Mudanças nos hábitos de consumo impulsionam mercado de açaí e criam oportunidades para empreendedores

Produto se consolida como tendência gastronômica em todo o país, abrindo novas opções de venda e exigindo adaptações na operação

TATIANE FERREIRA
10/10/2025 14h23 - Atualizado há 12 horas

Mudanças nos hábitos de consumo impulsionam mercado de açaí e criam oportunidades para empreendedores
Foto: Canva

O açaí deixou de ser apenas uma iguaria típica da região Norte para se tornar um fenômeno nacional e, cada vez mais, internacional. A mudança na forma de consumo do produto tem impactado diretamente o setor de alimentação fora do lar, exigindo dos empreendedores adaptações na operação, na oferta e na estratégia de mercado. Ao mesmo tempo, abre espaço para inovação e crescimento. 

Segundo o Relatório para Restaurantes 2024, produzido pelo iFood em parceria com a Galunion, o açaí figura entre as cinco culinárias mais pedidas na plataforma, com destaque especial no turno da tarde, no qual representa 21% dos pedidos. O crescimento do consumo é impulsionado por fatores como a busca por alimentos saudáveis, a praticidade do delivery e a popularização do produto em regiões onde antes era menos conhecido. 

Para Rodrigo Melo, sócio e cofundador da rede Açaí Concept, o crescimento do consumo trouxe mudanças profundas na operação. “O delivery se tornou um canal estratégico, exigindo da gente uma revisão completa na forma de atender: desde o treinamento da equipe até a escolha das embalagens e a precificação dos produtos”, explica.  

Esses efeitos são especialmente carregados de impacto ao levar-se em conta que o açaí passou a ocupar um espaço relevante na rotina alimentar dos brasileiros, deixando de ser uma opção sazonal para se tornar presença constante em diferentes momentos do dia. 

A expansão do consumo também é percebida por Gabriel Viana, empreendedor de Brasília (DF), que viu seu volume de vendas crescer mais de 200% desde o início do negócio. “Tivemos que expandir a operação para atender à demanda, principalmente nos fins de semana. Só no último semestre, o consumo aumentou mais de 20% em relação ao mesmo período do ano anterior”, relata.  

Apesar do crescimento, Gabriel destaca que a expansão da operação trouxe também desafios estruturais, especialmente relacionados à mão de obra.  

“Como temos um modelo de produção que exige montagem personalizada dos copos, precisamos de uma equipe maior e bem treinada. Mas nos últimos meses tem sido difícil encontrar pessoas para trabalhar, o que nos obrigou a rever processos e até adaptar a forma de venda em alguns momentos”, explica.  

Segundo ele, essas mudanças impactam diretamente na experiência do cliente e exigem atenção constante dos gestores. 

Já em Belém (PA), berço do açaí tradicional, Mauricio Andrade Façanha, proprietário do Vero Açaí, observa um fenômeno curioso: o produto, mesmo sendo nativo da região, tem se tornado mais caro localmente do que em outras partes do país.  

“Hoje, em São Paulo, é possível encontrar o açaí mais barato do que em Belém. Isso acontece porque o produto colhido na safra é congelado e vendido fora da região, enquanto aqui enfrentamos dificuldades para manter o consumo artesanal”, explica.  

Mauricio também aponta, com base em sua experiência como empreendedor na região Norte, a importância de se discutir medidas que favoreçam o equilíbrio entre o mercado externo e o consumo local do açaí.  

Para ele, seria positivo que parte da produção fosse destinada prioritariamente ao abastecimento interno, como forma de preservar a cultura alimentar amazônica e garantir o acesso ao produto em sua forma tradicional. Trata-se de um posicionamento que reflete a preocupação com o impacto da exportação sobre o consumo artesanal, especialmente em cidades como Belém, onde o fruto é parte essencial da cultura alimentar. 

O relatório do iFood reforça que o delivery se consolidou como um hábito duradouro, com o setor de restaurantes representando 0,37% do PIB nacional e gerando cerca de 670 mil postos de trabalho. O açaí, inserido nesse contexto, se beneficia da escalabilidade do modelo, mas também enfrenta os efeitos da concorrência crescente e da pressão por preços mais baixos. 

Apesar dos desafios, o cenário é promissor para quem souber aproveitar as oportunidades. A consolidação do período da tarde como pico do consumo e a presença do açaí entre os produtos mais pedidos nos fins de semana mostram que há espaço para ampliar as vendas com estratégias bem definidas. A diversificação de canais, como o delivery, e a personalização da oferta são caminhos viáveis para aumentar o faturamento e fidelizar clientes. 

Para José Eduardo Camargo, líder de conteúdo da Abrasel, o momento é de atenção e ação: “O açaí é um exemplo claro de como um produto regional pode 'furar a bolha’. Esse crescimento traz desafios, mas também abre portas para inovação, diversificação e aumento de receita. Os empreendedores que souberem adaptar sua operação e comunicar bem o valor do produto terão chances de crescer nesse mercado.” 

A tendência é que este segmento continue em expansão, com maior exigência por qualidade, inovação e eficiência operacional. Para os empreendedores do setor, entender os novos hábitos de consumo e investir em estratégias que valorizem o produto pode ser o diferencial para se destacar em um mercado cada vez mais competitivo e cheio de oportunidades. 


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TATIANE RAQUEL FERREIRA RIBEIRO
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