participou da detecção da partícula a partir de raios cósmicos, mas também conseguiu, posteriormente criar artificialmente mésons pi negativos e positivos, no acelerador de partículas do Laboratório de Radiações de Berkeley, na California, ao lado do norte-americano Eugene Gardner.

Quase Nobel para o Brasil

A descoberta do méson pi foi um marco na física e rendeu a Cecil Frank Powell o Prêmio Nobel de Física em 1950. Contudo, a contribuição significativa de Cesar Lattes e Giuseppe Occhialini para essa descoberta não foi reconhecida pela Academia Sueca, o que gerou debates sobre os critérios de premiação. A restrição quanto ao número de laureados por descoberta e outros fatores, como a juventude de Lattes e sua nacionalidade, podem ter influenciado a decisão de excluir esses importantes cientistas da premiação.

O impacto dessa descoberta ultrapassou os limites acadêmicos, contribuindo não apenas para o desenvolvimento da física de partículas, mas também como um marco no estudo das interações fundamentais do universo.

Apesar de nunca ter recebido o Nobel, a carreira de Lattes foi marcada por inúmeras conquistas e uma contribuição inestimável à ciência, em especial, à ciência brasileira. Ele foi um dos fundadores do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro, e teve papel decisivo para a criação do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), antigo Conselho Nacional de Pesquisas, entidade ligada ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI) para incentivo à pesquisa no Brasil. Seu legado vai além de suas descobertas científicas, pois ele foi um dos responsáveis por ampliar e fortalecer a física experimental no Brasil, formando e inspirando as novas gerações de pesquisadores.
 

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JULIANA ANTUNES SANTOS
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FONTE: Iara Lima, Dra. em Tecnologia Nuclear e coordenadora dos cursos de Engenharia na São Judas
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