Casamento às Cegas e o Circo Romano

Por Licia Egger

SANDRO FRAGA
24/09/2025 14h37 - Atualizado há 2 horas

Casamento às Cegas e o Circo Romano
Foto: Divulgação

Será que os 50+ são tão infantis e impressionantemente banais quanto mostra o reality show “Casamento às Cegas”? Sinceramente, espero que não.

A insistência para que eu assistisse foi tanta que, mesmo não gostando da ideia, resolvi me entregar às rédeas do popular e assistir ao tal programa. 

O reality, não entendi bem o porquê, é apresentado por dois jovens bonitos, esfuziantes, cheios de beleza e alegria, que falam sobre os desafios, que eles desconhecem, a que se propõem um grupo de mulheres 50+, magrinhas, gordinhas e quase obesas e homens com as mesmas condições, para encontrar o amor verdadeiro, agora vividos, ou seja “velhos”. Isso num reality show, um verdadeiro circo.

Os participantes estão expostos ao desafio de descobrir, através só da conversa, sem que a imagem favoreça ou impeça qualquer possibilidade da escolha amorosa, a banalidade do que seria, do ponto de vista do programa, a busca pelo amor na maturidade. 

Cercados de bebida — champanhe, para ser mais exata — como se o cotidiano e a escolha amorosa precisassem de anestesia, essas cobaias mesclam na tela as alegrias e tristezas que encenam o que seria a busca amorosa já em idade madura. 

A cumplicidade com o estereótipo bobo e infantil para essa fase da vida passeia livre pelos 4 capítulos que assisti. 

Neles, os homens traduzem suas vidas e escolhas amorosas anteriores de forma simplória; e, como tal, até o momento, insatisfatórias e pueris. As mulheres, coitadinhas, ainda impregnadas pelos contos de fada, alternam relatos sobre as suas mazelas amorosas com o empoderamento feminino, tomando para si, quando decididas, de suas escolhas, a pergunta: “Você quer casar comigo?”.

A relação com o sexo, exaltada por falas e presentes que teoricamente incitam a imaginação para o erótico, é uma apologia do vulgar e do grosseiro a que se entregam os participantes, deixando de lado o sutil e delicado jogo da sedução que de fato premia os que deveriam estar na maturidade. 

É fato que o empobrecimento cultural está longe de ser novidade, mas, nesse caso em específico, limita e traveste de verdade o que é ser uma mulher e um homem 50+. E, principalmente, o que a vida não ensinou, apesar das aparentes muitas lições amargas pelas quais passaram os integrantes do programa.

Se isso diverte, acredito que para muitos sim. Afinal, “pão e circo” fazem sucesso desde os tempos dos romanos.

Sobre a autora: Lícia Egger é psicanalista, doutora em Comunicação e Semiótica, palestrante e escritora.


 

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SANDRO FRAGA LUIZ
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