Odete Roitman não mentiu sobre o medo que os homens sentem das mulheres self-made

Fala sobre força feminina resgata um dilema contemporâneo onde quanto mais autônoma e bem-sucedida, mais solitária pode ser a trajetória das mulheres

GABRIELLE MONICE
08/08/2025 11h56 - Atualizado há 8 horas

Odete Roitman não mentiu sobre o medo que os homens sentem das mulheres self-made
Divulgação
No capítulo exibido essa semana no remake da novela Vale Tudo, Odete Roitman tenta convencer Raquel a abrir mão de seu relacionamento com Ivan. Durante a conversa, ela afirma que Raquel é uma "self-made woman", uma mulher que se fez sozinha, com talento e ascensão no mundo dos negócios. E alerta que esse tipo de mulher assusta os homens. A fala, embora ambientada na ficção, revela com exatidão um desconforto real.
Para a psicanalista Ana Lisboa, fundadora da UniAltis, essa cena apenas dá voz ao que muitas mulheres já percebem no cotidiano. “Quando uma mulher alcança autonomia, aumentam também as dificuldades em encontrar um parceiro emocionalmente disponível. Isso porque muitos homens ainda são educados para se sentirem superiores e, diante de uma mulher potente, se sentem ameaçados ou tentam rebaixá-la”, explica.
O cenário encontra respaldo em dados concretos. Um relatório da Morgan Stanley projeta que, até 2030, 45% por cento das mulheres americanas em idade ativa estarão solteiras e sem filhos. No Brasil, a tendência acompanha esse movimento. Segundo o IBGE, mais de 51% dos lares brasileiros já são chefiados por mulheres. Nas universidades, elas também são maioria. Segundo o Censo da Educação Superior, cerca de 57% dos estudantes matriculados no país são mulheres.
Apesar desses avanços, os relacionamentos seguem atravessados por desequilíbrios. A disparidade entre ambição feminina e maturidade emocional masculina tem criado um vazio afetivo difícil de preencher.
Ana explica que a mulher que constrói a própria história não procura alguém com mais dinheiro, mas alguém com presença, direção e iniciativa. “Ela não quer salvar nem ser salva. Deseja dividir a vida com alguém que também tenha sonhos e capacidade de caminhar ao lado”, enfatiza a psicanalista. Mas essa disposição ainda é rara. Muitas mulheres relatam frustrações com relacionamentos que não suportam profundidade, onde o brilho delas vira motivo de desconforto ou competição.
Essa dificuldade não está em escolher entre amor e sucesso. O problema é que o discurso de que mulheres "difíceis" espantam pretendentes continua presente. Em vez de respeito, elas recebem desdém. “Em vez de admiração, enfrentam resistência. E isso se repete em jantares de família, entrevistas de emprego, conversas casuais e aplicativos de relacionamento”, complementa.
O maior incômodo não é a mulher ser forte. É ela não precisar de ninguém para ser quem é. E quando o homem não consegue lidar com isso, recua, sabota ou foge. Para Ana Lisboa, essa é uma das dores mais relatadas pelas suas alunas solteiras. O desejo de se relacionar permanece, mas a disposição para aceitar tolerar presenças ausentes acabou.
“Ao dizer que Raquel é uma self-made woman e que isso afasta os homens, Odete Roitman talvez tentasse desestabilizar a rival, mas acabou revelando um fenômeno muito maior. O mundo ainda não sabe o que fazer com mulheres que chegaram lá por conta própria. E esse desconforto, mais do que machismo, é medo de um futuro em que as mulheres não pedem permissão nem aprovação. Porque o sucesso feminino continua sendo admirado por poucas pessoas e tolerado por menos ainda”, conclui Ana Lisboa.

Ana Lisboa @analisboa

Psicanalista, professora e CEO do Grupo Altis, Ana Lisboa é referência em saúde mental feminina, liderança com propósito e terapias sistêmicas. Fundadora da UniAltis, universidade reconhecida pelo MEC e dedicada à saúde emocional nas empresas, já impactou mais de 100 mil alunas em 72 países. Advogada, mestre em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Autónoma de Lisboa, pós-graduada em Neurociências, Psicologia Positiva, Direito do Trabalho e especialista em Terapia de Casais. Lidera o Movimento Feminino Moderno, maior comunidade de transformação emocional para mulheres.


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GABRIELLE MONICE GARCIA BITTENCOURT
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