Em meio à tensão entre Brasil e EUA, brasileiros correm para dolarizar patrimônios com imóveis na Flórida
Flórida lidera novo ciclo de investimentos brasileiros
RAQUEL COSTA
22/08/2025 13h56 - Atualizado há 8 horas
Internet
Com a escalada do dólar e o aperto da política monetária brasileira, investidores nacionais voltam seus olhos – e recursos – para ativos imobiliários nos Estados Unidos. A Flórida, mais uma vez, assume o protagonismo desse movimento, que em 2025 ganha nova intensidade, transformando cidades como Miami, Orlando e Tampa em verdadeiros polos brasileiros no exterior. Nos últimos 18 meses, o real perdeu cerca de 11% de seu valor frente ao dólar, saltando de R$ 5,00 por US$ 1 em janeiro de 2024 para R$ 5,56 em julho de 2025. Paralelamente, a decisão do Banco Central de elevar a taxa Selic para 15% ao ano — o maior patamar desde 2006 — criou um ambiente restritivo para o crédito e inibiu a liquidez do mercado doméstico. Em contrapartida, os ativos dolarizados — com destaque para o mercado imobiliário norte-americano — emergem como estratégia sólida de proteção patrimonial, diversificação e acesso a uma economia mais estável e previsível. Imóveis nos EUA ganham protagonismo no portfólio de brasileiros Segundo a National Association of Realtors (NAR), entre abril de 2024 e março de 2025, estrangeiros movimentaram US$ 56 bilhões em imóveis residenciais nos Estados Unidos, um crescimento expressivo de 33,2% em comparação ao ciclo anterior. Em volume de transações, o salto foi ainda mais notável: 78.100 propriedades adquiridas por não-americanos, um aumento de 44% no mesmo período, conforme dados divulgados pela Forbes. A Flórida se consolidou como epicentro desse fluxo. Com 21% do total investido por estrangeiros — cerca de US$ 11,8 bilhões — o estado absorve uma parcela significativa do capital internacional. E os brasileiros são parte relevante dessa equação, respondendo por aproximadamente US$ 700 a US$ 800 milhões, com foco em regiões já familiares à comunidade nacional, como Miami, Orlando, Tampa, Windermere e Winter Garden. Segundo a Forbes, nessas duas últimas cidades da região metropolitana de Orlando, brasileiros já representam mais de 40% dos novos residentes, redefinindo a paisagem urbana e impulsionando a economia local. De famílias a grandes grupos: o Brasil marca presença institucional O movimento não se limita a famílias e investidores individuais. Empresas brasileiras de grande porte também reforçam sua presença nos EUA, em uma clara estratégia de diversificação e internacionalização. A Votorantim S.A., por exemplo, anunciou um aporte de US$ 1 bilhão em ativos imobiliários nos próximos cinco anos, ampliando sua exposição a mercados como o americano. Já a JHSF Participações, referência em empreendimentos de alto padrão, mantém operações consolidadas em Miami e Nova York, com foco em hotelaria e empreendimentos residenciais de luxo. A retomada do fluxo brasileiro ocorre mesmo após uma retração significativa entre 2022 e 2024, quando o volume de transações internacionais na Flórida caiu 54%. A resiliência do investidor brasileiro, porém, volta a se destacar em 2025, impulsionada por fatores como: desvalorização cambial; alta nos juros domésticos; segurança jurídica e liquidez do mercado americano; retornos reais na casa de dois dígitos, tanto em valorização quanto em locação, segundo dados da Forbes e Bloomberg. Valios Capital: uma ponte entre o Brasil e os EUA Um dos protagonistas dessa movimentação é a Valios Capital, um fundo imobiliário americano (REIT) voltado para o investidor brasileiro. Com atuação em mercados de crescimento acelerado como Flórida Central, Texas, Arizona e Carolina do Norte, a Valios reporta rentabilidades anuais superiores a 12% em dólar nos últimos quatro anos. “Nosso portfólio combina fluxo de caixa recorrente com valorização patrimonial. Com base em governança, análise macroeconômica e gestão ativa, temos ajudado famílias e empresários brasileiros a dolarizar seus patrimônios de forma estruturada”, afirma Raul Nogueira, CFO da Valios Capital. Segundo o executivo, o momento atual é decisivo “para quem busca proteção cambial, crescimento sustentável e ativos de longo prazo, o mercado americano oferece segurança, liquidez e previsibilidade. E os resultados mostram que os que já se posicionaram estão colhendo os frutos”, conclui. Geopolítica reforça decisão por ativos em dólar O recente episódio envolvendo a imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil, com motivações políticas atreladas a disputas institucionais, trouxe à tona mais um fator de incerteza no cenário macroeconômico e internacional. Embora o governo brasileiro tenha optado por uma resposta diplomática e técnica — inclusive acionando a OMC —, o episódio foi interpretado por parte do mercado como um sinal de que a estabilidade política e o respeito a contratos internacionais nem sempre estão blindados de tensões geopolíticas. Neste contexto, muitos investidores brasileiros passaram a reforçar sua alocação em ativos no exterior, com ênfase em mercados como o norte-americano, que oferece segurança jurídica, previsibilidade institucional e lastro em moeda forte. A movimentação, portanto, não é motivada apenas por rentabilidade, mas por uma leitura clara: em um mundo em constante transformação, proteger o patrimônio também passa por escolher onde ele está alocado. Mais que oportunidade: um novo ciclo de internacionalização brasileira O fluxo de capitais para imóveis nos EUA reflete uma tendência mais ampla de internacionalização de patrimônios brasileiros, diante de um cenário doméstico de incertezas e de um ambiente global cada vez mais volátil. O que antes era movimento pontual, ganha agora ares de estratégia consolidada — não apenas pela rentabilidade, mas pela estabilidade e previsibilidade que ativos dolarizados oferecem. A Flórida lidera esse processo, mas os olhos do investidor brasileiro já começam a se voltar para novos mercados no sul e sudeste dos Estados Unidos, em busca de oportunidades em regiões com forte crescimento populacional, desenvolvimento urbano acelerado e alta demanda por imóveis comerciais e residenciais. O recado é direto: o Brasil não abandona sua essência — ele se reinventa em um cenário global onde expandir fronteiras é, acima de tudo, garantir o futuro. Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
RAQUEL DA COSTA MORAIS
[email protected]