“Fio de Rio” costura e expõe a imensidão poética das águas

23 obras inéditas utilizando aplicações têxteis e outras diversas técnicas de gravura em madeira e metal estarão expostas de 01/09 a 30/09 no espaço Plaza Cultural

GABRIELA GANZAUSKAS
26/08/2025 18h25 - Atualizado há 5 horas

“Fio de Rio” costura e expõe a imensidão poética das águas
Divulgação

Não há fronteiras para o fazer artístico e nem pedra dura que resista à força sutil das águas. E quando a inquietação de um artista encontra motivação em nascentes ancestrais, faz-se poesia. Assim se deu um trabalho de pesquisa que resultou na exposição “Fio de Rio”, pelo pesquisador e artista transdisciplinar, Wagner Orniz. Trata-se de um conjunto de 23 obras que evidencia de formas teórica, técnica e experimental a relação entre a natureza, as artesanias têxteis e os modos de gravação de imagens, revelando sob uma nova ótica o saber ancestral, a resistência e a delicadeza dos rios brasileiros e sua relação com os trabalhos manuais, com os quais a humanidade, em especial as mulheres, vem se relacionando há inúmeras gerações.

A partir de aplicações têxteis criadas manualmente sobre gravuras e tecidos, foram representados “mapas hídricos” do estado de São Paulo e de São José do Rio Preto, em dimensões bastante reduzidas, desenhados com fios finíssimos e tramas tão delicadas quanto resistentes, poeticamente representando os cursos hidrográficos. Com a mistura de técnicas e seus significados, a exposição convida a refletir sobre a relação que existe entre o curso dos rios – suas formas, fluidez e força – e o trabalho manual nas mais diversas esferas da vida humana. 

O projeto, contemplado pela PNAB (Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura) 2023, partiu de uma inquietação teórica sobre a relação entre natureza (abundância e escassez) e trabalhos manuais têxteis, quase sempre realizados por mulheres, que historicamente têm sua arte e seu trabalho invisibilizados. A confluência das águas levou o pesquisador ao seu passado familiar, enriquecendo os sentidos das obras. “Uma série de memórias de família me ocorreram, como por exemplo o dia em que me dei conta de que um tapetinho de banheiro que minha avó materna tinha feito com retalhos tinha a mesma escala cromática e formas utilizada pelo pintor Gustav Klimt no seu famoso quadro ‘O beijo’. A grande questão é que ela não frequentou uma escola ou cursos de arte, foi tudo fruto da sua intuição e sensibilidade criativa”, conta Orniz.

A teoria sobre a qual o artista se debruçava o levou à prática do saber ancestral da avó, uma mulher semialfabetizada que viveu por quase 60 anos na roça, em uma casa de pau-a-pique, sem energia elétrica, no interior de Minas Gerais. Além de fazer trabalhos com retalhos e com fuxico, ela também tecia o que na roça era conhecido como “peleja”, uma espécie de cobertor pouco eficiente, já que tinha tramas muito abertas, dificultando o aquecimento. A filha da artesã e mãe do artista também foi personagem inspirador nesta teia de referências. 

“Minha mãe quando criança ajudava minha avó a ‘cardar’ a paina que ela utilizava para fiar. Das poucas fotos que tenho com a minha avó nesta antiga casa de pau-a-pique, tem uma eu estou ao lado dela e da roca de madeira vermelha desbotada que ela usava para fiar. Já na outra foto, eu estou ao lado dela e de um rego-d ‘água onde ela lavava as louças e de um monjolo onde ela socava grãos para fazer farinha. Rememorando essas histórias, o projeto fez ainda mais sentido para mim, considerando também a minha formação em moda”, completa o artista. 

Minúsculas e delicadas, as obras da exposição contam, em sua trama, com detalhes invisíveis que lhes garantem grande resistência. Essas questões servem para traçar um paralelo com as questões vividas há tempos pelas minorias que vivem do trabalho têxtil artesanal e/ou que gerem de perto os recursos da natureza: apesar de diariamente serem expostos a questões de desigualdade e questões ambientais (ambas profundamente conectadas com o modo de exploração insustentável que vivemos hoje), tais questões ainda são entendidas por muitos como um pequeno detalhe. 

A programação, que começa com um bate-papo sobre a produção das obras seguido de visita guiada no espaço Plaza Cultural, dia 01 de setembro às 20h, conta também com outras atividades: minicurso “Mulheres e trabalhos manuais têxteis ao longo do tempo”, minicurso “Introdução à Moda Sustentável” e um grupo de estudos sobre arte contemporânea. 

 

SERVIÇO
 

Exposição Fio de Rio

01/09 a 30/09 no Plaza Cultural (Shopping Plaza Avenida)

 

Abertura 

01/09 às 20h

Bate-papo presencial sobre a produção da obra seguido de visita guiada

 

Minicurso online “Introdução à Moda Sustentável” 

02/09 das 19h às 21h

Classificação indicativa: livre

 

Grupo de estudos online sobre arte contemporânea

03/09, 10/09 e 17/09 das 19h às 21h 

Classificação indicativa: livre

 

Minicurso online “Mulheres e trabalhos manuais têxteis ao longo do tempo”

18/09 das 19h às 21h 

Classificação indicativa: livre
 

Inscrições para as atividades:

https://linktr.ee/orniz


Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
GABRIELA VIEIRA GANZAUSKAS
[email protected]


Notícias Relacionadas »