Segundo o Escritório de Direitos Humanos da ONU e o Comitê para a Proteção de Jornalistas, mais jornalistas teriam sido mortos cobrindo Gaza, em menos de dois anos, do que em todas as grandes guerras do Século XX somadas. Não acolho a informação nem os números como premissas certas, pois diversas questões não endereçadas ao levantamento podem levar a resultados diferentes do que nele se afirma. O registro pode estar abaixo da realidade.
O tema, contudo, me fez refletir sobre o custo humano da informação e os perigos de se tomar o jornalismo como algo trivial.
Abrimos um jornal, acessamos um portal de notícias, damos play em um podcast - e quase não nos damos conta de que, por trás de cada notícia, há profissionais que assumem riscos e enfrentam pressões enormes para que relevantíssimas informações venham a público.
Sob esse enfoque, também enxergo um paralelo no Direito e, mais precisamente, com a advocacia e o devido processo legal. Um julgamento justo somente pode ocorrer quando fatos são trazidos à luz, organizados e apresentados de forma clara.
Jornalismo e advocacia compartilham essa mesma base: a busca por fatos (validados) e a oportunidade de que eles cheguem ao conhecimento do público/julgador.
Sem jornalismo profissional, a advocacia perde muito, ou mesmo se inviabiliza. O advogado tem a obrigação de se manter informado sobre o que se passa na sociedade, Governo, país, mundo, novas leis e projetos legislativos em curso, discussões relevantes perante o Poder Judiciário, dentre tantos outros assuntos. Igualmente, não existe monitoramento das instituições, nem o consequente e fundamental debate público, sem a presença do jornalismo profissional. Foram inúmeras as causas judiciais, arbitrais e administrativas em que atuei no curso das quais precisei contar com o auxílio de material jornalístico para defender os interesses de clientes.
E nesse ponto, a reflexão se amplia:
A internet nos trouxe acesso instantâneo à informação, o que é extremamente positivo, mas também multiplicou o risco da desinformação, e com ela a chaga das fake news. Por isso, mais do que nunca, a imprensa profissional é essencial: mesmo merecedora, muitas vezes, de duras críticas, ela garante, ainda assim, que fatos sejam expostos e, consequentemente, debatidos e fiscalizados.
Em diferentes oportunidades, tive o privilégio de trabalhar próximo de empresas e jornalistas em situações de crise. Aprendi, com meu estimado amigo e grande jornalista Carlos Henrique Schroder, que nada é óbvio quando se trata de informar, e que a comunicação é central a tudo o que fazemos; tudo.
Em tempos de tanto descrédito, declínio moral e generalizadas práticas não republicanas, respeitar e proteger o jornalismo profissional é tão essencial quanto observar o devido processo legal e as prerrogativas da advocacia. Trata-se de pilares centrais do próprio tecido democrático.
O autor é Leonardo de Campos Melo, advogado especialista em contencioso judicial e administrativo estratégico e em arbitragem, e Sócio-fundador do escritório LDCM Advogados - [email protected]
Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
ICARO ALISSON ROSA AMBROSIO
[email protected]