Liderar em um mundo cada vez mais conectado exige uma visão global capaz de reconhecer, integrar e valorizar diferentes culturas. Essa constatação nasce não apenas de estudos, mas da vivência em ambientes que cruzam fronteiras geográficas e culturais, do Brasil aos Estados Unidos, da Europa à Ásia, em contextos que foram desde estruturas hierárquicas rígidas até laboratórios de inovação.
A partir da minha experiência como atleta, estudante e profissional, com atuação em multinacionais americanas, europeias e no Brasil, pude compreender como culturas diferentes influenciam o estilo de liderança e a gestão de pessoas. Esse aprendizado foi ampliado com a vivência, participando de grupos de trabalho, comitês e projetos em programas globais de formação, como os da Harvard Business School, no qual a análise de casos práticos nos desafiava a pensar sob múltiplas perspectivas. Um caso emblemático foi o estudo da fusão entre Disney e Pixar, que ilustra como a integração de culturas opostas, entre uma corporação com décadas de tradição e um estúdio nascido da disrupção criativa, gerou um modelo de inovação que revolucionou a indústria do entretenimento.
A lição é clara: liderança multicultural não significa apenas respeitar diferenças, mas transformá-las em potência coletiva. Nos Estados Unidos, muitas vezes predomina o pragmatismo e a execução; na Europa, a valorização da tradição e da análise aprofundada; no Brasil, a criatividade, a adaptabilidade e a capacidade de conexão pessoal. Quando combinados de forma inteligente, esses elementos constroem times resilientes, inovadores e preparados para desafios globais.
Pesquisas recentes reforçam essa percepção. Segundo estudo da McKinsey, nos conselhos de administração, a diversidade de gênero aumenta em 27% as chances de desempenho acima da média, enquanto a diversidade étnica eleva essa probabilidade em 13%.
No Brasil, a pesquisa “Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) nas Organizações – Ciclo 2024/2025”, conduzida pela Deloitte Brasil, mostra que 93% das empresas já estabeleceram ações de DEI, 88% medem indicadores de inclusão, 83% contam com apoio da alta liderança e 41% vinculam metas de diversidade à remuneração variável de executivos. São números que evidenciam o valor estratégico de integrar diferentes perspectivas na tomada de decisão.
A pergunta que se impõe é: estamos formando líderes preparados para atuar em ambientes nos quais diversidade cultural e inovação caminham juntas? A realidade mostra que empresas que ainda não compreenderam essa urgência correm o risco de perder relevância, seja na atração de talentos, seja na capacidade de competir em escala global.
A transformação digital, os modelos híbridos de trabalho e a expansão internacional dos negócios exigem líderes capazes de atuar em rede, de se adaptar rapidamente e de construir ambientes inclusivos, nos quais diferentes vozes encontram espaço e propósito. A liderança multicultural, portanto, não é apenas um discurso alinhado a relatórios de sustentabilidade, mas um imperativo estratégico que influencia a performance organizacional e a reputação no mercado.
O futuro da liderança está na interseção entre visão global e sensibilidade local. Líderes que traduzem valores universais em práticas adaptadas às particularidades de cada cultura ampliam seu impacto e oferecem às organizações uma vantagem competitiva inegável.
Construir essa visão não é apenas uma escolha, mas uma responsabilidade que deve estar presente em conselhos, programas de desenvolvimento e na agenda de executivos que compreendem o impacto da diversidade cultural nos negócios. A liderança multicultural é um processo contínuo de aprendizado e integração. E esse processo será determinante para as empresas que desejam se manter relevantes no cenário global.
* Ana Carolina Mello é sócia-diretora da Avanza. Com experiência internacional em multinacionais nos EUA e no Brasil, a executiva desenvolveu uma visão global e multicultural da liderança. Ex-atleta profissional de vôlei, alia disciplina esportiva à gestão de alta performance. Defensora de modelos de gestão humanizados, colaborativos e orientados a resultados, é também empreendedora e voz ativa na promoção da liderança feminina. Reconhecida por conectar esporte, inovação e gestão global, atua como porta-voz em temas de liderança multicultural e transformação organizacional.
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PAULA FEREZIN MARTINS
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