Gabriel Araújo é natural de Campos dos Goytacazes, interior do estado do Rio de Janeiro. Após anos atuando de forma amadora na cena musical local, em 2006 foi convidado a fazer a trilha de um espetáculo de teatro, começou a explorar então linguagens visuais para música. De lá pra cá, são 3 álbuns solos lançados, alguns deles com projeção internacional, sempre explorando sonoridades e linguagens diferentes atreladas ao ato de experimentar o som. Em meados de 2010, o artista foi morar em João Pessoa, na Paraíba, onde aprimorou ainda mais o ofício de músico, realizando shows e participando de bandas como a Glue Trip, com quem fez vários shows pelo Brasil e outros países.
Agora, de volta a Campos, sua cidade natal, apresenta seu novo trabalho. Um EP visual, que conta com um curta metragem em fábula roteirizada e dirigida pelo cineasta, também de Campos, Vita Evangelista. Vita é um artista multidisciplinar e pesquisador transmasculino, cujo trabalho atravessa vídeo, instalações, mídias digitais, escrita e ativismo LGBTQIAPN+ e antirracista. Em sua produção artística, Vita constrói "narrativas auto tecnopoéticas" — fusão de corpo, tecnologia e palavra — a partir de uma perspectiva transfeminista e contra-colonial. Seus trabalhos confrontam as estruturas do capitalismo racializado, os dispositivos de controle migratório e as tecnologias de vigilância, utilizando linguagens que sabotam códigos hegemônicos.
“LUGAR”, o EP visual, tem apoio da Lei Paulo Gustavo de Campos dos Goytacazes, e mergulha em escombros materiais e espirituais para reconfigurar os limites entre lixo e sagrado, falha e futuro. Filmado entre ruínas coloniais, usinas abandonadas, centros de reciclagem e zonas costeiras em erosão na zona Norte Fluminense, o trabalho investiga os rastros do capitalismo tardio, do racismo ambiental e da exaustão ecológica, tensionando o colapso como matéria viva. “Na hora de falar do filme, a prioridade era colocar uma mensagem que trouxesse reflexão. Então escolhemos algumas locações aqui na região de Campos, que têm algumas ruínas. Na nossa ideia, estamos contando a história de um futuro - que não é tão distante – distópico”, comenta Gabriel. A obra dissolve a linearidade do tempo através de imagens sobrepostas, múltiplos quadros em simultâneo e efeitos de glitch que desestabilizam a percepção visual. As falhas digitais, distorções cromáticas e ruídos visuais operam como parte da própria narrativa especulativa. “Os erros do sistema tornam-se linguagem estética criando camadas de distorção e instabilidade que espelham os atravessamentos do colapso”, explica Vita, o diretor.
Ao longo das seis faixas compostas/ interpretadas pelo Gabriel, um corpo negro dissidente, interpretado pelo ator e bailarino Jota Z, atravessa esse território como sensor de mundos, incorporando forças ancestrais ligadas às cosmologias afro-brasileiras. O músico Gabriel enfatiza que a proposta do EP visual é, ainda, refletir sobre como o ser humano faz uso do espaço que habita. “O ‘lixo’ que se produz, o dano que se estabelece e não fazemos um reaproveitamento nestes espaços mais. Estamos vivendo num momento em que observamos muitas catástrofes acontecendo, não só por mudanças climáticas de temperatura, mas também de como tratamos esse ambiente”, comenta. “As referências às cosmologias afro brasileiras atravessam a obra como campos de força que transformam o lixo e os resíduos em matéria de recomposição e reintegração. Assim como entidades transmutadoras transitam entre mundos e limpam zonas tóxicas. LUGAR ensaia imagens onde ruínas não significam fim, mas húmus para outras possibilidades de existência”, complementa o diretor.
As composições sonoras de Gabriel Araújo acompanham esse processo como forças vibratórias e atmosféricas. Ao todo, são 5 composições inéditas, que fazem parte de diversos momentos da vida do compositor, retirada de trechos de trilhas, ideias engavetadas ou novas ondas incitadas pelo processo e pela vida. Na última faixa do EP visual há uma ‘surpresa’ com o resgate do material de um cantador, natural de São Luiz do Maranhão, Humberto Mendes, cuja lembrança póstuma traz a época em que cantava no grupo Boi Bumbá de Maracanã. “Para fechar, tivemos a ideia de ter uma música com voz. Apesar de ser um álbum bem instrumental, a última faixa é com canto. Fizemos contato com a família do compositor Humberto Mendes. Conversei com a viúva dele, que segue tocando o projeto de valorização cultural em São Luiz do Maranhão. Apresentei nosso projeto e ela deu uma autorização para fazermos essa versão de sua música”, explica Gabriel.
Mais do que documentar o esgotamento. LUGAR propõe um rito visual onde o colapso se curva em possibilidades fabulatórias e temporais, criando atravessamento entre falha, ruína e intervenção. O EP visual está disponível para todos assistirem no canal do Youtube do blog de música brasileira Hominis Canidae, que também irá lançar o EP nas plataformas de streaming através do seu selo virtual em breve (Por enquanto, apenas no bandcamp).
Para além da divulgação online, o trabalho audiovisual terá exibições presenciais em alguns espaços da cidade de Campos que aparecem nas filmagens. A equipe do EP Visual também planeja levar a obra às escolas públicas da região. Todas as exibições serão acompanhadas de um bate-papo sobre a proposta da música e da representação das imagens.
ASSISTA LUGAR, UM EP VISUAL NO YOUTUBE DO HOMINIS CANIDAE
Ficha técnica:
Vita Evangelista - Direção, roteiro, câmera e montagem
Gabriel Araújo - Trilha Sonora, Gravação
Jota Z - Ator e bailarino
Juliana Veiga - Produção
Remu Goitacá - Figurino
Felipe Lins Ferreira - Efeitos visuais
Sofia Arantes - Assistência de direção
Julia Ambrozini - Design gráfico
Diego Pessoa - Assessoria de Disseminação
Germano Godoy - Contabilidade
Humberto Mendes - Composição da obra cantada (“Pelo bem de todos”)
Ariel Machado - Audiodescrição
Felipe Mianes - Consultoria de audiodescrição
Morgana Mendes - Legendagem descritiva
Acompanhe Gabriel Araújo: Bandcamp | Instagram
Acompanhe Vita Evangelista: instagram Notícia distribuída pela saladanoticia.com.br. A Plataforma e Veículo não são responsáveis pelo conteúdo publicado, estes são assumidos pelo Autor(a):
DIEGO ARAUJO PESSOA DE ALBUQUERQUE
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