Quando se fala em Amazônia, a imagem que ainda predomina no imaginário nacional e internacional é a da floresta. Rios extensos, biodiversidade, pautas ambientais e uma estética associada ao exótico. Para o cantor, compositor e produtor Rhenan Sanches, essa narrativa está incompleta — e invisibiliza o que ele considera uma das maiores forças da região: sua capacidade de produzir cultura urbana, digital, pop e viva.
“A Amazônia canta, dança, produz, se conecta. A gente não é só mata — a gente é movimento. E a música é o que nos conecta ao mundo”, afirma o artista, que há quase duas décadas trabalha para reposicionar a música do Norte no centro do debate cultural brasileiro.
Natural de Belém, Rhenan cresceu no coração da musicalidade amazônica. É filho de cantor, enteado de um dos criadores da lambada e viveu os bastidores de bandas regionais antes de assumir a própria carreira. Hoje, lidera o projeto “Os Sons que Vêm do Pará”, uma turnê nacional que funde brega, lambada e tecnomelody com estética pop, figurinos autorais, coreografias e produção pensada para as plataformas digitais.
“A cultura da Amazônia não é só folclore. Ela é urbana, periférica e digital. Eu cresci ouvindo o que tocava nas aparelhagens e vendo DVDs piratas de bandas. Isso também é formação estética e memória afetiva”, explica.
Enquanto parte da indústria ainda trata os sons do Norte como manifestações folclóricas ou identitárias restritas, artistas como Rhenan propõem uma ruptura. Com presença ativa no digital, produção autoral e linguagem de videoclipe, ele traduz os ritmos da região — como o tecnomelody e o brega paraense — para uma nova geração que consome música por streaming e TikTok, mas sem perder a raiz territorial.
Seus videoclipes mais recentes, como “Bumbum pra Trás” e “Sigilo”, já somam dezenas de milhares de visualizações, com engajamento de públicos fora do Pará. No palco, Rhenan assume a direção artística dos espetáculos, cuida da estética visual e propõe uma performance que une cultura de periferia, identidade de gênero e narrativa amazônica contemporânea.
“Não quero ser exceção exótica em nenhum festival. Quero ser artista da minha geração, com o som e a estética que me formaram. A Amazônia também é pop — só falta o Brasil perceber”, provoca.
Além da atuação artística, Rhenan também é responsável pela Jamboo Produções, produtora independente dedicada à concepção, realização e circulação de projetos culturais e artísticos. Em 2024, foi convidado a dirigir e cantar o show de abertura do Círio de Nazaré, maior manifestação religiosa da região Norte, assistida por milhões de pessoas em transmissões ao vivo.
Essa atuação nos bastidores reforça seu papel como agente cultural: alguém que não apenas canta, mas constrói pontes entre o local e o nacional. A Jamboo tem atuado em editais, ações públicas e circuitos alternativos, sempre com o objetivo de tirar o som do Pará da invisibilidade institucional que ainda marca a cena musical brasileira.
Segundo levantamento da IFPI (International Federation of the Phonographic Industry), o Brasil ocupa hoje a 9ª posição no ranking dos maiores mercados fonográficos do mundo. No entanto, a representação geográfica desse crescimento ainda está concentrada nos eixos Rio-São Paulo, com mínima presença de artistas nortistas — especialmente fora do circuito independente.
“O Brasil já consome a música da Amazônia. Só não sabe que ela vem daqui. Quando Pabllo Vittar gravou tecnomelody, quando a Joelma estourou com ‘Tacacá’, todo mundo dançou. Mas ainda falta visibilidade para quem vive e produz aqui o tempo todo”, avalia Rhenan.
O projeto “Os Sons que Vêm do Pará” já passou por escolas e virou festival. A proposta de Rhenan é clara: não se trata apenas de fazer música, mas de provocar uma mudança de percepção sobre a Amazônia como produtora de cultura viva, múltipla e urbana. Com figurinos autorais, repertório original e ações formativas, ele propõe um outro olhar sobre o Norte — mais atual, menos estereotipado.
Para além das pautas ambientais, ele acredita que o futuro da Amazônia também passa pela cultura: pelo que se canta, se dança e se compartilha. Em um país onde o centro ainda dita as tendências, dar voz à margem é, por si só, uma revolução.
Cantor e compositor de Belém (Pará), Rhenan transitou entre ritmos como brega, lambada, carimbó, forró e tecnomelody ao longo de cerca de 20 anos de carreira.
Ele é conhecido pelo estilo que mistura música popular regional com uma estética pop contemporânea, ganhando o apelido de “pop amazônico”.
Possui sete álbuns lançados e já gravou cerca de quatro projetos audiovisuais importantes, incluindo DVD ao vivo.
Ficou conhecido com o clipe “Bumbum Pra Trás”, divulgado pelo projeto Sons do Pará, e com o single “Sigilo”, considerado um marco do retorno ao tecnomelody.
Seu trabalho alcançou vídeos com mais de 6,5 milhões de visualizações no YouTube e cerca de 25 mil ouvintes mensais no Spotify.
Rhenan se destaca por unir musicalidade regional com linguagem moderna, produzindo para dança e festa, mas sem perder conexão com suas raízes culturais. O artista transita entre show pop e performances que valorizam a identidade amazônica.
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PAULO NOVAIS PACHECO
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