Com a COP30 se aproximando, marcada para acontecer em Belém, em novembro, o debate sobre mudanças climáticas volta ao centro da agenda global. No entanto, para que as soluções ambientais sejam realmente eficazes, é fundamental que também enfrentem as desigualdades históricas que impactam de forma desproporcional as populações negras, indígenas e periféricas. Nesse cenário, a filantropia racial surge como uma ferramenta estratégica para integrar justiça climática e equidade racial de maneira concreta.
O Pacto de Promoção da Equidade Racial preparou cinco dicas para empresas que desejam alinhar suas ações filantrópicas às pautas climáticas e raciais, contribuindo ativamente para uma transição ecológica mais justa e inclusiva.
1. Redirecione o fluxo de capital: financie diretamente organizações de base lideradas por pessoas racializadas
Em vez de financiar grandes ONGs ou intermediários tradicionais, repense sua cadeia filantrópica. Direcione recursos de forma direta e desburocratizada para iniciativas climáticas lideradas por comunidades negras, indígenas, quilombolas e periféricas. Essas organizações muitas vezes operam com alto impacto e baixo orçamento, mas enfrentam barreiras estruturais para acessar fundos. A descentralização dos recursos é um passo concreto para redistribuir poder.
2. Integre critérios raciais na seleção de projetos ambientais financiados
Toda chamada pública ou edital de apoio a projetos ambientais deve conter, de forma transversal, critérios de equidade racial. Isso significa considerar: quem lidera a iniciativa, quem se beneficia, onde está localizada e como ela atua na correção de desigualdades raciais. Equidade não deve ser uma categoria à parte, mas um critério central de avaliação e impacto.
3. Apoie estratégias de reparação territorial e soberania ambiental de povos tradicionais
A luta por justiça climática no Brasil passa, necessariamente, pela regularização fundiária de territórios indígenas e quilombolas, bem como pela proteção de modos de vida sustentáveis. A filantropia racial pode financiar ações jurídicas, técnicas e políticas que fortaleçam a autonomia desses povos sobre seus territórios. Isso não é apenas uma questão de identidade ou cultura, mas uma ação estratégica contra o colapso ambiental.
4. Financie tecnologias e soluções ambientais desenvolvidas em contextos periféricos
Inovações ambientais relevantes estão surgindo fora dos grandes centros. Comunidades periféricas e racializadas estão criando tecnologias sociais que aliam saberes ancestrais a soluções sustentáveis de baixo custo. O financiamento dessas soluções não deve ser visto como caridade, mas como investimento em inovação climática com impacto sistêmico.
5. Construa métricas e narrativas que revelem a interseção entre raça, clima e território
A maioria dos relatórios corporativos sobre clima ignora completamente o recorte racial. É preciso desenvolver indicadores que meçam o impacto racial das ações ambientais e construir narrativas que evidenciem as contribuições e vulnerabilidades das populações negras e indígenas na crise climática. Isso exige trabalho com dados, pesquisas e uma comunicação institucional que fuja do tokenismo e abrace a complexidade.
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JULIA SANSONI
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