Receber em nosso país o 11º Encontro Mundial da Deficiência Visual é mais do que uma honra: é um chamado à reflexão. Pela primeira vez, a América Latina sediou - 1º ao dia 5 de setembro de 2025 - o maior evento global voltado às pessoas cegas e com baixa visão, reunindo lideranças e especialistas de mais de 190 países em São Paulo.
Falar sobre inclusão e acessibilidade é algo que me toca profundamente. Durante minha vida, passei por um sério problema ocular e perdi quase totalmente a visão, restando apenas 5%. Essa experiência me marcou de forma definitiva e me fez compreender, na pele, o quanto enxergar é mais do que um sentido físico, é também sobre oportunidades, autonomia e dignidade. Desde então, aprendi que não existe inclusão sem escuta verdadeira, sem abertura e sem ação consciente para que todos possam estar à mesa com equidade.
É por isso que este encontro me toca de maneira tão especial. Porque sei, pela experiência vivida e pelos caminhos que percorri, que a deficiência não está na pessoa. Ela está nos limites estruturais de uma sociedade que, mesmo com tantos avanços, ainda carrega barreiras que excluem de forma silenciosa e contínua. Já enfrentei inúmeras dificuldades de acesso, as frustrações diante da falta de oportunidades e, ao mesmo tempo, a potência transformadora quando alguém encontra apoio, tecnologia ou simplesmente espaço legítimo para participar de forma plena. Muitas delas, compartilhadas no meu livro É possível ir além: o poder da superação com leveza, estratégia e autenticidade, lançado em maio deste ano.
A programação do World Blindness Summit trouxe temas como educação, saúde, acessibilidade urbana, inovação tecnológica e muito mais. Mas, acima de tudo, este evento nos convida a um exercício diário: enxergar além da limitação, enxergar a pessoa inteira, com seus talentos, sonhos e direitos. E reconhecer que, apesar de tantos avanços, ainda há um longo caminho a ser percorrido para que essa inclusão se torne real no cotidiano.
Incluir não é um gesto de generosidade. É um dever ético. É garantir que crianças com deficiência visual tenham futuro sem barreiras; que adultos encontrem espaços de trabalho que respeitem suas competências; que idosos possam viver com autonomia. É olhar para o outro com humanidade, empatia e compromisso com uma sociedade verdadeiramente justa e inclusiva.
Se hoje milhares de pessoas do mundo inteiro se encontram em São Paulo para debater esse tema, é também para nos lembrar de que o verdadeiro movimento pela inclusão não começa nas instituições. Começa em cada um de nós. Que possamos transformar essa semana de reflexões em práticas concretas, capazes de redesenhar não apenas leis e políticas, mas também o nosso olhar cotidiano e, com ele, o mundo à nossa volta.
Sobre Elaine Asato: Elaine Asato é palestrante, escritora e consultora em desenvolvimento humano, liderança e cultura organizacional. Fundadora da Valem Consultoria e Treinamentos, atua há mais de 20 anos na formação de líderes e equipes, conduzindo projetos que aliam autoconhecimento, gestão humanizada e foco em resultados sustentáveis. Acesse e saiba mais: www.valemconsultoria.com.br
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VANESSA SALLES GIANELLINI
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