O autor Pedro dos Santos, doutorando em engenharia de materiais e professor de química, estreia na literatura com “Piores sonhos nos melhores dias”, um romance que mergulha nas complexidades da mente humana e nas nuances do que significa ser pai, filho, e, acima de tudo, indivíduo.
A história acompanha David, um homem aparentemente acomodado em sua vida utópica: casado, pai de dois filhos e com uma rotina previsível. Mas esse mundo perfeito se estilhaça quando seu filho caçula decide trilhar um caminho próprio, deixando o lar para viver suas próprias aventuras.
David, que já havia aprendido a lidar com a ausência do filho mais velho, se vê agora em um vazio existencial que o assombra. Em busca de algo para preencher esse vazio, ele se envolve em uma trama misteriosa, tornando-se o espectador da vida de Carlos, um paciente em coma em um hospital abandonado que realiza experimentos duvidosos em um passado distópico.
A relação de David com Carlos transcende o real e o fantástico, misturando a realidade com a fantasia. David se dedica a desvendar os mistérios que cercam o paciente, mas a pergunta que paira no ar é: seria essa obsessão uma fuga de seus próprios problemas ou uma genuína busca por significado?
“Piores sonhos nos melhores dias” nos convida a refletir sobre o que move as ações humanas, abordando temas como altruísmo, egoísmo, a busca por conexão e o peso da solidão. O romance de estreia de Pedro dos Santos nos leva a questionar até que ponto a fantasia pode servir de escudo para a realidade e o quanto estamos dispostos a sacrificar em nome do amor e da busca por sentido.
Entrevista com o autor Pedro dos Santos:
1 - Como foi o processo de construção de “Piores Sonhos nos Melhores Dias”?
A ideia inicial para o livro veio quando estava lendo "VALIS" do grande Philip K. Dick. Há um capítulo do livro em que o narrador conta sobre um sonho que teve, no qual se via na pele de outra pessoa, no passado. Gostei muito da ideia e decidi escrever minha própria história utilizando essa premissa.
Ainda era muito imaturo na arte de escrever. Consegui escrever os dois primeiros capítulos, mas o bloqueio criativo veio com força depois disto. Resolvi recorrer a algum profissional para me ajudar. Fiz uma mentoria com o Cezar Turek, que me ajudou muito a estruturar toda a história, do primeiro ao último capítulo. Com a estrutura em mãos, o processo de escrita ficou bem mais simples.
Retomei a escrita do livro em um momento curioso da minha vida. Minha esposa estava grávida da Maria, nossa caçulinha. Eram os últimos meses de gestação e eu estava extremamente ansioso com a ideia de que seria pai de duas crianças dali algum tempo. O sono demorava para vir todos os dias, e eu aproveitava estas horinhas a mais do meu dia para escrever. Coincidentemente (ou não), o livro fala muito sobre paternidade, sobre deixar os filhos viverem a própria vida, sobre não depositarmos expectativas irreais em nossos filhos, que não são uma extensão de nós mesmos. São pessoas independentes. Acho que tudo isso colaborou muito para que a história viesse ao mundo da forma que veio.
Por fim, eu submeti o livro a uma leitura crítica. E quem me ajudou nesse processo foi a Carol Façanha, que é uma incrível escritora e pesquisadora de literatura (e minha mentora no mundo da escrita) que me propôs algumas alterações na história que me ajudaram, principalmente, na construção de mundo e no ritmo da história.
Com a história pronta, chegou a hora de mandá-la às editoras e esperar que alguma delas quisesse publicá-la. Fiquei muito feliz por ter sido publicada pela Editora Urutau, dentro do selo Teju Jagua.
2 - Conte sobre a sua participação na Bienal de SP:
Esta foi minha primeira participação em uma Bienal. Como leitor e como escritor. As emoções que senti se misturaram com toda aquela gente ao meu redor.
Por um lado, a Bienal foi menos do que eu esperava... Menos vendas do que eu gostaria, menos tempo para ver tudo o que tinha pra ser visto, pra encontrar as pessoas que eu queria encontrar. Ficou nítido que ainda é muito difícil competir com autores gringos, ainda mais no campo da ficção científica.
Mas, por outro lado, foi bem mais do que eu esperava! Mais do sentimento de que, sim, eu sou um escritor agora. Mais do senso de comunidade que envolve escritores nacionais que, assim como eu, ainda estão construindo suas próprias carreiras. Mais vontade de escrever e ler novas histórias. Mais alegrias ao vender minhas histórias a pessoas que eu nem mesmo conhecia! Mais encontros com pessoas com quem me identifico e que, de longe, das redes sociais ou de conversas a distância, me inspiram e me ajudam a construir este meu caminho.
Foi um momento inesquecível! Espero que muitas outras Bienais me esperem, cada vez mais experiente, com cada vez mais histórias para oferecer.
3 - Quais são os escritores que te inspiram, suas principais referências?
Acabei de reclamar da dificuldade de competir com autores gringos, mas sei que esta é uma falha estrutural. Ela se traduz, por exemplo, em minhas próprias referências.
Dentro do campo da ficção científica, autores internacionais como Asimov, PKD (já citado anteriormente), Alan Moore, Ursula K. Le Guin, Octavia Butler, Stanislaw Lem, Kurt Vonnegut, Orwell e Daniel Keyes são muito inspiradores. Já os autores brasileiros que me chamam mais a atenção dentro da ficção científica, posso citar Maikel Rosa, com um talento especial para nos manter presos em suas histórias, Carol Façanha, com uma escrita magistral, linda, poética, Ian Fraser, com um humor na medida certa e com uma ambientação de encher os olhos (ou melhor, a imaginação), Lucas Mota, trazendo a temática do fanatismo religioso e falso moralismo para um universo cyberpunk, Ricardo Celestino que, com sua narrativa em fluxo de consciência, nos tira da zona de conforto para jogar algumas verdades do mundo contemporâneo na nossa cara.
Fora da ficção científica, atualmente, minhas referências são essencialmente brasileiras. Começando com o sarcasmo e a narrativa não linear de Machado de Assis, que são revolucionários ainda hoje, e que vem me trazendo muita inspiração para uma história que vem aí em breve. Jadna Alana, uma escritora focada no regionalismo fantástico, com uma habilidade incrível de construir diálogos que parecem saídos da boca daqueles personagens. Minha conterrânea, Ruth Guimarães, com sua incrível habilidade de descrever o dia-a-dia através de seus contos, crônicas, e até de seu romance "Água Funda", que, quase sem querer, é uma das obras que dá início ao movimento do realismo mágico, que também atrai muito a minha atenção ultimamente. Clarice Lispector, com sua narrativa cheia de entrelinhas, reflexiva, introspectiva.
Em suma, eu leio muita ficção científica, mas sempre busco referências fora deste campo, pois sei que livros com temáticas, tons, abordagens e estilos diferentes sempre têm muito a acrescentar à escrita de qualquer escritor.
4 - Quais são os seus planos para o segundo semestre de 2024. Já tem novas ideias para novas publicações?
Acabei de lançar o conto "Biblioteca Além do Tempo" dentro da plataforma Kindle. É um conto que estava engavetado desde o começo do ano e que, ao reler, eu achei que merecia ver a luz do dia.
Em outubro, terei um conto publicado na coletânea "DEPOIS" uma parceria incrível entre o grupo de escritores SAIFERS e a empresa ZEIT. A coletânea está super legal, com contos de escritores muito talentosos e com uma temática imprescindível para os dias de hoje. Fico muito feliz de ter um conto nesta coletânea!
Tenho alguns contos na metade do caminho, e gostaria de lançar pelo menos mais um deles até o fim do ano. Quem sabe...
Além de tudo isso, pretendo começar a escrever um novo romance. As ideias iniciais, eu já tenho! Falta organizá-las, buscar as referências adequadas (com sabor de Ursula K. Le Guin, uma pitadinha de Isaac Asimov e o tempero brasileiro de Machado de Assis), e arrumar um tempinho para escrever.
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ALEX YAN DA COSTA MENDES
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