Por Dr. Marcelo Müller — Médico-Veterinário especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, com mestrado em Pesquisa Clínica. Atua com foco em bem-estar animal e atendimento domiciliar.
Cães e gatos também sofrem com o luto. Descubra como identificar os sinais de tristeza após a morte de outro pet, entender a ciência por trás do luto animal e acolher esse processo com empatia, cuidado e orientação veterinária especializada.
Eles dividiam o sofá, os brinquedos e até o sol da manhã. E, de repente, o silêncio toma conta da casa. O que poucos tutores sabem é que cães e gatos realmente sentem a ausência de outro animal que faleceu — e sofrem com isso.
Durante meus atendimentos veterinários domiciliares, observo com frequência alterações emocionais e comportamentais significativas após a perda de um companheiro animal. Tristeza, apatia, recusa alimentar, vocalizações incomuns e distúrbios do sono são manifestações legítimas do luto, muitas vezes ignoradas por quem convive com o pet.
Estudos recentes, como os publicados no Journal of Veterinary Behavior e Anthrozoös, revelam que 66% dos cães apresentam alterações comportamentais claras após a perda de outro animal com quem conviviam. Nos gatos, o processo é igualmente intenso, embora mais discreto.
A WSAVA e a Organização Mundial da Saúde Animal (OMSA) já reconhecem a senciência — capacidade de sentir dor, prazer, medo e tristeza — como base essencial do bem-estar animal. Isso inclui também a vivência do luto.
Mudança alimentar
Falta de apetite
Desinteresse por petiscos favoritos
Busca pelo companheiro ausente
Cheirar locais habituais
Vocalizar diante da caminha vazia
Distúrbios de sono
Insônia ou sono em excesso
Mudança nos locais de descanso
Vocalizações atípicas
Miados longos, uivos melancólicos ou latidos fora do padrão
Alterações na interação social
Isolamento ou apego exagerado
Redução no interesse por atividades
Esses sinais não devem ser tratados como “manha” ou “frescura”. Eles indicam sofrimento emocional real e merecem atenção clínica.
Alimentação, passeios e interações em horários previsíveis trazem segurança emocional.
Brinquedos novos, estímulos leves e mudanças graduais no ambiente ajudam na adaptação.
Não introduza outro pet de forma precipitada.
Carinho, paciência e presença ativa fazem toda a diferença.
Se o comportamento não melhora em 2 a 4 semanas, procure orientação profissional.
Cada pet tem sua maneira de lidar com a perda. Introduzir outro animal cedo demais pode causar estresse ou rejeição.
Lembre-se: vínculos afetivos não são substituíveis. Um novo pet deve chegar para somar, não para ocupar o lugar de quem se foi.
A perda de um pet afeta toda a família — inclusive os outros animais da casa. Quando o luto é ignorado, o sofrimento se prolonga em silêncio. Mas quando é acolhido com empatia e cuidado veterinário, transforma-se em um processo de cura e fortalecimento do vínculo afetivo.
Cuidar da dor invisível de um pet enlutado é mais do que um dever clínico: é um gesto de respeito pela vida emocional desses companheiros que tanto nos ensinam sobre amor, lealdade e presença.
Dr. Marcelo Müller é médico-veterinário com mestrado em Pesquisa Clínica. É especializado em clínica médica e cirúrgica de pequenos animais, com atuação destacada em bem-estar animal e atendimento domiciliar. Defensor da medicina veterinária humanizada e centrada na senciência animal, oferece cuidado técnico e emocional para pets e suas famílias.
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PRISCILA GONZALEZ NAVIA PIRES DA SILVA
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