O cenário de dificuldade de crédito no sistema financeiro, somado à lentidão na chegada dos recursos do Plano Safra ao campo, está forçando produtores rurais do Sul de Minas Gerais a adiar a compra de insumos essenciais. A Agrobom, empresa especializada em armazenagem e comercialização de grãos, com sede em Bom Jesus da Penha/MG, alerta para o risco iminente de uma "bolha logística" que pode comprometer o calendário da próxima safra.
A falta de acesso a crédito ou o alto custo do financiamento têm levado muitos agricultores a repensar a estratégia de plantio. Segundo a Agrobom, uma parcela significativa, que pode chegar a 20% ou 30% dos produtores dependendo da região, está postergando a compra de sementes, fertilizantes e defensivos. “Por conta dessa dificuldade de crédito, o produtor está atrasando as compras, tentando buscar alternativas e, em alguns casos, pode ser que ele nem utilize a tecnologia necessária”, explica Marco Castelli, diretor comercial da Agrobom. “Ele vai plantar só com a semente, vai diminuir a tecnologia. Podia aplicar, por exemplo, 300 quilos de adubo, vai utilizar só metade”.
Além da redução tecnológica, a mudança no comportamento de compra impacta diretamente a logística de suprimentos. Com a taxa de juros elevada, revendas e empresas reduziram a formação de estoques de produtos. A regra tem sido o modelo just-in-time: a venda é feita, o pedido é repassado à fábrica, que produz e entrega. Esse processo, no entanto, leva tempo, em torno de 60 dias.
O atraso na programação de compra por parte do produtor, combinado com a falta de estoque na cadeia de distribuição, desenha um cenário de gargalo para os próximos meses. "Isso vai criar uma bolha que a hora que chegar na hora todo mundo resolver comprar e fazer, não vai ter o produto disponível na hora que ele precisa, e aí vai atrasar plantio, vai atrasar tudo," alerta o gerente comercial.
Capitalizados X Endividados
O Diretor da Agrobom ressalta que o problema não atinge todos os produtores de forma homogênea. O agricultor mais capitalizado, como o produtor de café em algumas regiões, segue comprando de forma pontual, assim que o dinheiro entra em caixa, o que também desorganiza o planejamento logístico da cadeia de insumos. No entanto, a maior preocupação reside na grande parcela de produtores que não conseguem fechar as contas ou acessar o crédito.
"Os produtores, por questões de falta de crédito e outros, realmente por não estar com a conta fechando na remuneração, estão atrasando a compra de insumo. E isso vai gerar um problema logístico lá na frente, porque se o produtor não conseguir fazer isso rápido, nós vamos ter um acúmulo lá na frente e vai atrasar essa chegada de produto para a implantação da safra," conclui Marco Castelli.
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ANA LUIZA SILVA FELIPPE
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