Trump diz que Tylenol causa autismo e gera críticas da comunidade científica

EVELYN GUIMARãES
30/09/2025 12h29 - Atualizado há 3 horas

Trump diz que Tylenol causa autismo e gera críticas da comunidade científica
Samuel Drudi
O ex-presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, voltou a gerar polêmica ao fazer declarações sem respaldo científico sobre autismo e medicamentos. Em um pronunciamento público realizado nesta terça-feira (23), Trump orientou mulheres grávidas a não tomarem Tylenol — medicamento à base de paracetamol — e aconselhou mães a evitarem o uso do remédio em crianças pequenas, alegando que o fármaco poderia “causar autismo”.

A fala rapidamente repercutiu entre especialistas da área da saúde e da ciência, que classificaram a recomendação como enganosa e perigosa. Até o momento, não há qualquer evidência científica que comprove relação causal entre o uso de paracetamol e o desenvolvimento do transtorno do espectro autista (TEA).


“Alguns estudos pequenos observaram correlação entre o aumento do uso de paracetamol e a prevalência de autismo. No entanto, correlação não significa causalidade”, explica a fonoaudióloga Letícia Sena, especialista em desenvolvimento infantil. “Vários fatores podem mudar juntos sem que um cause o outro. Por exemplo, a venda de sorvete aumenta nos dias quentes, mas isso não quer dizer que sorvete cause o calor.”

Evidências científicas desmentem afirmações
Estudos robustos reforçam a ausência de relação entre o uso de paracetamol e o TEA. Uma pesquisa sueca publicada na revista científica JAMA acompanhou 2.480.797 crianças nascidas entre 1995 e 2019 e concluiu que a exposição ao medicamento durante a gestação não está associada ao risco de autismo, TDAH ou deficiência intelectual.

Apesar disso, Trump também sugeriu, sem provas, que vacinas poderiam estar ligadas ao aumento de casos de autismo e chegou a promover a leucovarina como possível tratamento para o transtorno — uma substância que não tem aprovação para esse uso.
“Fazer esse tipo de alarde público sem evidências, indo contra estudos e recomendações médicas, pode gerar medo, culpa e ansiedade em famílias, além de prejudicar a adesão a tratamentos e vacinas”, alerta Sena. “Isso pode, inclusive, criar novos problemas de saúde pública.”

Debate necessário: causas e diagnóstico
Embora critique duramente as falas de Trump, Letícia Sena reconhece que a polêmica reacende uma discussão importante: a necessidade de investir mais em pesquisas sobre as causas do autismo.

“O aumento da prevalência de autismo nas últimas décadas se deve, em parte, à ampliação dos critérios diagnósticos e ao melhor acesso ao diagnóstico. Ainda assim, precisamos entender melhor os fatores ambientais e epigenéticos envolvidos”, afirma. “Compreender a origem multifatorial do autismo pode permitir diagnósticos mais precoces e precisos.”

Segundo a especialista, a dependência atual de avaliações clínicas e observacionais dificulta diagnósticos assertivos. “Muitos casos ainda são identificados tardiamente ou recebem diagnósticos equivocados, o que prejudica intervenções precoces”, diz.

Inflamação e comportamento: novos caminhos de pesquisa
Outro ponto que, segundo Sena, merece atenção é a influência de processos inflamatórios no comportamento de pessoas autistas. “A inflamação pode causar dor crônica, distúrbios do sono, disbiose intestinal e alterações de humor — fatores que afetam diretamente o comportamento e o suporte necessário ao indivíduo”, explica.

Ela defende uma abordagem multidisciplinar no tratamento: “Encaminhar o paciente para acompanhamento com nutricionista, endocrinologista ou gastroenterologista pode ser fundamental para melhorar a qualidade de vida. Mais importante do que entender o que causa o autismo é entender como garantir que pessoas autistas tenham uma vida plena e autônoma.”

O que dizem os especialistas
Para a fonoaudióloga, a mensagem final é clara: paracetamol, vacinas e leucovarina não causam ou tratam o autismo.
“Antes de seguir recomendações perigosas vindas de figuras públicas, as famílias devem sempre consultar profissionais de saúde e se basear em evidências científicas. A ciência deve guiar nossas decisões, especialmente quando se trata da saúde das crianças”, conclui Sena.
 

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EVELYN CAROLINE DOS SANTOS GUIMARÃES
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